Venezuelanos vivem de doações em seu êxodo nos EUA
A Venezuela vive uma total escassez de produtos básicos, além de ter um dos índices de homicídio mais elevados do mundo e o país com a maior inflação do planeta
Da Redação
Publicado em 21 de junho de 2016 às 15h53.
Eles, que faziam parte da nova classe média venezuelana , agora percorrem os corredores de um galpão de móveis descartados em Miami atrás de um colchão, uma cadeira ou um jogo de pratos doados, mas muitos sequer têm onde morar.
"Que tristeza, não tem um de casal", lamenta Olimar Ramírez, que teve de se contentar com um colchão de solteiro para acomodar seus filhos.
Olimar é uma engenheira civil de 40 anos que faz parte da nova onda de migrantes venezuelanos que chegou a Miami com seu marido, três filhos e "nem um tostão no bolso".
"Com uma pequena poupança e porque Deus nos ajudou a achar passagens aéreas econômicas, conseguimos sair", conta à AFP. "Estamos dormindo no chão e passando necessidades".
Seu caso é muito parecido com o de dezenas de famílias que buscam nesse galpão - com muita vergonha - mesas, cadeiras, lençóis, panelas, talheres, colchões e brinquedos para as crianças.
Patricia Andrade é a organizadora dessa campanha de doações em El Doral, um reduto venezuelano em Miami.
"Os que vêm aqui são venezuelanos de classe média, mas que enfrentam um dólar de mercado negro (cotado pelo dobro do controlado pelo Estado) e que migraram por causa da situação desesperadora", afirma Andrade, presidente da fundação Venezuela Awareness.
A Venezuela vive uma total escassez de produtos básicos, além de ter um dos índices de homicídio mais elevados do mundo e o país com a maior inflação do planeta: 180,9% em 2015, cifra que em 2016 deverá atingir os 700%, segundo o FMI.
Nas últimas semanas, foram registrados protestos e tentativas de saque quase diários no país e as pessoas passam horas nas filas de supermercado e farmácia.
Enquanto isso, a oposição tenta convocar um referendo para revogar o mandato do presidente Nicolás Maduro (2013-2019).
Ondas migratórias
"Neste momento, experimentamos uma terceira onda migratória venezuelana", explica Eduardo Gamarra, professor de ciências políticas da Universidade Internacional da Flórida.
"É protagonizada, principalmente, por um segmento da classe média. Estão fugindo do colapso econômico e político", explica Gamarra, especializado em América Latina. "Possuem educação universitária, mas são assalariados que não têm grandes fontes de renda".
Em Miami e no Panamá - os dois principais destinos -, a migração venezuelana evoluiu de um perfil de investidores e empresários nos anos 1990 e 2000 ao da classe média empobrecida, que começou a chegar nesta década.
E continuará chegando à medida que "vá acelerando essa deterioração e decomposição social e econômica na Venezuela", assinala à AFP Felipe Chapman, sócio-diretor da empresa de assessoria econômica panamenha Indesa.
"Pelo menos há proteção, temos segurança. E a comida, bom, procuramos aqui, ali", comenta Luis Felce, um professor de marketing de 47 anos que migrou para Miami junto com a família com 700 dólares no bolso.
Luis, assim como Olimar, está pedindo asilo político.
No ano passado, 7.307 venezuelanos pediram asilo nos Estados Unidos, uma cifra quase 150% superior à do ano anterior, segundo os Serviços de Cidadania e Imigração americanos (USCIS).
Desde o início de 2014, a Venezuela ficou entre os dez países cujos cidadãos mais pedem asilo aos Estados Unidos, também segundo os USCIS.
Argentina, Chile e Colômbia
No Panamá, entre 2010 e abril de 2016, um quinto das permissões de residência emitidas pelo Serviço Nacional de Migração (80.948) foi para venezuelanos.
"A insegurança e a busca de oportunidades são os atrativos pelos quais o venezuelano vem para o Panamá e isso não podemos ignorar", admite o embaixador da Venezuela nesse país, Jorge Luis Durán Centeno.
Outros importantes destinos são Argentina, Chile e Colômbia.
Segundo a Direção Nacional de Migrações da Argentina, a cifra de venezuelanos que pediram residência aumentou 55,57% entre 2013 e 2014, a maior procura por nacionalidade.
Existem 15.000 venezuelanos vivendo na Argentina, a maioria de universitários de classe média. O mesmo acontece no Chile.
"É uma migração muito qualificada e cresceu bastante. Apenas entre 2014 e 2015 cresceu 194%", diz Rodrigo Sandoval, chefe do departamento de Estrangeiros do Chile.
Na Colômbia, a imigração venezuelana também está em ascensão, tendo aumentado 13% em 2015 em relação ao ano anterior, segundo o escritório de migrações desse país.
