Exame Logo

Vários partidos pedem repetição de eleições no Paquistão

Depois dos protestos, vários partidos pediram a repetição das eleições realizadas no último dia 25 no Paquistão por suposta fraude

O anuncio foi feito após a reunião de vários partidos como a Liga Muçulmana do Paquistão (PML-n) do ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif. (Fayaz Aziz/Reuters)
A

AFP

Publicado em 27 de julho de 2018 às 15h19.

Última atualização em 27 de julho de 2018 às 19h36.

Um grupo de partidos políticos paquistaneses rejeitou nesta sexta-feira (27) a vitória anunciada oficialmente, segundo resultados parciais, do ex-jogador de críquete Imran Khan, e anunciaram protestos para pedir novas eleições.

O Pakistan Tehreek-e-Insaf (PTI), de Kahn, obteve pelo menos 116 assentos, muito mais que seus adversários, que não podiam mais alcançá-lo, segundo resultados parciais publicados pela Comissão Eleitoral Paquistanesa (ECP), quando resta apenas atribuir um punhado de cadeiras.

Veja também

Imran Khan, candidato bem visto pelo poderoso exército paquistanês, proclamou-se na quinta-feira vencedor destas eleições, marcadas por várias acusações de fraude e uma apuração extremamente lenta.

Uma dúzia de partidos, entre eles o até agora governista Liga Muçulmana do Paquistão-Nawaz (PML-N), anunciaram um movimento de protesto após uma reunião.

"Iniciaremos um movimento para pedir novas eleições . Haverá protestos", explicou Maulana Fazalur Rehman, desta Conferência de Partidos.

Rehman pertence ao partido religioso Jamiat Ulema-e-Islam (JUI-F).

Durante décadas, o Paquistão foi governado em alternância pelo PML-N e pelo Partido Popular Paquistanês (PPP).

O PML-N contará com 63 assentos e o PPP de Bilawal Bhutto-Zardari, com 43, segundo os resultados parciais.

A missão de observação da União Europeia deu conta, em seu informe preliminar, de uma "falta notável de igualdade e de oportunidades" nas eleições. "O processo eleitoral de 2018 não está à altura do de [as legislativas] de 2013", considerou o encarregado da missão, Michael Gahler.

A polêmica acompanha uma campanha que muitos observadores consideraram uma das mais sujas da história do país por causa das supostas manipulações do poderoso exército paquistanês a favor de Khan.

Necessidade de alianças

Embora tenha registrado um resultado melhor que o esperado, o PTI de Kahn não poderá mais obter a maioria (137 assentos) necessária para formar governo. Terá, pois, que buscar aliados entre os deputados independentes ou formar uma coalizão com outros partidos.

Para o analista Talat Masood, isto não deveria ser complicado. "Não acho que haja problemas com relação a isto. Os independentes sabem que o 'establishment' [militar] tem boa disposição com Khan", declarou à AFP.

Segundo a especialista Ayesha Siddiqa, subestimou-se a popularidade de Khan junto à classe média, em plena ascensão.

Uma ONG paquistanesa, a Rede para Eleições Livres e Justas (FAPEN), que mobilizou 20.000 observadores, fez uma avaliação globalmente favorável.

"O dia da votação foi mais bem gerenciado, foi relativamente pacífico e sem grande polêmica até a noite, quando surgiram inquietações sobre a transparência do escrutínio", declarou à imprensa seu secretário-geral, Sarwar Bari.

No entanto, Washington compartilha as conclusões dos observadores europeus, indicou o Departamento de Estado, segundo as quais, "as evoluções positivas do marco jurídico foram ofuscadas" por "uma falta notável de igualdade de oportunidades nas eleições".

E embora o Departamento de Estado tenha expresso suas "inquietações pelas irregularidades" na campanha eleitoral, Washington se declarou disposto a trabalhar com o futuro governo.

Em sua reivindicação de vitória na noite de quinta-feira, Khan, que se mostrou então seguro de si, adotou um tom conciliador e marcado por referências religiosas.

"Tivemos êxito e recebemos um mandato", declarou Irman Khan, de 65 anos, desestimando as acusações de fraude. As eleições de quarta-feira foram "as mais justas e as mais transparentes" da história do Paquistão, afirmou.

Khan prometeu forjar um "novo Paquistão" e um "Estado de bem-estar islâmico", assim como lutar contra o "câncer" da corrupção e contra a pobreza.

O papel dos militares

Mas para os analistas, as circunstâncias nas quais foi realizada a campanha eleitoral e o voto lançam uma sombra sobre a legitimidade dos resultados e pode gerar instabilidade.

"Ninguém pode governar de forma eficaz quando metade do país acredita que chegou ao poder depois de uma manipulação dos militares e da justiça ao invés do voto do povo", avaliou um ex-diplomata, Hussain Haqani.

As eleições de quarta-feira, realizadas sob forte medidas de segurança, constituíam uma incomum transição democrática entre dois governos civis neste jovem país, marcado por golpes de Estado militares.

Potência nuclear, o Paquistão foi dirigido pelas Forças Armadas durante quase a metade de seus 71 anos de história.

Acompanhe tudo sobre:EleiçõesPaquistãoProtestos no mundo

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mundo

Mais na Exame