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Venezuela: oposição denuncia prisão de dois dirigentes e diz que "escalada de repressão deve parar"

William Dávila e Américo De Grazia foram detidos em incidentes separados; mais de uma centena de opositores foram detidos durante o período eleitoral venezuelano

Venezuelan opposition leader Maria Corina Machado waves from atop a truck during a demonstration to protest over the presidential election results, in Caracas on August 3, 2024. Venezuela braced for fresh protests after President Nicolas Maduro's disputed election victory was ratified on the eve -- and a growing number of nations recognized his opposition rival as the true winner (JUAN BARRETO/AFP)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 9 de agosto de 2024 às 12h57.

Última atualização em 9 de agosto de 2024 às 13h25.

Os ex-deputados e dirigentes opositores William Dávila e Américo De Grazia foram detidos em incidentes separados na Venezuela, anunciou a oposição na noite desta quinta-feira. Ao Correo del Caroní, a filha deste último disse que o pai estava sendo ameaçado desde as eleições de 28 de julho, quando o líder venezuelano Nicolás Maduro teve sua reeleição anunciada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) — resultado amplamente questionado pela comunidade internacional.

De Grazia decidiu ir à capital, Caracas, em busca de abrigo. Lá, ele ficou hospedado num apartamento emprestado. Na madrugada desta quarta, ele comunicou aos familiares que iria a uma consulta médica e, depois disso, não mandou mais notícias. Vizinhos alertaram que seu veículo não foi mais visto, e seu telefone permanecia desligado. Foi somente 24 horas mais tarde que a filha de De Grazia, María Andreína, disse ter descoberto que ele estava no Helicoide (sede do Serviço de Inteligência).

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"Não sabemos quais são as acusações contra ele, não há uma ordem de captura contra meu pai, não temos prova de vida, não sabemos em que condições ele está", diz María de Grazia em vídeo nas redes sociais. As circunstâncias da detenção do opositor não estão claras.

O ex-deputado William Dávila, por sua vez, foi preso ao finalizar uma vigília para pedir pelos "presos políticos" numa praça de Caracas, segundo a oposição. Em nota, a Plataforma de Unidade Democrática (PUD) disse que "esta escalada de repressão e perseguição deve parar". Mais de uma centena de ativistas da oposição foram detidos durante o período eleitoral na Venezuela, e a líder opositora, María Corina machado, denunciou o que chamou de "repressão em massa".

Na semana passada, após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano declarar a reeleição de Maduro, o Centro Carter, um dos poucos observadores internacionais do processo eleitoral na Venezuela, afirmou que a eleição presidencial no país não atendeu aos padrões de imparcialidade democrática. Com base em 80% das urnas apuradas, o CNE disse queMaduro obteve 51,2% dos votos contra 44,2% de González Urrutia. A oposição, no entanto, anunciou pouco depois que o diplomata derrotou Maduro por ampla margem (67% contra 30%).

Nesta quinta-feira, o Centro Carter disse que as atas eleitorais coletadas pela oposição são "consistentes". À Folha, o órgão afirmou que o candidato opositor venceu de maneira clara e "por uma margem intransponível". A organização declarou que os resultados apresentados pelos opositores consistem com uma amostra de dados coletados por seus observadores em campo no dia da votação. Com isso, o Centro Carter garantiu que "não há dúvidas" da vitória real da oposição.

"O chavismo está impregnado no Estado venezuelano de tal forma que está presente nas instituições que deveriam ser independentes", disse Ian Batista, analista eleitoral na missão de observação do Centro Carter. — Não há instituições que poderiam balancear os poderes. A Constituição prega algum nível de independência, mas como o chavismo está impregnado em todos os lugares, eles controlam todos os altos cargos.

Sete países europeus, incluindo a Espanha, uniram-se aos EUA, Noruega, Colômbia, México, Brasil e outros que exigem do chavismo a divulgação pública das atas oficiais de todas as mesas de votação. As divergências entre o governo venezuelano e a oposição desataram em alguns dias de protestos no país, que estimularam uma repressão que deixou estimados entre mil e 2 mil presos e 24 mortos.

Apesar da pressão internacional — e de declarações como a do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que afirmou ser "importante" uma "solução pacífica" na nação vizinha —, nesta quarta o Ministério Público (MP) da Venezuela abriu uma investigação penal contra María Corina e González. A ação foi criticada pelo embaixador dos EUA na Organização dos Estados Americanos (OEA), que disse que Maduro enfrentará uma reação "inimaginável" se prender os opositores.

Na quarta, a Argentina ratificou o reconhecimento de Edmundo González como o "vencedor indiscutível" das eleições presidenciais venezuelanas e condenou a "detenção arbitrária" de membros da oposição. O texto emitido pelo Ministério das Relações Exteriores do país pedia ainda o "pronto restabelecimento" do fornecimento de eletricidade à Embaixada argentina em Caracas, que, segundo o governo, está "interrompido há mais de uma semana".

Desde março, seis opositores, cinco deles integrantes do núcleo duro da campanha da líder María Corina, estão refugiados no edifício depois de terem sido alvos de mandatos de prisão pelo suposto planejamento de um "golpe de Estado" denunciado pelo Ministério Público. Após a saída dos diplomatas argentinos da Venezuela, expulsos pelo governo Maduro, eles estão sob custódia da diplomacia brasileira, que assumiu as funções da missão argentina.

Manifestações na Venezuela após eleição de Maduro

Com AFP e El País

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