No total 329.478 venezuelanos chegaram Colômbia no ano passado.
Eles, que faziam parte da nova classe média venezuelana , agora percorrem os corredores de um galpão de móveis descartados em Miami atrás de um colchão, uma cadeira ou um jogo de pratos doados, mas muitos sequer têm onde morar.
"Que tristeza, não tem um de casal", lamenta Olimar Ramírez, que teve de se contentar com um colchão de solteiro para acomodar seus filhos.
Olimar é uma engenheira civil de 40 anos que faz parte da nova onda de migrantes venezuelanos que chegou a Miami com seu marido, três filhos e "nem um tostão no bolso".
"Com uma pequena poupança e porque Deus nos ajudou a achar passagens aéreas econômicas, conseguimos sair", conta à AFP. "Estamos dormindo no chão e passando necessidades".
Seu caso é muito parecido com o de dezenas de famílias que buscam nesse galpão - com muita vergonha - mesas, cadeiras, lençóis, panelas, talheres, colchões e brinquedos para as crianças.
Patricia Andrade é a organizadora dessa campanha de doações em El Doral, um reduto venezuelano em Miami.
"Os que vêm aqui são venezuelanos de classe média, mas que enfrentam um dólar de mercado negro (cotado pelo dobro do controlado pelo Estado) e que migraram por causa da situação desesperadora", afirma Andrade, presidente da fundação Venezuela Awareness.
A Venezuela vive uma total escassez de produtos básicos, além de ter um dos índices de homicídio mais elevados do mundo e o país com a maior inflação do planeta: 180,9% em 2015, cifra que em 2016 deverá atingir os 700%, segundo o FMI.
Nas últimas semanas, foram registrados protestos e tentativas de saque quase diários no país e as pessoas passam horas nas filas de supermercado e farmácia.
Enquanto isso, a oposição tenta convocar um referendo para revogar o mandato do presidente Nicolás Maduro (2013-2019).
Ondas migratórias
"Neste momento, experimentamos uma terceira onda migratória venezuelana", explica Eduardo Gamarra, professor de ciências políticas da Universidade Internacional da Flórida.
"É protagonizada, principalmente, por um segmento da classe média. Estão fugindo do colapso econômico e político", explica Gamarra, especializado em América Latina. "Possuem educação universitária, mas são assalariados que não têm grandes fontes de renda".
Em Miami e no Panamá - os dois principais destinos -, a migração venezuelana evoluiu de um perfil de investidores e empresários nos anos 1990 e 2000 ao da classe média empobrecida, que começou a chegar nesta década.
E continuará chegando à medida que "vá acelerando essa deterioração e decomposição social e econômica na Venezuela", assinala à AFP Felipe Chapman, sócio-diretor da empresa de assessoria econômica panamenha Indesa.
"Pelo menos há proteção, temos segurança. E a comida, bom, procuramos aqui, ali", comenta Luis Felce, um professor de marketing de 47 anos que migrou para Miami junto com a família com 700 dólares no bolso.
Luis, assim como Olimar, está pedindo asilo político.
No ano passado, 7.307 venezuelanos pediram asilo nos Estados Unidos, uma cifra quase 150% superior à do ano anterior, segundo os Serviços de Cidadania e Imigração americanos (USCIS).
Desde o início de 2014, a Venezuela ficou entre os dez países cujos cidadãos mais pedem asilo aos Estados Unidos, também segundo os USCIS.
Argentina, Chile e Colômbia
No Panamá, entre 2010 e abril de 2016, um quinto das permissões de residência emitidas pelo Serviço Nacional de Migração (80.948) foi para venezuelanos.
"A insegurança e a busca de oportunidades são os atrativos pelos quais o venezuelano vem para o Panamá e isso não podemos ignorar", admite o embaixador da Venezuela nesse país, Jorge Luis Durán Centeno.
Outros importantes destinos são Argentina, Chile e Colômbia.
Segundo a Direção Nacional de Migrações da Argentina, a cifra de venezuelanos que pediram residência aumentou 55,57% entre 2013 e 2014, a maior procura por nacionalidade.
Existem 15.000 venezuelanos vivendo na Argentina, a maioria de universitários de classe média. O mesmo acontece no Chile.
"É uma migração muito qualificada e cresceu bastante. Apenas entre 2014 e 2015 cresceu 194%", diz Rodrigo Sandoval, chefe do departamento de Estrangeiros do Chile.
Na Colômbia, a imigração venezuelana também está em ascensão, tendo aumentado 13% em 2015 em relação ao ano anterior, segundo o escritório de migrações desse país.
No total 329.478 venezuelanos chegaram Colômbia no ano passado.