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Um dos líderes mais temidos da máfia italiana morre na cadeia

Salvatore "Toto" Riina, conhecido por espalhar o terror durante quase 20 anos na Sicília e dentro da Cosa Nostra, morreu um dia após completar 87 anos

Chefe da máfia Siciliana do século 20, Salvatore "Toto" Riina, é escoltado por agentes italianos em Palermo, na Itália, em 1993 (Tony Gentile/Reuters)
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AFP

Publicado em 17 de novembro de 2017 às 10h21.

Toto Riina, um dos chefões mais sanguinários e temidos da máfia siciliana, faleceu nesta sexta-feira aos 87 anos, mas sua organização criminosa permanece de pé, embora muito mais discreta que há alguns anos.

Salvatore "Toto" Riina, que fez aniversário na quinta-feira, faleceu na unidade carcerária de um hospital de Parma, norte da Itália, durante a madrugada, confirmou o ministério italiano da Justiça.

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Com o apelido "La Belva" (A Fera), Riina espalhou o terror durante quase 20 anos na Sicília e dentro da Cosa Nostra, como também é conhecida a máfia, uma organização que controlava desde os anos 1970

Toto Riina, que cumpria 26 penas de prisão perpétua e estava em coma há alguns dias, ordenou a execução de pelo menos 150 pessoas. Sua mulher e três de seus quatro filhos foram autorizados na quinta-feira pelo ministério italiano da Saúde a visitá-lo para uma despedida.

Giovanni, o primogênito de Riina, cumpre uma pena de prisão perpétua por quatro assassinatos.

"Para mim, você não é Toto Riina, você é apenas meu pai. E te desejo um feliz aniversário, papai, neste dia triste mas importante. Te amo", escreveu outro de seus filhos, Salvatore, no Facebook na quinta-feira.

Riina havia solicitado a libertação em julho, alegando uma doença grave, mas o pedido foi rejeitado depois que um tribunal determinou que o atendimento médico na prisão era tão adequado quanto o que receberia fora do sistema penitenciário.

Os médicos afirmaram na ocasião que Riina estava "lúcido".

"Não me arrependo de nada, nunca me curvarei, mesmo que me condenem a 3.000 anos", afirmou Riina em uma gravação recente.

Discrição da máfia

Os juízes confirmam que a Cosa Nostra não foi derrotada, mas que nos últimos anos se tornou mais discreta, abandonando as execuções e os crimes de sangue do período Riina.

"Não acontecem mais assassinatos ou acontecem poucos", afirmou recentemente à AFP Ambrogio Cartosio, um promotor que trabalhou por mais de 20 anos no departamento especial de combate à máfia.

Mas a organização criminosa não desapareceu, muito pelo contrário.

"Parece-me que está muito mais presente que antes nas estruturas políticas, retomou o controle de território. Atua de maneira distinta. É menos militar, menos sanguinária, mas muito eficaz", completou o promotor.

Riina controlava todas as atividades rentáveis da Cosa Nostra, do tráfico de drogas aos sequestros, passando pela extorsão. Nos anos 1980, estabeleceu a autoridade de seu clã, os Corleone, com uma guerra contra as outras grandes "famílias" de Palermo que deixou centenas de mortos.

A guerra terminou com a vitória de Riina, que em 1982 assumiu o poder total e virou o chefe da "Cúpula" (o Executivo da Cosa Nostra).

A partir deste momento iniciou uma campanha de violência contra os representantes do Estado.

Ele ordenou os assassinatos dos juízes de combate à máfia Giovanni Falcone (1992) e Paolo Borsellino (1993)). Também foi um dos cérebros dos atentados que deixaram 10 mortos em Roma, Milão e Florença em 1993.

Nos anos 1990 a máfia conseguiu abalar o Estado italiano, que finalmente reforçou a legislação e criou uma unidade especializada na luta contra o crime organizado, não apenas contra a Cosa Nostra, mas também contra a 'Ndrangheta (Calabria), a Camorra (Campania) e a Sacra Corona Unita (Apulia).

"Graças a uma luta intensa liderada pela magistratura e as forças de segurança, mas também graças ao apoio de amplos setores da população durante anos, enfraquecemos o aparato militar da máfia na Sicília", destaca o promotor Cartosio.

"Com a estratégia de massacres sangrentos na Sicília e na Itália (...) ele (Toto Riina) tornou visível a máfia, com centenas de assassinatos, primeiro com kalashnikov e depois com bombas" explica Attilio Bolzoni, analista do jornal La Repubblica.

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