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Vacinas, crise, exportações: 5 coisas para saber sobre Cuba

As remessas vindas do exterior são a segunda fonte de divisas de Cuba, depois da exportação de serviços médicos. O país teve protestos inéditos contra o governo

Manifestantes protestam contra o governo cubano em Havana: PIB do país caiu 11% em 2020 em meio à pandemia (Alexandre Meneghini/Reuters)

Manifestantes protestam contra o governo cubano em Havana: PIB do país caiu 11% em 2020 em meio à pandemia (Alexandre Meneghini/Reuters)

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AFP

Publicado em 12 de julho de 2021 às 16h39.

Maior ilha das Antilhas, Cuba teve nesse domingo, 11, protestos sem precedentes contra o governo, que questionam a crise econômica em meio ao coronavírus.

A ilha é um dos últimos países comunistas do mundo, e enfrenta até hoje um embargo dos Estados Unidos herdado da Guerra Fria, mesmo após mais de três décadas do fim do conflito com os soviéticos.

Veja abaixo alguns dos principais fatos e discussões sobre o país.

1. A maior das Antilhas

O contato oficial de Cuba com os europeus começa após a chegada de Cristóvão Colombo em 1492. A ilha se tornou então colônia espanhola e só conquistou a independência em 1902.

Cuba é a maior ilha do Caribe, região muito pobre e desigual na América Central, com uma área de 110.860 km² e 11,2 milhões de habitantes.

Como em outros países da região, os primeiros séculos de colonização em Cuba tiveram comunidades indígenas dizimadas e mão de obra africana trazida para trabalhar no plantio de cana de açúcar. A escravidão foi abolida em 1886, pouco antes da independência.

2. 60 anos dos Castro

Em 1º de janeiro de 1959, o ditador Fulgencio Batista, que estava no poder desde 1952 após um golpe de Estado, foi derrubado por revoltosos comandados por Fidel Castro. Castro estabeleceu uma República Socialista dois anos depois.

Antes disso, Cuba havia tido presidentes alinhados aos EUA e que aceitavam condições desvantajosas nas negociações com os americanos do norte, postura criticada por parte da população e pelo grupo de Fidel Castro.

Os Estados Unidos romperam relações diplomáticas com Havana em 1961 e apoiaram uma tentativa fracassada de invasão para derrubar Castro na Baía dos Porcos. No ano seguinte, a descoberta de mísseis soviéticos em Cuba — que está localizada a cerca de 150 km ao sul dos Estados Unidos — desencadeou o que é considerada a pior crise nuclear da Guerra Fria.

No mesmo ano de 1962, Washington impôs um estrito embargo econômico à ilha, ainda em vigor.

Em 31 de julho de 2006, Fidel Castro, doente, pediu a seu irmão Raúl que o substituísse no comando do Estado. Em fevereiro de 2008, Raúl Castro tornou-se oficialmente presidente.

Em abril de 2011, Raúl assumiu a liderança do Partido Comunista de Cuba (PCC), o partido único, fundado em 1965. Fidel morreu em novembro de 2016.

Agora, uma nova geração assumiu o governo de Cuba com Miguel Díaz-Canel, presidente desde 2018 e primeiro-secretário do Partido Comunista desde abril de 2021, após a aposentadoria de Raúl Castro.

No domingo, oprimidos pela crise econômica e de saúde agravada pela covid-19, milhares de cubanos se manifestaram em dezenas de cidades, uma mobilização sem precedentes em Cuba.

Raúl Castro (à dir.) e o presidente cubano Miguel Díaz-Canel: pupilo é o primeiro mandatário já nascido após a revolução (Alexandre Meneghini)

3. Embargo, capacidade de “resolver” e charutos

O embargo permanente dos Estados Unidos fez com que seus habitantes se tornassem especialistas em "resolver", como Cuba chama a capacidade de obter coisas em meio à escassez, seja por meio de reciclagem, conserto e assim por diante.

Privada de subsídios soviéticos desde a desintegração da URSS em 1990, a ilha tornou-se altamente dependente da Venezuela, um fornecedor de petróleo em condições privilegiadas, pago com serviços médicos.

Mas Caracas enfrenta uma crise muito séria e também está sujeita ao embargo dos Estados Unidos. Assim, a China assumiu em 2017 o seu lugar como o maior parceiro comercial de Cuba.

A economia cubana caiu 11% em 2020, seu maior colapso em quase 30 anos, com a ausência de turistas devido à pandemia e o endurecimento do embargo dos Estados Unidos sob mandato do ex-presidente Donald Trump (2017-2021), após um breve degelo das relações durante a gestão de seu antecessor, Barak Obama, que motivou o restabelecimento das relações diplomáticas.

Cuba é abalada por manifestações inéditas contra o governo

Ruas em Cuba: abalada por manifestações inéditas contra o governo (YAMIL LAGE/AFP)

O tabaco, com seus famosos charutos cubanos, níquel, açúcar, mariscos, remédios e serviços médicos - especialmente o envio de médicos cubanos para o exterior - são os principais produtos de exportação cubanos.

As remessas vindas do exterior são a segunda fonte de divisas de Cuba, depois da exportação de serviços médicos.

Nos últimos meses, uma crise energética também ajudou a piorar a situação econômica dos cubanos, sendo parte da motivação dos protestos deste fim de semana.

4. Abertura econômica

Raúl Castro iniciou reformas para "atualizar" um modelo econômico esgotado, inspirado no soviético. Permitiu o pequeno empreendedorismo privado e maior abertura ao investimento estrangeiro, sempre preservando as "conquistas do socialismo" em uma economia ainda controlada pelo Estado.

A chegada da internet móvel (3G) no final de 2018 permitiu a expressão de um descontentamento social sem precedentes em Cuba.

Nos últimos meses, o governo implementou pequenas medidas visando modernizar a economia. No início deste ano, Cuba unificou suas duas moedas locais com o objetivo de tornar sua economia mais eficiente e mais clara para os investidores estrangeiros.

O governo também decidiu abrir a maioria das atividades econômicas ao setor privado (exceto em áreas-chave como imprensa, saúde e educação).

5. Vacinas próprias e coronavírus

Cuba, que começou a projetar e produzir suas próprias vacinas na década de 1980, está desenvolvendo cinco vacinas candidatas contra covid-19, as mais avançadas batizadas de Abdala e Soberana 2.

O país acaba de autorizar neste mês o uso emergencial da Abdala, primeira vacina anticovid criada na América Latina. O governo cubano espera vacinar toda a população até o fim do ano com três doses da vacina.

 

Com 11 milhões de habitantes, a ilha teve pouco mais de 56.000 casos de covid-19 e 1.500 mortes. Nos últimos dias, disparou o número de casos e mortes diárias (que passou de 20 vítimas por dia na semana passada), levando a hospitais lotados em algumas províncias do país. 

Segundo os dados do governo, 27% da população foi vacinada com uma dose e 15% está totalmente vacinada. A vacinação começou em maio, ainda antes da aprovação das vacinas.

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