Mundo

Urnas são abertas em El Salvador, em votação que deve reeleger Bukele

O presidente Nayib Bukele aparece como o grande favorito a um novo mandato nas eleições que começam neste domingo

Votações em El Salvador: começam as eleições presidencial e legislativas no país (Alex Peña/Getty Images)

Votações em El Salvador: começam as eleições presidencial e legislativas no país (Alex Peña/Getty Images)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 4 de fevereiro de 2024 às 14h19.

Última atualização em 4 de fevereiro de 2024 às 14h26.

Os salvadorenhos começaram, neste domingo, a votar nas eleições presidencial e legislativas, nas quais o presidente Nayib Bukele aparece como o grande favorito a um novo mandato. As seções eleitorais abriram às 7h locais (10h em Brasília) e encerrarão dez horas depois, em um dia em que 6,2 milhões de eleitores são esperados nas urnas, anunciou o Tribunal Supremo Eleitoral.

Nessa votação, os eleitores devem dar a Bukele e a seu partido, o Novas Ideias, uma vitória retumbante, cimentando o controle do presidente sobre todos os braços do governo. A maior razão, dizem analistas, é que o líder de 42 anos conseguiu um feito que parecia impossível: dizimar as gangues que tornaram o país um dos locais mais perigosos do mundo.

Desde que chegou ao poder em 2019, o millenial prendeu milhares de pessoas inocentes, suspendeu liberdades civis indefinidamente e inundou as ruas com soldados. Embora a repressão que se seguiu tenha atacado liberdades individuais, ela entregou os resultados que muitos queriam.

Por mais de duas décadas, as gangues aterrorizaram El Salvador, abalando a economia, assassinando civis e provocando uma onda de migração para os EUA. Os dois partidos que governaram o país pouco fizeram para controlar os massacres, com presidentes que enriqueceram enquanto a população era caçada pelos criminosos.

"A essas pessoas que dizem que a democracia está sendo desmantelada, a minha resposta é que sim, nós não estamos desmantelando, mas sim eliminando e substituindo por algo novo", disse Félix Ulloa, candidato a vice na chapa de Bukele. Para ele, o sistema democrático que existiu por anos em El Salvador só beneficiou políticos corruptos e deixou o país com milhares de mortos.

Caso vença, Bukele se juntará a uma categoria de líderes globais que venceram eleições consecutivas ao mesmo tempo em que são acusados de abalar as bases democráticas. Governantes da Índia, Turquia e Hungria integram essa lista, e o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, está perto da indicação do Partido Republicano, enquanto é processado por incitar uma insurreição em 2021.

Saiba mais Quem é Bukele, o presidente de El Salvador que prendeu 70.000 pessoas e deve se reeleger | Reportagens especiais

O atual presidente e candidato à reeleição é acusado de violar a Constituição ao buscar mais um mandato. A Constituição salvadorenha proíbe que presidentes se candidatem a mandatos consecutivos, segundo especialistas. Mas em 2021, o partido de Bukele, que tem supermaioria no Congresso, substituiu juízes na Suprema Corte, que reinterpretaram a Carta para permitir que concorresse novamente.

Alguns acreditam que Bukele achará formas para permanecer no cargo por mais tempo. No X (antigo Twitter), ele afirmou que não buscava a reeleição indefinida, uma vez que “as normas atuais não permitem”. Mas Ulloa afirma que a maior parte do país quer Bukele como “presidente eterno”.

Apoio até das vítimas

Após uma explosão de violência em 2022, o governo impôs um estado de emergência e realizou uma série de prisões sem o devido processo. Cerca de 75 mil pessoas foram detidas, incluindo 7 mil que foram liberadas posteriormente, e milhares de outras que não são membros de gangues mas seguem detidas. Foi construída uma megaprisão para acomodar todos os novos presos.

Mas o estado de emergência, que durou dois anos, transformou o país. Os homicídios despencaram, assim como as extorsões. As detenções de salvadorenhos tentando cruzar a fronteira dos EUA caíram um terço no último ano, quando o número total de imigrantes disparou, algo que especialistas atribuem à sensação de segurança nas ruas.

Irma Mancia de Olmedo é uma vítima do novo Estado policial. Seu filho Mario Olmedo Mancía foi preso pelas autoridades em uma manhã de sexta-feira, em abril de 2022, quando saía de casa para ir ao barbeiro. A família não teve mais notícias dele. "Não sei o que está fazendo, nada", disse Olmedo.

Ela afirma que Mario não tinha envolvimento com gangues, e que ele trabalhava em um callcenter. Mas, mesmo em meio à dor, ela expressou admiração por Bukele. "Ele fez o possível para melhorar esse país. Se alguns de nós estão sofrendo as consequências, bem, essas coisas acontecem".

Ainda há bolsões de resistência a Bukele, especialmente em famílias que alegam ter parentes presos indevidamente. E permanecem questões sobre o comprometimento do governo com o combate às gangues. Segundo funcionários do governo americano, Bukele negociou com lideranças dos grupos criminosos para que reduzissem os homicídios em troca de benefícios na prisão. Em um caso, o Departamento de Justiça dos EUA afirma que as autoridades locais ajudaram um chefe da gangue MS-13 a fugir do país, escapando de um pedido de extradição feito por Washington. Bukele nega as alegações.

E não são apenas os salvadorenhos que o apoiam. Bukele conseguiu admiradores ao redor do Hemisfério Ocidental, especialmente em países violentos, como Equador, onde o atual presidente Rafael Noboa prometeu construir prisões como as de El Salvador.

Nas urnas, apenas cinco candidatos da oposição estarão na disputa, e o partido do governista centra sua campanha em promessas de um presidente mais ativo e na estratégia do medo, o que tem funcionado até agora. (Com New York Times e AFP)

Leia também:

Acompanhe tudo sobre:El SalvadorEleições

Mais de Mundo

Plano de Trump para suspender teto da dívida fracassa na Câmara

Procuradora da Geórgia é afastada de caso de interferência eleitoral contra Trump

Argentina toma medidas para acelerar dolarização da economia

Luigi Mangione aceita ser transferido a Nova York para enfrentar acusações de homicídio