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UE considera eleição egípcia válida, mas critica restrições

Eleições presidenciais no Egito ocorreram conforme à lei, mas se caracterizaram pela restrição de liberdades e direitos, segundo a União Europeia

Homem deposita voto no Egito: eleições terminaram ontem (Mohamed Abd El Ghany/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 29 de maio de 2014 às 14h42.

Cairo - As eleições presidenciais no Egito ocorreram "conforme à lei", mas se caracterizaram pela restrição de liberdades e direitos, segundo a missão de observadores da União Europeia (UE).

Em um relatório preliminar apresentado nesta quinta-feira em entrevista coletiva, que será completado por outro definitivo, assim que os resultados finais forem divulgados, os observadores da UE qualificaram as eleições como "pacíficas e bem administradas".

As eleições, nas quais o ex-chefe do exército Abdul Fatah al Sisi obteve uma arrasadora vitória com mais de 93% dos votos segundo os dados cedidos por sua campanha, terminaram ontem após três dias de votações.

Apesar do desenvolvimento tranquilo da eleição, a missão, liderada pelo português Mario David, chamou a atenção para o pouco respeito a certos princípios constitucionais, especialmente nas áreas de liberdade de associação e de expressão.

Segundo David, a falta de regulação e o desequilíbrio nos recursos favoreceu muito Sisi, da mesma forma que sua presença nos meios de comunicação privados, duas vezes superior à de seu oponente, o esquerdista Hamdin Sabahi.

"Foram eleições democráticas, pacíficas e transparentes, mas não necessariamente justas, porque um candidato tinha todos os meios", opinou, em alusão a Sisi, o chefe da delegação do parlamento Europeu, o luxemburguês Robert Goebbels.

Os observadores criticaram em seu relatório a ampliação das votações para um terceiro dia adicional, uma medida adotada de surpresa pela Comissão Eleitoral para permitir uma maior participação dos eleitores.

"Embora a extensão do prazo não seja contra a lei, a decisão causou uma incerteza desnecessária no processo eleitoral", declarou David, que deu por boa a taxa de participação de 46% da população, segundo dados divulgados pelas autoridades egípcias.

No entanto, fontes diplomáticas e das missão de observadores confessaram à Efe sua frustração com o relatório apresentado pela UE, "que não correspondem com o que muita gente viu", segundo um diplomata de uma embaixada europeia que pediu anonimato.

"(O documento) está muito fora da realidade do que vimos, tinha que ter sido mais contundente", disse o alto funcionário.

O próprio Goebbels reconheceu à Efe que, ao final do segundo dia de votação, a missão calculava participação em torno de 30%, e afirmou que no último dia esse número não poderia aumentar subitamente.

Outra observadora, que pediu anonimato, explicou que os colégios eleitorais onde cumpriu sua missão estiveram "vazios" no segundo e no terceiro dias, e pôs em dúvida a taxa de participação.

Apesar da vitória clara de Sisi, a maior incógnita do pleito era comprovar a participação de eleitores nas urnas, para saber o nível de aprovação real ao ex-militar entre os egípcios.

São Paulo - Há uma semana chegava a notícia da renuncia do presidente do Egito, Hosni Mubarak. Depois de 18 dias de manifestações, os gritos de protesto deram lugar ao choro de alegria nas ruas do Cairo. Mubarak deixou o Egito e uma junta militar tomou o poder para organizar a transição para a democracia. Além da vitória para os egípcios, a revolução no país deixou também um legado. Ela mesma começou como um eco da chamada Revolução de Jasmim, na Tunísia. Depois de um mês de manifestações, entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, a população depôs o ditador Zine el Abidine Ben Ali. Egito e Tunísia - o primeiro, principalmente - são países que exercem grande influência sobre o mundo árabe e o Oriente Médio. Inspiradas por estes dois movimentos, as populações de cinco outros países se levantaram contra governos opressores e ineficientes. Nesta semana, uma série de protestos resultou em confrontos com a polícia, deixando mortos e inúmeros feridos. Em países como a Síria e a Argélia, alguns levantes foram registrados, mas ainda não chegaram às proporções dos demais. Saiba quais são estes países nas fotos ao lado.
  • 2. Iranianos se levantam contra Ahmadinejad

