Uruguai vota para presidente com pupilo de Mujica como favorito
Mais de 2,7 milhões de uruguaios estão registrados para votar e escolher o presidente e vice-presidente para o período 2025-2030, além de renovar o Parlamento bicameral
Agência de notícias
Publicado em 27 de outubro de 2024 às 10h36.
Última atualização em 27 de outubro de 2024 às 10h43.
Os uruguaios comparecem às urnas neste domingo (27) para escolher o sucessor do presidente de centro-direita Luis Lacalle Pou, uma eleição que tem um pupilo do ex-presidente de esquerda José Mujica como favorito, mas que deve seguir para o segundo turno.
A votação começou às 8h e prosseguirá até 19h30.
A segurança pública é o tema que mais preocupa a população do país, que tem 3,4 milhões de habitantes, predominantemente agrícola, com elevada renda per capita e baixos níveis de pobreza e desigualdade em comparação com as demais nações da região, mas que enfrenta um aumento da violência vinculada às drogas.
Onze candidatos, todos homens, disputam a sucessão de Lacalle Pou, que tem índice de aprovação de 50%, mas não pode disputar um segundo mandato consecutivo de cinco anos pelas normas estabelecidas na Constituição.
O candidato da opositora Frente Ampla, Yamandú Orsi, um professor de História e ex-prefeito departamental de 57 anos, lidera as intenções de voto, com 41-47% segundo as pesquisas.Álvaro Delgado, candidato do Partido Nacional, que lidera a atual coalizão de governo, aparece em segundo lugar nas pesquisas.O veterinário de 55 anos, que foi secretário da Presidência de Lacalle Pou, tem 20-25% das intenções de voto.
Andrés Ojeda, do Partido Colorado, que também integra a coalizão, aparece em terceiro com 15-16% das intenções de voto.O advogado midiático de 40 anos é comparado ao presidente argentino ultraliberal Javier Milei por sua forma nada convencional de fazer política.
Caso nenhum dos candidatos supere 50% dos votos, os uruguaios retornarão às urnas para o segundo turno em 24 de novembro.
A coalizão de governo, que também inclui o 'Cabildo Abierto' (direita, 2-4% nas pesquisas), e o Partido Independente (centro-esquerda, 1-3%), já anunciaram que organizarão uma "festa da democracia" durante a noite, para demonstrar união.
A Frente Ampla convocou uma "celebração da esperança" em outro ato em Montevidéu.
Orsi acredita no retorno da Frente Ampla à presidência, que o movimento perdeu em 2020, após três mandatos consecutivos, um deles com Mujica (2010-2015).
O ex-guerrilheiro de 89 anos se recupera de problemas derivados de um câncer de esôfago, mas foi muito ativo na campanha e uma das primeiras pessoas a votar neste domingo.
"Talvez seja o meu último voto", disse, em uma cadeira de rodas e cercado de câmeras de televisão. Questionado pelos jornalistas, Mujica apontou a segurança pública e o crescimento econômico como os principais desafios do próximo governo.
"Incerteza"
Mais de 2,7 milhões de uruguaios estão registrados para votar e escolher o presidente e vice-presidente para o período 2025-2030, além de renovar o Parlamento bicameral.
Os eleitores também devem se pronunciar em dois plebiscitos.
O mais polêmico, promovido pela central sindical única Pit-CNT com o apoio de setores da Frente Ampla, propõe a redução da idade mínima de aposentadoria de 65 para 60 anos e a proibição dos planos de previdência privados.
A iniciativa tem 35-47% de apoio nas pesquisas. Os três principais candidatos à presidência afirmaram que votarão contra a medida.
O outro plebiscito, promovido por todos os candidatos da coalizão de governo e rejeitado pela oposição, pretende autorizar operações policiais nas residências durante a noite. As pesquisas mostram apoio de pouco mais de 50%.
"É uma eleição com muita incerteza e muito competitiva, com dois blocos muito equilibrados. Esperamos um segundo turno entre Orsi e Delgado. O que não está tão claro é se haverá maioria parlamentar, porque poucos pontos de diferença podem gerar movimentos políticos determinantes", disse à AFP o cientista político Adolfo Garcé.
"Não acreditamos na aprovação do plebiscito sobre a Previdência Social", acrescentou, mas se acontecer "poderia gerar um panorama muito complicado".
Analistas alertam que esta mudança constitucional, que segundo o Pit-CNT custaria 460 milhões de dólares (2,62 bilhões de reais) por ano, mas que segundo os críticos custaria mais do que o dobro, poderia prejudicar as finanças de um país que ainda está se recuperando das consequências da pandemia de covid e de uma seca recorde em 2023. Também precisa reduzir o déficit fiscal (-4,4% do PIB em agosto).
O voto é obrigatório no Uruguai. Uma hora após o fechamento das seções eleitorais, as primeiras projeções de resultado devem ser divulgadas.
A Corte Eleitoral pode ter dados indicativos dos resultados finais durante a noite de domingo, mas espera concluir a apuração na madrugada de segunda-feira.