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Ucrânia se prepara para volta às aulas em abrigos subterrâneos

A triste realidade da guerra, no entanto, não parece afetar o entusiasmo pelo novo ano letivo

Nas salas de aula "normais", as mochilas estão abandonadas desde 23 de fevereiro, último dia de aula antes da invasão russa (GENYA SAVILOV/Getty Images)

Nas salas de aula "normais", as mochilas estão abandonadas desde 23 de fevereiro, último dia de aula antes da invasão russa (GENYA SAVILOV/Getty Images)

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AFP

Publicado em 30 de agosto de 2022 às 13h16.

Última atualização em 30 de agosto de 2022 às 14h36.

Cinco metros abaixo de uma sala de aula, o diretor de uma escola de Kiev, Mikhailo Aliokhin, termina de preparar o abrigo onde os alunos passarão grande parte do tempo com o retorno do ano letivo na Ucrânia esta semana.

Nas salas de aula "normais", as mochilas estão abandonadas desde 23 de fevereiro, último dia de aula antes da invasão russa, quando os sinos da escola foram substituídos pelas sirenes dos bombardeios.

No andar de cima, antes havia mesas, quadros, livros coloridos e balões. No andar de baixo, sequer tem janelas. Ali funcionava um vestiário, mas com os bombardeios ainda ameaçando a capital, agora serve como abrigo.

"Assim que a sirene do alarme soa, a equipe leva as crianças para o porão, não importa qual seja a atividade", disse Aliokhin à AFP. "Na medida do possível, eles continuarão com suas tarefas de maneira descontraída", acrescenta.

Apesar das condições rígidas, ele espera que um terço dos 460 alunos, de 6 a 16 anos, volte às aulas nesta quinta-feira.

Aprender a se adaptar

Em 2021, havia 4,2 milhões de estudantes na Ucrânia. Mas a invasão russa fez com que, entre fevereiro e junho de 2022, mais de 2 milhões de crianças deixassem o país e 3 milhões se tornassem deslocados internos, segundo o Unicef.

Enquanto isso, em Kiev, agora longe dos combates no leste e sul da Ucrânia, 132 mil estudantes se preparam para voltar às aulas em 1º de setembro, segundo o prefeito Vitali Klitschko.

Na escola particular de Aliokhin, que a AFP optou por não identificar, a equipe preparou dois cenários antes do dia da abertura. O primeiro é o programa normal de estudos nas salas de aulas, a 10 metros da entrada do refúgio. O segundo é no porão, caso soem as sirenes de ataque aéreo, como ocorre quase todos os dias.

"Não é impossível que nosso inimigo, que gosta de datas simbólicas, se aproveite deste dia", diz Aliokhin, de 26 anos.

Independente da presença de mísseis ou não, os educadores celebrarão uma festa no abrigo "para mostrar às crianças que é um lugar seguro, onde certamente passarão muito tempo este ano".

O abrigo terá alimento e água para 48 horas e pessoal médico e psicólogos disponíveis a qualquer momento.

"Eu nunca teria imaginado isso, mas aqui estamos (...) nesta nova realidade", comenta Aliokhin.

Ansioso para aprender

Metade das 23 mil escolas da Ucrânia consultadas pelo Ministério da Educação tem um abrigo equipado para dar aulas presenciais. As que não têm, darão aulas apenas online.

A triste realidade da guerra, no entanto, não parece afetar o entusiasmo pelo novo ano letivo.

"Eu moro do lado da minha escola, estarei mais seguro lá porque desceremos ao refúgio de maneira organizada", explica Polina, de 16 anos, na companhia de seus amigos em um café de Kiev.

"A verdade é que queremos viver plenamente nossa vida depois de dois anos de covid e seis meses de guerra", afirma. "Não temos medo, já vivemos o suficiente. Nossa geração decidiu viver no momento presente", afirma.

A decisão talvez seja mais difícil para os pais. Segundo o alto funcionário do ministério da Educação, Sergiy Gorbachov, a maioria dos pais é contra a educação presencial por medo dos bombardeios.

De acordo com o ministério de Educação, 2.135 escolas foram danificadas desde 24 de fevereiro.

"Regiões próximas ao front funcionarão totalmente online. As aulas presenciais não são possíveis por lá", afirma Gorbachov.

No entanto, Youlia Shatravenko-Sokolovych, em Kiev, decidiu que sua filha Myroslava irá às aulas presenciais na quinta-feira.

"É óbvio que temos medo, mas não posso privar a minha filha da socialização", explica. "Confio no Exército ucraniano que nos defende".

"O fato de estar de volta a uma vida mais ou menos normal me dá esperança", afirma.

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