Venezuela inicia ‘ação defensiva’ em meio à chegada de navio de guerra na Guiana
Segundo Caracas, presença da embarcação do Reino Unido para exercícios de defesa na região viola o compromisso firmado com Georgetown para que se evite um conflito militar
Redação Exame
Publicado em 28 de dezembro de 2023 às 16h20.
Última atualização em 28 de dezembro de 2023 às 16h35.
Mais de 5,6 mil soldados da Venezuela participam, a partir desta quinta-feira, de exercícios militares ordenados pelo presidente Nicolás Maduro como "resposta à provocação e ameaça do Reino Unido". O país enviou um navio de guerra para a Guiana, ex-colônia do Império Britânico, em meio ao acirramento de uma centenária disputa pela região de Essequibo, onde grandes reservas de petróleo foram encontradas nos últimos anos.
"Ordenei a ativação de uma ação conjunta de toda a Força Armada Nacional Bolivariana no Caribe Oriental da Venezuela, na fachada atlântica, uma ação conjunta de natureza defensiva e em resposta à provocação e à ameaça do Reino Unido contra a paz e a soberania do nosso país", disse Maduro, em rede de rádio e televisão.
"Exercícios de defesa"
Uma fonte do Ministério das Relações Exteriores da Guiana disse à AFP que o navio britânico "HMS Trent" chegará às suas costas na sexta-feira e ficará em seu território por "menos de uma semana" para exercícios de defesa em alto-mar. Não há previsão de atracação em Georgetown. No domingo passado, o Reino Unido anunciou que a embarcação seguiria para a ex-colônia britânica para participar de exercícios militares antes do fim do ano.
A primeira fase dos exercícios militares venezuelanos envolveu 5.682 caças, de acordo com a transmissão, que mostrou aviões de guerra patrulhando a área e a chamada de rádio "papel de combate". Os caças russos F-16 e Sukhoi participaram, assim como navios, barcos de patrulha oceânicos e veículos anfíbios.
Mais cedo, o governo venezuelano havia exigido "ações imediatas" para a retirada de um navio de guerra britânico da costa da Guiana. "A Venezuela rejeita, de maneira categórica, a chegada do navio da Marinha britânica 'HMS Trent' à costa da Guiana, o que se torna um ato de provocação hostil", afirmou o governo em um comunicado oficial.
"A presença do navio militar é extremamente grave", razão pela qual "a Venezuela insta as autoridades da Guiana a tomarem ações imediatas para a retirada do navio 'HMS Trent' e a se absterem de continuar envolvendo potências militares na controvérsia territorial", acrescentou o texto
"Acreditamos na diplomacia, no diálogo, na paz", disse Maduro. "Mas ninguém deve ameaçar a Venezuela, ninguém deve se meter com a Venezuela. Somos homens de paz, somos um povo de paz, mas somos guerreiros e essa ameaça é inaceitável para qualquer país soberano (...), a ameaça do decadente, podre, ex-Império do Reino Unido é inaceitável. Nós não a aceitamos".
Apoio britânico à Guiana
Em 18 de dezembro, o diplomata-chefe do Reino Unido nas Américas, David Rutley, reafirmou o apoio do governo britânico à Guiana em uma reunião em Georgetown com Ali.
As tensões entre os dois países escalaram após a realização de um referendo sobre a soberania de Essequibo, em 3 de dezembro, na Venezuela, o que gerou temores de um conflito armado entre vizinhos.
A chegada do HMS Trent rompe uma frágil trégua entre os dois países após uma reunião em São Vicente e Granadinas entre Maduro e o presidente guianense, Irfaan Ali, na qual ambos se comprometeram a não escalar para um conflito militar. Segundo Caracas, a chegada da embarcação viola o compromisso estabelecido no encontro.
A Venezuela afirma que Essequibo, região de 160 mil km² rica em recursos naturais, faz parte de seu território como era em 1777, quando era colônia da Espanha. O país apela ao Acordo de Genebra, assinado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, que assentava as bases para uma solução negociada. A Guiana, por outro lado, se atém a um laudo arbitral de Paris de 1899, no qual foram estabelecidas as fronteiras atuais, que Georgetown pede que seja ratificado pela Corte Internacional de Justiça (CIJ).
O "HMS Trent" foi destacado para o Caribe para combater o tráfico internacional de drogas no início de dezembro, embora costume operar no Mar Mediterrâneo. Não pretende atracar em Georgetown, mas sim realizar exercícios em mar aberto.
O Ministério britânico da Defesa não confirmou a chegada do navio às águas guianenses, mas informou, em um comunicado recente, que o navio cumpriria "uma série de compromissos na região".