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Vítimas de abusos mostram indignação por discurso do papa após cúpula

Após a cúpula realizada no Vaticano, as vitimas consideraram que o pontífice não apresenta medidas concretas, apenas "frases feitas"

Protesto: ativistas dizem que as palavras do papa Francisco foram como "um tapa na cara" (Yara Nardi/Reuters)

Protesto: ativistas dizem que as palavras do papa Francisco foram como "um tapa na cara" (Yara Nardi/Reuters)

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EFE

Publicado em 24 de fevereiro de 2019 às 14h00.

Cidade o Vaticano — Algumas vítimas de abusos por parte do clero manifestaram neste domingo sua indignação e decepção pelas palavras do papa Francisco após a cúpula realizada no Vaticano, ao considerarem que o mesmo não apresenta medidas concretas, apenas "frases feitas".

O espanhol Miguel Hurtado, que denunciou abusos sexuais no passado por parte de um monge da abadia de Montserrat e é um dos porta-vozes da organização Ending Clergy Abuse (ECA), afirmou que as palavras do papa Francisco foram como "um tapa na cara".

"Hoje o papa Francisco deu um tapa na cara de todas as vítimas de pedofilia dos cinco continentes que vieram até Roma para exigir explicações", disse o psiquiatra e ativista ao término do discurso de Francisco.

Hurtado denunciou que metade do discurso do pontífice foi dedicada aos "abusos fora da Igreja".

"Nós fomos abusados dentro da Igreja, por sacerdotes católicos, por monges e professores católicos. Esperávamos uma resposta que o papa não nos deu", acrescentou o ativista.

A respeito dos oito pontos enumerados pelo papa para combater os casos de abusos a menores por parte dos membros da Igreja, Hurtado disse que "eram muito genéricos" e que falta "concretização".

Entre os pontos mencionados hoje pelo papa estava a necessidade de "defender os menores", o que exige "uma mudança na mentalidade para combater a atitude defensivo-reacionária de proteger a Igreja", nas palavras de Francisco.

Além disso, o pontífice assinalou que a Igreja tem que ter total "seriedade" na hora de abordar os casos e garantiu que "não se cansará de fazer tudo o que for necessário para levar à Justiça qualquer um que tenha cometido tais crimes".

Francisco também mencionou que é necessário mais cuidado na "seleção e formação dos candidatos ao sacerdócio".

"(O papa) não falou de entregar à Justiça os responsáveis, de entregar os documentos à magistratura e não os destruir como revelou um dos bispos, não disse que os responsáveis pelos abusos vão perder seus postos de trabalho, nem falou de indenizar economicamente as vítimas... Não colocou nenhuma medida sobre a mesa", lamentou Hurtado.

O ativista espanhol considerou que se o papa tivesse recebido os membros das associações de vítimas não teria feito um discurso tão lamentável.

Hurtado explicou que durante a reunião que as associações mantiveram com o comitê organizador foi entregue uma "agenda de mudanças" e "um plano de ação", mas, "como sempre, não fomos ouvidos", frisou.

O italiano Francesco Zanardi, presidente da Rede de Vítimas de seu país, também lamentou o fato de o papa ter pronunciado apenas "frases feitas" e que não falou sobre "procedimentos concretos, demissões de bispos, denúncias à magistratura".

Zanardi qualificou a reunião de três dias na qual participaram 190 líderes da Igreja Católica como uma grande "desilusão", assim como o discurso do papa.

O ativista italiano afirmou que "a campanha de tolerância zero anunciada pelo Vaticano se transformou em credibilidade zero". "O Vaticano aos olhos de meus colegas já não tem credibilidade", concluiu.

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