Ucrânia e Rússia se preparam para assinar acordo com ONU e Turquia sobre grãos
Este é o primeiro grande acordo assinado por ambos os lados desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro
AFP
Publicado em 22 de julho de 2022 às 11h03.
Rússia e Ucrânia se preparam para assinar um acordo, por meio da ONU e da Turquia, nesta sexta-feira (22) em Istambul, para retomar as exportações de grãos e aliviar a grave crise alimentar mundial, um avanço diplomático neste conflito que continua no terreno com a forte ofensiva de Moscou no leste da Ucrânia.
Este é o primeiro grande acordo assinado por ambos os lados desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro.
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O conselheiro presidencial ucraniano, Mikhailo Podoliak, disse que seu país assinará o acordo somente com a ONU e a Turquia e evitará negociações diretas com a Rússia.
"A Ucrânia não vai assinar nenhum documento com a Rússia. Assinamos um acordo com a Turquia e a ONU e estamos comprometidos com eles. A Rússia assinará um acordo espelho" com essas duas partes, disse Podoliak no Twitter.
Ele também alertou que qualquer violação deste acordo pela Rússia e qualquer incursão em portos ucranianos terão uma "resposta militar" imediata.
Os beligerantes vão selar o compromisso nesta sexta-feira às 10h30 (horário de Brasília) com a presença do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, no Palácio Dolmabahçe, em Istambul, indicaram as autoridades turcas.
Segundo Ancara, este documento permitirá que os grãos ucranianos bloqueados pela guerra saiam do Mar Negro e um alívio das restrições ao transporte de alimentos produzidas pela Rússia.
A Rússia garantiu nesta sexta-feira que é "muito importante" permitir a exportação de grãos bloqueados nos portos ucranianos. "É uma parcela relativamente modesta do grão ucraniano, mas é muito importante que chegue aos mercados internacionais", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Os Estados Unidos saudaram o acordo e instaram a Rússia a cumpri-lo de boa fé.
No terreno, paira a dúvida de que um eventual acordo seja cumprido.
Para Mykola Zaveruja, agricultor ucraniano que tem cerca de 13.000 toneladas de grãos para exportar na área de Mykolaiv, este anúncio lhe dá "esperança", embora diga que "não dá para acreditar no que os russos dizem".
"A Rússia não é confiável, tem demonstrado isso ano após ano", disse ele à AFP.
Riscos na usina nuclear de Zaporizhzhia
Apesar do progresso da diplomacia, a guerra continua no terreno e as forças russas mantêm uma ofensiva tenaz para avançar na região de Donetsk, no leste.
O presidente ucraniano anunciou que cinco pessoas morreram e dez ficaram feridas nesta área nas últimas 24 horas.
Na quinta-feira, um bombardeio russo contra Kharkiv - a segunda maior cidade da Ucrânia, no nordeste - deixou três mortos e 23 feridos. Em Kramatorsk, no Donbass (leste), uma escola foi destruída no mesmo dia em um ataque que deixou um morto e duas pessoas presas nos escombros. De acordo com as autoridades ucranianas, o complexo era usado para armazenar ajuda humanitária.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse esta semana que os objetivos de Moscou não se limitam "apenas" ao leste da Ucrânia, uma região parcialmente controlada por separatistas pró-russos desde 2014.
Segundo a Ucrânia, a Rússia armazena armas pesadas e munições no local da usina nuclear ocupada de Zaporizhzhia (sul), a maior da Europa e sob o controle das forças do Kremlin desde março, o que alertou sobre o risco de incêndio ou explosão.
A Rússia, por sua vez, denunciou que as forças ucranianas realizaram ataques de drones esta semana "a algumas dezenas de metros de estruturas vitais para a segurança da usina".
15.000 soldados russos mortos
A ONG Human Rights Watch (HRW) acusou as tropas russas nesta sexta-feira de tortura, detenções ilegais e desaparecimento forçado de civis no sul da Ucrânia.
Em entrevista exclusiva à AFP, Alexander Lukashenko, presidente de Belarus e principal aliado da Rússia, instou o Ocidente, Moscou e Kiev a negociar para evitar uma escalada para um "precipício" nuclear.
Cerca de 15.000 soldados russos morreram na Ucrânia desde o início da guerra, segundo estimativas dos serviços de inteligência britânicos e americanos.
"É aproximadamente o mesmo número que eles perderam em 10 anos no Afeganistão na década de 1980", disse Richard Moore, chefe do MI6 britânico.
A nível cibernético, as autoridades das duas regiões separatistas anunciaram esta sexta-feira que decidiram bloquear o motor de busca americano Google por promover “violência contra os russos”.
No setor crucial da energia, a Europa deu um suspiro de alívio na quinta-feira depois que a Rússia reabriu seu fluxo de gás através do Nord Stream, após uma paralisação de manutenção.
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