    2 /6(Atta Kenare/AFP)

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    São Paulo - Nesta semana, no Irã, o grupo de oposição Movimento Verde se levantou em manifestações contra o presidente Mahmoud Ahmadinejad. Na terça-feira (15), ao menos duas pessoas morreram em um confronto entre a polícia e os manifestantes. O Movimento Verde tem incitado a oposição desde 2009, quando uma contestada votação elegeu Ahmadinejad para um segundo mandato. O grupo diz que as manifestações atuais têm inspiração nas revoluções que depuseram os presidentes do Egito e da Tunísia. Assim como os egípcios, os iranianos escolheram como palco dos protestos uma praça cujo nome significa "liberdade". No primeiro caso, a praça era a Tahrir. No Irã, os manifestantes foram à praça Azadi.
  • 3. Iraquianos exigem melhores serviços públicos

    3 /6(Wikimedia Commons)

  • São Paulo - O Iraque é mais um dos países do mundo árabe onde ecoam os gritos das revoluções no Egito e na Tunísia. Nos últimos dois dias, a população da cidade de Kut intensificou os protestos que já duram duas semanas. A população saiu às ruas para reivindicar melhores serviços públicos, e protestar contra a corrupção no país. Na quarta-feira (16), houve confronto entre policiais e manifestantes. Pelo menos duas pessoas morreram e mais de 30 ficaram feridas. Um grupo chegou a colocar fogo na sede do governo local. Em outras cidades menores do Iraque, desempregados protestaram e exigiram a saída de governantes.
  • 4. 15 mil protestam no Bahrein nesta sexta-feira

    4 /6(AFP)

    São Paulo - Na última segunda-feira (14), o Bahrein comemorou o aniversário de sua constituição, promulgada em 2002. O documento originou uma série de reformas democráticas. Dentre elas, a concessão, por parte da monarquia, de poderes ao parlamento. Entretanto, grupos de jovens opositores ao governo consideram a abertura insuficiente e exigem reformas mais profundas. Contagiados pelo clima inflamado que resultou nas renuncias dos presidentes do Egito e da Tunísia, os manifestantes articularam protestos. À semelhança do que aconteceu nos outros países, os atos foram organizados com a ajuda de redes sociais. Os protestos se estenderam pelos dias seguintes. Nesta sexta-feira (18), 15 mil manifestantes se reuniram para pedir a queda do regime. O ato aconteceu durante o enterro de duas vítimas de confrontos com a polícia. A situação no país preocupa até o mundo dos esportes. Se a tensão política não diminuir, é possível que o Grande Prêmio do Bahrein de Fórmula 1, previsto para o dia 13 de março, seja cancelado.
  • 5. Protestos violentos tomam Iêmen

    5 /6(AFP/Mohammed Huwais)

    São Paulo - As revoltas no Iêmen têm muito em comum com o ocorrido no Egito. Os militantes decidiram que darão um basta nas três décadas de ditadura no país, praticamente o mesmo tempo que Hosni Mubarak ficou no poder no Egito. Na última semana, inspirada pelos egípcios, a população no Iêmen tomou as ruas da capital do país, Sanaa, pedindo a saída do presidente Ali Abdallah Saleh. Assim como no caso dos egípcios, a maioria dos opositores é composta de jovens, que escolheram um local emblemático para protestar: a praça Tahrir (nome que significa "liberdade"), homônima do principal palco de manifestações no Egito. Nos últimos dias houve confronto entre policiais e militantes, deixando vários feridos.
  • 6. Líbia quer fim de ditadura de quatro décadas

    6 /6(Getty Images)

    São Paulo - Os protestos na Líbia têm o objetivo principal de derrubar o líder Muammar Gaddafi, no poder desde 1969. Na última quarta-feira (16), um confronto entre a população e policiais deixou mais de 30 pessoas feridas. Os manifestantes queimaram carros e atacaram sedes do poder em diversas cidades. A Líbia é um país onde quase não há manifestações por causa da dura repressão. Mesmo assim, os jovens opositores ao governo de Gaddafi articularam para a quinta-feira (17) um protesto de alcance nacional, chamado de "O Dia da Ira". Da mesma forma que no Egito e em outros países, a manifestação foi organizada pela internet, com o auxílio de redes sociais.
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