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Venezuela pode ter emitido passaportes para terroristas, diz CNN

Ex-funcionário da embaixada da Venezuela no Iraque revelou esquema de venda de passaportes e vistos e disse ter alertado seu governo e até agentes do FBI

Tareck El Assami, vice-presidente da Venezuela, e Nicolás Maduro, presidente do país: CNN encontrou ligações de El Assami com emissão de documentos para o Oriente Médio (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Tareck El Assami, vice-presidente da Venezuela, e Nicolás Maduro, presidente do país: CNN encontrou ligações de El Assami com emissão de documentos para o Oriente Médio (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 9 de fevereiro de 2017 às 10h41.

Última atualização em 9 de fevereiro de 2017 às 10h47.

São Paulo – A Venezuela pode ter emitido passaportes e vistos em nome de pessoas ligadas a organizações terroristas. A revelação foi divulgada nesta manhã pela rede de notícias americana CNN, após uma investigação jornalística que durou um ano e que foi conduzida nos Estados Unidos, na Espanha, na Venezuela e no Reino Unido.

As informações chegaram até a rede de notícias por meio do testemunho de Misael Lopez, um ex-funcionário da embaixada do país no Iraque. De acordo com seu relato, autoridades venezuelanas foram alertadas acerca do esquema milionário de venda de passaportes e vistos diversas vezes. Oficiais dos Estados Unidos também teriam sido avisados.

Um documento obtido pela CNN durante a sua investigação ainda traz à tona possíveis ligações do vice-presidente da Venezuela, Tareck El Aissami, à emissão de ao menos 173 passaportes e identidades do país para pessoas do Oriente Médio.

Algumas dessas pessoas seriam relacionadas ao grupo libanês Hezbollah, que é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos. A União Europeia, por sua vez, considera apenas o braço militar do grupo como tal, mas não o partido político. 

Esquema

Lopez conta que seu primeiro contato com o esquema aconteceu em 2013, logo que chegou para assumir um posto na embaixada da Venezuela na capital Bagdá. Lá, recebeu um envelope das mãos do embaixador Jonathan Velasco contendo 1 milhão de dólares e a informação de que havia pessoas dispostas a pagar milhões por um passaporte ou um visto para deixar o país.

As suas suspeitas acerca do esquema se confirmaram pouco depois, quando uma funcionária iraquiana quis dividir com ele uma oferta de venda de vistos para 13 cidadãos sírios por 10 mil dólares cada. “Suspeitei que eram terroristas e declinei”, contou à CNN.

A partir daí, passou a investigar sozinho, coletando provas e anotações de tudo o que encontrava pelo caminho. Em 2014, entregou o dossiê ao embaixador. Em troca, foi ameaçado de demissão.

Contou ter ainda ter avisado Dercy Rodriguez, ministra das Relações Exteriores da Venezuela. Nada aconteceu. Em Madri (Espanha), repassou o que tinha para agentes do FBI baseados na embaixada americana no país, que teriam enviado o material para os Estados Unidos. Novamente, nenhuma repercussão.

Lopez foi então acusado de ter abandonado o seu posto no Iraque e investigado pelo governo venezuelano por ter “revelado documentos confidenciais”. Hoje baseado na Espanha, o ex-funcionário contou estar preocupado por sua segurança e de sua família.

À reportagem da CNN, Velasco negou as informações e o FBI declinou comentar o que, afinal, aconteceu com o material repassado por Lopez aos seus agentes.

Novidade?

Embora revelado pela CNN nesta semana, o esquema de venda de passaportes e vistos por oficiais do governo venezuelano não é exatamente desconhecido. Segundo mostrou a reportagem, em 2006, uma investigação do Congresso do país alertou que “a Venezuela está dando suporte, incluindo documentos que podem ser úteis para grupos radicais islâmicos”.

Passaporte venezuelano

De acordo com uma análise conduzida pela consultoria Henley & Partners, que produz um estudo anual que mostra os passaportes mais poderosos do mundo, um passaporte da Venezuela dá ao seu portador o direito de entrar sem visto em ao menos 121 países. Incluindo países membros da União Europeia.

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