Cartaz para as eleições europeias com a imagem de Angela Merkel é visto vandalizado em Berlim, na Alemanha (Thomas Peter/Reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de maio de 2014 às 16h33.
Bruxelas - As vitórias surpreendentes de partidos nacionalistas e eurocéticos da França e da Grã-Bretanha nas eleições parlamentares europeias do fim de semana deixaram a União Europeia preocupada nesta segunda-feira e diante de um enorme dilema político.
Em todo o continente, partidos de extrema direita e esquerda mais do que duplicaram a sua representação, se aproveitando de uma onda de revolta contra Bruxelas por conta da austeridade, dos elevados níveis de desemprego e da imigração.
Embora a centro-direita e a centro-esquerda continuem a controlar mais da metade dos 751 assentos no Parlamento da UE, irão enfrentar um desafio inédito de insurgentes barulhentos determinados a mudar o status quo no bloco integrado por 28 nações.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, classificou o avanço da Frente Nacional, legenda anti-imigração e anti-euro dirigida por Marine Le Pen que liderou a votação francesa pela primeira vez e empurrou os socialistas para a terceira colocação, de um “terremoto” político.
Ele tentou se contrapor a ela de imediato oferecendo mais cortes de impostos para incentivar a cambaleante economia.
Do outro lado do Canal da Mancha, outro tremor despertou temores a respeito da presença britânica na UE no longo prazo. O Partido da Independência do Reino Unido (Ukip), de Nigel Farage, que advoga a saída imediata do seu país do bloco, derrotou o oposicionista Partido Trabalhista e o Partido Conservador do premiê David Cameron.
Os votos anti-UE aumentaram em muitos países por conta do baixo comparecimento – meros 43,1 por cento –, mas os centristas pró-Europa se mantiveram firmes na Alemanha, maior país-membro da UE e detentor do maior número de cadeiras, assim como na Itália e na Espanha.
A França é um dos Estados fundadores do bloco, e a fraqueza do presidente François Hollande deixa a chanceler alemã, Angela Merkel, sem um parceiro forte para a próxima leva de integrações, o que economistas dizem ser vital para fortalecer o euro, mas deixa os eleitores indiferentes.
“Vai se tratar mais de estimular políticas que ecoam nas pessoas”, disse Merkel depois que sua coalizão conservadora emergiu como a mais forte da Alemanha.
Na Grã-Bretanha, Cameron rejeitou o pedido de Farage por um referendo adiantado sobre uma saída da UE, atendo-se ao seu plano de renegociar os termos de novas adesões se for reeleito no ano que vem e empurrando um plebiscito sobre a permanência britânica no bloco para 2017.
O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, da centro-esquerda, contrariou a tendência de votação anti-UE, obtendo surpreendentes 41 por cento dos votos e derrotando o partido Movimento 5-Estrelas, do populista Beppe Grillo, por larga margem, e a Força Itália, do ex-premiê Silvio Berlusconi, ficou em um tímido terceiro lugar.
Na Grécia, epicentro da crise de débito da zona do euro, o movimento radical de esquerda e antiausteridade Syriza, de Alexis Tsipras, venceu o pleito, mas não conseguiu dar um golpe falta no governo do primeiro-ministro, Antonis Samaras.
Os dois partidos da coalizão, o Nova Democracia e o Pasok, obtiveram um resultado combinado maior que o do Syriza, e o analista político Theodore Couloumbis afirmou que a sobrevivência do governo não está em jogo, apesar da sua pequena maioria de dois assentos no Parlamento.
O partido anti-imigração de extrema direita Partido Popular venceu a eleição na Dinamarca, e a legenda de extrema direita Jobbik, amplamente acusada de racismo e antissemitismo, terminou em segundo lugar na Hungria.
Na Holanda, o eurocético e anti-islâmico Partido para a Liberdade, de Geert Wilders - que planeja uma aliança com Le Pen - teve um desempenho ruim, mas ainda terminou empatado em segundo lugar em termos de assentos atrás de um partido de oposição pró-europeu, de centro.