Hebron: lugar sofre com tensão religiosa há décadas (Mussa Qawasma/Reuters)
AFP
Publicado em 7 de julho de 2017 às 11h13.
Última atualização em 7 de julho de 2017 às 11h15.
A Unesco declarou nesta sexta-feira a área antiga da cidade de Hebron, na Cisjordânia ocupada, "zona protegida" do patrimônio mundial, como um lugar de "valor universal excepcional em perigo", o que irritou Israel.
Com 12 votos a favor, três contra e seis abstenções, o comitê reunido na cidade polonesa da Cracóvia decidiu incluir o centro histórico da cidade em duas listas: a do Patrimônio Mundial e a do Patrimônio em Perigo. O tema foi a disputa mais recente entre palestinos e israelenses levada ao organismo internacional.
Hebron tem uma população de 200.000 palestinos e algumas centenas de colonos israelenses, que vivem em um território protegido por soldados perto do local sagrado que os judeus chamam de Túmulo dos Patriarcas e os muçulmanos de Mesquita de Ibrahim.
"A decisão da Unesco sobre Hebron e o Túmulo dos Patriarcas é uma mancha moral. Esta organização irrelevante promove uma HISTÓRIA FALSA. Vergonhoso para a Unesco", escreveu no Twitter o porta-voz da diplomacia de Israel, Emmanuel Nahshon.
The #Jewish people's glorious history in #israel started in #Hebron.No @UNESCO lies and FAKE HISTORY can change that. Truth is eternal🇮🇱🇮🇱
— Emmanuel Nahshon 🎗️ (@EmmanuelNahshon) July 7, 2017
Para a Autoridade Palestina, no entanto, a decisão representa um "êxito" diplomático.
"Esta votação é um êxito para a batalha diplomática travada pelos palestinos em todas as frentes, ante a pressão israelense e americana sobre os Estados membros", afirmou o ministério das Relações Exteriores em um comunicado.
"Apesar da campanha israelense frenética de mentiras e distorção dos fatos sobre os direitos dos palestinos, o mundo reconheceu o nosso direito de incluir Hebron e a Mesquita de Ibrahim sob a soberania palestina", acrescentou o ministério.
Doze membros do Comitê da Unesco votaram a favor da inscrição, seis se abstiveram e três votaram contra. Em razão das abstenções, a maioria necessária era de dez votos.
Os palestinos afirmam que a cidade antiga de Hebron está ameaçada por um aumento "alarmante" do vandalismo contra propriedades palestinas na região, atos que atribuem aos colonos israelenses.
Por este motivo, solicitaram à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), que declarasse a área antiga "zona de valor universal excepcional".
Um voto favorável da Unesco "ajudaria o turismo" e "os esforços dos palestinos para impedir toda a tentativa de destruição", havia considerado antes da votação Alaa Shahin, funcionário da prefeitura de Hebron.
As autoridades israelenses consideram que a resolução sobre Hebron, que classifica a cidade de "islâmica", nega uma presença judaica de 4.000 anos na região.
O Túmulo dos Patriarcas é considerado o local que contém os restos mortais de Abraão, pai das três religiões monoteístas, de seu filho Isaac, seu neto Jacó e suas esposas Sara, Rebeca e Lia.
Antes da votação, o ministério das Relações Exteriores israelense advertiu que a inclusão da cidade da Cisjordânia seria um ato de "politização da organização".
Em maio, Israel rejeitou uma resolução da Unesco sobre o status de Jerusalém apresentando-o como "potência ocupante", antes de impedir os pesquisadores da organização de visitar Hebron.
Em meio século de ocupação israelense, Hebron se tornou um local de conflito permanente. Centenas de colonos protegidos por centenas de soldados vivem em uma área do centro que é parcialmente proibido aos palestinos.
Na época do mandato britânico sobre a Palestina, uma comunidade de judeus vivia em Hebron antes de ser forçada a partir após o assassinato de 67 judeus em 1929.
Em 1994, um colono israelense-americano, Baruch Goldstein, abriu fogo na Mesquita de Ibrahim matando 29 muçulmanos antes de ser linchado.