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Ucrânia e Israel viram laboratórios para avanços de usos militares de IA

Tecnologia aumenta capacidade dos exércitos, embora muitas vezes em áreas inesperadas

Ucraniano corre para ajudar fazendeiros após incêndio na região de Donetsk (Oleksii Filippov/AFP)
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 17 de setembro de 2024 às 14h30.

Última atualização em 17 de setembro de 2024 às 15h34.

O uso de inteligência artificial pelos exércitos do mundo tem avançado e já ajuda a fazer a diferença em conflitos como a Guerra da Ucrânia e o conflito entre Israel e Hamas. No entanto, boa parte deste impacto ainda não vem de armas autônomas, capazes de atacar por conta própria, mas de impactos na administração militar e na capacidade de processar dados.

A análise vem de um estudo do Eurasia Group. "Os exércitos são grandes burocracias que buscam tecnologias para melhorar suas operações. O Pentágono é um dos maiores escritórios do mundo, onde os funcionários gastam boa parte do tempo com papeladas. Assim, alguns dos avanços de IA no Pentágono vão simplesmente melhorar tarefas regulares, como orçamento, recursos humanos e gerenciamento de tarefas. A IA generativa está sendo usada para tornar as tarefas mais eficientes e ajudar na manutenção de muitas instalações e veículos", diz o estudo.

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Além disso, a IA é usada para dar suporte às operações de campo. Ela pode ajudar a sugerir um alvo ou a melhorar a mira, mas a decisão final de atirar ainda é feita por pessoas, segundo os governos. Entre os auxílios possíveis, está o de usar reconhecimento facial para identificar alvos e ajudar operadores a pilotar um esquadrão de drones.

Na Ucrânia, segundo o relatório, a IA está sendo usada para melhorar tarefas como a organização das linhas de suprimento e para aprimorar miras automáticas de armas. Há também grande uso de análise de informações de inteligência, que podem inclusive ser enviadas pelos cidadãos, por meio de um app.

"As medidas ajudam a poupar trabalho. Aumentar a eficiência faz com que unidades possam operar com menos soldados e permitir a redistribuição das tropas. Isso tem tido um significado estratégico. Ainteligência gerenciada com IA foi das principais razões para que a Ucrânia fosse capaz de localizar as tropas russas durante a invasãoe conter o avanço delas", aponta a Eurasia.

Já Israel tem se aproximado mais do ponto em que os humanos serão retirados do processo de ataque. Em 2020, a IA ajudou no ataque que matou um cientista nuclear iraniano. No atual conflito com Gaza, Israel está usando a nova tecnologia para identificar e localizar os membros do Hamas.

Por outro lado, há relatos de que soldados israelenses estariam fazendo checagens superficiais para confirmar se alvos apontados pela IA pertenciam de fato ao Hamas, segundo a Eurasia.

"Nos dois conflitos, a IA está apenas melhorando capacidades já em efeito, melhorando diferentes etapas dos processos", diz a Eurasia. A consultoria aponta ainda que a Rússia também avança na tecnologia, especialmente para aprimorar drones autônomos.

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Avanços no longo prazo

Para a Eurasia, a IA deve mudar as guerras de várias formas nos próximos anos. Por um lado, operações combinadas serão mais fáceis, pois a IA ajuda a sincronizar dados e posições de forma mais ágil. Além disso, cresce o aumento da capacidade de projetar cenários e estratégias, e contar a inteligência artificial para tomar algumas decisões. Ao mesmo tempo, poderá haver mais aviões de guerra capazes de voar sem pilotos, e será mais fácil controlar enxames de drones que voam em conjunto. Eles também serão capazes de lidar melhor com ataques técnicos, como interferências nos sinais de GPS.

Por outro lado, a falta de transparência sobre os algoritmos em que a IA se baseia podem levar a erros. "Colocar uma fé cega em um algoritmo pode ser catastrófico se os dados estão corrompidos ou, pior, sabotados", alerta a consultoria. Há ainda um temor de que a IA, usada de forma maligna, possa ajudar a invadir centrais nucleares e roubar segredos técnicos ou, pior, disparar armas.

Armas letais

Já o uso de IA para sistemas de armas autônomas letais (LAWS, na sigla em inglês), ainda é uma realidade mais distante. Essas armas serão capazes de criar estratégias, e conduzir ataques a alvos de forma automática, sem interferência humana. O Pentágono vem deixando claro que defende a decisão humana antes dos ataques, mas ao mesmo tempo não baniu o uso de LAWS de forma completa.

O tema também vem sido debatido na ONU. Em 2023, 152 países defenderam que a Assembleia-Geral crie uma nova regulação sobre as armas letais autônomas. No entanto, quatro países votaram contra a ideia: Belarus, India, Mali e Rússia. China, Israel, Irã e Israel, que investem na tecnologia, se abstiveram.

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