Uruguaios elegerão sucessor de Mujica no domigo
Um total de 2,6 milhões de uruguaios estão habilitados a eleger presidente, 30 senadores e 99 deputados que integram o Parlamento
Karla Mamona
Publicado em 25 de outubro de 2014 às 18h33.
Os uruguaios vão às urnas neste domingo para eleger o sucessor do popular José Mujica em eleições nas quais a única certeza parece ser que a esquerda no poder será a força mais votada, embora possa perder a Presidência no segundo turno.
Um total de 2,6 milhões de uruguaios estão habilitados a eleger presidente, 30 senadores e 99 deputados que integram o Parlamento, além de se pronunciar sobre um plebiscito para reduzir a 16 anos a maioridade penal.
Mas, segundo todas as pesquisas, nenhum dos candidatos teria mais de 50% dos votos e por isso, os dois mais votados terão que voltar a se enfrentar em um segundo turno, em 30 de novembro.
"Hoje, a certeza é o segundo turno. Não há nenhum partido que, por si só, tenha maiorias parlamentares", afirmou à AFP Juan Carlos Doyenart, diretor da consultoria Interconsult.
A disputa pela cadeira presidencial é chefiada pelo governista Tabaré Vázquez, um oncologista de 74 anos que, em 2005, ornou-se o primeiro presidente da esquerda no país.
Vázquez é a aposta da coalizão Frente Ampla (FA) para se manter no poder, mas as pesquisas atribuem a ele entre 43% e 46% das intenções de voto, insuficientes para obter a maioria parlamentar com a qual a esquerda governou na última década e que lhe permitiu aprovar de reformas tributárias e na saúde à legalização do aborto e da maconha.
Em seu último discurso, na noite de quinta-feira, antes do início da proibição da propaganda eleitoral, Vázquez pediu "um voto de confiança que permita um terceiro governo da Frente Ampla".
Desgaste e riscos
Os desejos de Vázquez estão ameaçados pelo candidato do Partido Nacional (centro-direita), Luis Lacalle Pou, um deputado de 41 anos, filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995), que com uma campanha que tem como lema "Ar fresco", se posicionou como o principal desafiante da supremacia do FA.
Embora Lacalle Pou reúna pouco mais de 30% das intenções de voto, ele já anunciou que, se passar para o segundo turno, buscará o apoio de Pedro Bordaberry, candidato do também tradicional Partido Colorado (centro-direita), que deve obter entre 15% e 18% dos votos.
"Havendo segundo turno, onde os blancos e os colorados votam juntos, se o FA cair abaixo dos 45%, o governo pode, perfeitamente, perder", advertiu Doyenart, que prevê um cenário "muito competitivo" para o segundo turno, em 30 de novembro.
Apesar da alta do PIB de 4,4% em 2013, completando 11 anos de crescimento, desemprego na casa dos 6% e a forte queda da pobreza após 10 anos de governo, a Frente dá sinais de um desgaste natural, avaliou Doyenart, enquanto Lacalle Pou encarna uma mudança, "não só por (ser) jovem, mas pelo estilo".
Os "colorados", enquanto isso, esperam ser a surpresa das eleições e que quem dispute o segundo turno com Vázquez seja seu candidato, Bordaberry, principal impulsionador do plebiscito para diminuir a idade da imputabilidade penal.
Para ser aprovada, esta iniciativa deve contar com 50% mais um do total de votos.
Nas eleições de domingo será aplicada pela primeira vez uma lei de cota de gênero, que busca dar maior participação às mulheres no cenário político.
Viagem eleitoral
Apesar da restrição eleitoral à propaganda, a campanha seguia, neste sábado, menos efusiva nas ruas, com simpatizantes dos partidos agitando bandeiras, outros entregando listas e discussões nas redes sociais, onde a proibição não está regulamentada.
Por terra, ar e mar, milhares de uruguaios chegavam neste sábado vindos de países vizinhos para votar na FA que, estima-se, mobilizará 10 mil residentes no exterior em um sistema eleitoral que proíbe o voto à distância.
O voto é obrigatório no pequeno país sul-americano e o pleito será celebrado entre as 08H00 e as 19H30 (mesmo horário no Brasil) de domingo.