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Vaias a Zuma refletem desilusão dos sul-africanos

O Congresso Nacional Africano (ANC, nas siglas em inglês), partido no poder desde 1994, continua sendo a principal força política do país

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Da Redação

Publicado em 10 de dezembro de 2013 às 17h26.

As vaias recebidas pelo presidente sul-africano Jacob Zuma, nesta terça-feira, durante a cerimônia em homenagem a Nelson Mandela , refletem a desilusão da população, 19 anos depois das grandes esperanças que nasceram quando "Madiba" se tornou o primeiro presidente negro do país.

O Congresso Nacional Africano (ANC, nas siglas em inglês), partido no poder desde 1994, continua sendo a principal força política do país. Todos os analistas preveem uma ampla vitória do ANC nas eleições gerais de abril do ano que vem.

A incapacidade para superar os principais desafios posteriores ao apartheid - principalmente nos setores de emprego, educação e moradia - e vários casos de corrupção e abuso de poder reduziram, porém, o crédito do chamado "Partido da Libertação".

O sul-africano Phumzile Vilakaza deixou o estádio antes que o presidente Jacob Zuma terminasse seu discurso. "Eu não o escuto. Ele deveria pensar em nós, aqui. Estamos fartos dos impostos que aumentam, dos pedágios nas estradas, dos preços da comida que sobem, enquanto a maioria de nós não tem trabalho", criticou.

"As pessoas dizem que Zuma é corrupto", disse Themba Nkunzana, antigo membro do CNA, que deixou o partido quando o presidente assumiu o poder. Jacob Zuma "tirou 200 milhões (de rands) dos caixas do Estado para sua casa", completou.

O tema da residência particular do presidente, reformada às custas do Estado por mais de 200 milhões de rands (cerca de 14 milhões de euros), foi um escândalo que abalou a imagem pessoal de Zuma, presidente de um país onde milhões ainda vivem em bairros muito pobres, sem água, luz, ou saneamento básico.

"Nosso presidente atual se aproveita, junto com sua família, enquanto que 'Madiba' trabalhava para o povo", afirmou Shadreck Monnakgotla. "É por esse escândalo, porque gasta dinheiro para construir casas para todas as suas mulheres", denunciou Ella Mokone, referindo-se à poligamia do presidente.

Hoje, Zuma vive com quatro esposas. O presidente também é criticado por proteger alguns de seus ministros oficialmente acusados de corrupção.

A África do Sul "ainda está muito longe da sociedade que Mandela tinha em mente", reconhece Frans Cronje, do Instituto Sul-Africano de Relações entre as Raças (SAIRR), observatório pioneiro sobre a transformação do país.

"Quatro em cada dez sul-africanos negros não terminam os estudos. Claramente, não é o que Mandela imaginava. E quando conseguem, não estão no nível das exigências do sistema econômico", acrescentou.

Há duas décadas, a distribuição econômica não coincide mais apenas com a cor da pele, mas a grande maioria da população sofre com o desemprego e a pobreza.

Alguns esforços foram feitos para melhorar a qualidade de vida nos municípios negros e construir mais de um milhão de casas populares. Além disso, a legislação prioriza a contratação de pessoas negras. Mas a situação continua precária. Cerca de 20% dos lares não têm água encanada, e 10% vivem sem luz, em um país onde abundam as piscinas e cercas elétricas nos bairros chiques.

Quase 100% dos mais pobres são negros - isso não mudou. Números de 2010 mostravam, porém, que entre os mais abastados 19% são negros - os famosos "diamantes negros" -, contra 3% dez anos antes. O mesmo estudo revela que 65% dos mais ricos são brancos. Em 2009, pouco antes de se aposentar, Mandela admitiu, indiretamente, seu principal fracasso: "Precisamos nos lembrar de que nossa principal tarefa é erradicar a pobreza e garantir uma vida melhor para todos".

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As vaias recebidas pelo presidente sul-africano Jacob Zuma, nesta terça-feira, durante a cerimônia em homenagem a Nelson Mandela , refletem a desilusão da população, 19 anos depois das grandes esperanças que nasceram quando "Madiba" se tornou o primeiro presidente negro do país.

O Congresso Nacional Africano (ANC, nas siglas em inglês), partido no poder desde 1994, continua sendo a principal força política do país. Todos os analistas preveem uma ampla vitória do ANC nas eleições gerais de abril do ano que vem.

A incapacidade para superar os principais desafios posteriores ao apartheid - principalmente nos setores de emprego, educação e moradia - e vários casos de corrupção e abuso de poder reduziram, porém, o crédito do chamado "Partido da Libertação".

O sul-africano Phumzile Vilakaza deixou o estádio antes que o presidente Jacob Zuma terminasse seu discurso. "Eu não o escuto. Ele deveria pensar em nós, aqui. Estamos fartos dos impostos que aumentam, dos pedágios nas estradas, dos preços da comida que sobem, enquanto a maioria de nós não tem trabalho", criticou.

"As pessoas dizem que Zuma é corrupto", disse Themba Nkunzana, antigo membro do CNA, que deixou o partido quando o presidente assumiu o poder. Jacob Zuma "tirou 200 milhões (de rands) dos caixas do Estado para sua casa", completou.

O tema da residência particular do presidente, reformada às custas do Estado por mais de 200 milhões de rands (cerca de 14 milhões de euros), foi um escândalo que abalou a imagem pessoal de Zuma, presidente de um país onde milhões ainda vivem em bairros muito pobres, sem água, luz, ou saneamento básico.

"Nosso presidente atual se aproveita, junto com sua família, enquanto que 'Madiba' trabalhava para o povo", afirmou Shadreck Monnakgotla. "É por esse escândalo, porque gasta dinheiro para construir casas para todas as suas mulheres", denunciou Ella Mokone, referindo-se à poligamia do presidente.

Hoje, Zuma vive com quatro esposas. O presidente também é criticado por proteger alguns de seus ministros oficialmente acusados de corrupção.

A África do Sul "ainda está muito longe da sociedade que Mandela tinha em mente", reconhece Frans Cronje, do Instituto Sul-Africano de Relações entre as Raças (SAIRR), observatório pioneiro sobre a transformação do país.

"Quatro em cada dez sul-africanos negros não terminam os estudos. Claramente, não é o que Mandela imaginava. E quando conseguem, não estão no nível das exigências do sistema econômico", acrescentou.

Há duas décadas, a distribuição econômica não coincide mais apenas com a cor da pele, mas a grande maioria da população sofre com o desemprego e a pobreza.

Alguns esforços foram feitos para melhorar a qualidade de vida nos municípios negros e construir mais de um milhão de casas populares. Além disso, a legislação prioriza a contratação de pessoas negras. Mas a situação continua precária. Cerca de 20% dos lares não têm água encanada, e 10% vivem sem luz, em um país onde abundam as piscinas e cercas elétricas nos bairros chiques.

Quase 100% dos mais pobres são negros - isso não mudou. Números de 2010 mostravam, porém, que entre os mais abastados 19% são negros - os famosos "diamantes negros" -, contra 3% dez anos antes. O mesmo estudo revela que 65% dos mais ricos são brancos. Em 2009, pouco antes de se aposentar, Mandela admitiu, indiretamente, seu principal fracasso: "Precisamos nos lembrar de que nossa principal tarefa é erradicar a pobreza e garantir uma vida melhor para todos".

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