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Trump rejeita saída do Afeganistão e admite acordo com talibãs

"Uma retirada precipitada criaria um vácuo que os terroristas - incluindo o ISIS e a Al-Qaeda - preencheriam instantaneamente", declarou Trump

Donald Trump: fontes da Casa Branca assinalaram que o presidente autorizou o envio de mais 3.900 homens ao Afeganistão (Mark Wilson/Getty Images)

Donald Trump: fontes da Casa Branca assinalaram que o presidente autorizou o envio de mais 3.900 homens ao Afeganistão (Mark Wilson/Getty Images)

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AFP

Publicado em 22 de agosto de 2017 às 08h20.

O presidente Donald Trump descartou nesta segunda-feira uma saída rápida das tropas americanas do Afeganistão, o que deixaria um "vácuo" de poder, mas admitiu um possível acordo no futuro com o movimento islâmico fundamentalista Talibã.

"As consequências de uma saída rápida são previsíveis e inaceitáveis", disse o presidente dos EUA ao discursar para a Nação da base de Fort Myer, a sudoeste de Washington.

"Uma retirada precipitada criaria um vácuo que os terroristas - incluindo o ISIS e a Al-Qaeda - preencheriam instantaneamente, assim como aconteceu antes do 11 de Setembro", declarou Trump, usando um acrônimo para o grupo do Estado Islâmico.

"Não falaremos de número de soldados" no Afeganistão porque "os inimigos dos Estados Unidos não devem conhecer jamais nossos projetos".

Fontes da Casa Branca assinalaram que Trump autorizou o envio de mais 3.900 homens ao Afeganistão.

Segundo o presidente, "algum dia, depois de um esforço militar efetivo, talvez seja possível ter um acordo político que inclua elementos do Talibã no Afeganistão (...) mas ninguém sabe se ou quando isso acontecerá".

Trump deixou claro que "os EUA continuarão a apoiar o governo e os militares afegãos enquanto enfrentarem os talibãs no campo" de batalha, mas advertiu que Cabul não deve considerar o apoio dos EUA como um "cheque em branco".

"A América trabalhará com o governo afegão, desde que vejamos determinação e progresso. No entanto, nosso compromisso não é ilimitado, e nosso apoio não é um cheque em branco. O povo americano espera ver reformas reais e resultados reais".

No mesmo discurso, Trump advertiu que os Estados Unidos não tolerarão mais que o Paquistão seja "um refúgio" para extremistas.

"Não podemos continuar nos calando sobre o Paquistão ser um refúgio para organizações terroristas".

"O Paquistão tem muito a ganhar caso colabore com nossos esforços no Afeganistão (...) e muito a perder se continuar acolhendo criminosos e terroristas".

Trump deu a entender que a ajuda militar dada ao Paquistão - que compartilha uma longa fronteira com o Afeganistão - está em risco caso o país não coloque um freio nos extremistas.

"Pagamos ao Paquistão trilhões e trilhões de dólares, enquanto eles acolhem os mesmos terroristas contra os quais lutamos. Isso tem que mudar e mudará imediatamente. É hora de o Paquistão se dedicar à ordem e à paz".

Em outro trecho, o presidente pediu unidade a todos os americanos, em referência à violência racial desatada há algumas semanas entre supremacistas brancos e antifascistas.

"O amor pelos Estados Unidos requer amor para todos os seus cidadãos. Quando abrimos nossos corações, não há lugar para o fanatismo e para a tolerância pelo ódio".

"Se um cidadão é vítima de uma injustiça, todos somos vítimas".

"Os homens e mulheres que enviamos para lutar em nossas guerras merecem encontrar em sua volta um país que não está guerra consigo mesmo".

Mais tropas para forçar a paz

O secretário americano da Defesa, Jim Mattis, declarou após o discurso que os Estados Unidos e seus aliados estão dispostos a aumentar suas tropas no Afeganistão.

"Consultarei o secretário-geral da Otan e nossos aliados, muitos dos quais já se comprometeram a aumentar o número de soldados", afirmou o chefe do Pentágono, dando a entender que Estados Unidos aplicarão esta medida.

No momento, há cerca de 8.400 soldados americanos e 5.000 militares da Otan dando suporte às forças de segurança do Afeganistão na luta contra os talibãs e outros militantes. Mas a situação continua complicada no terreno, com mais de 2.500 policiais e soldados afegãos mortos de 1º de janeiro a 8 de maio deste ano.

O secretário de Estado, Rex Tillerson, disse que a decisão de Trump de pressionar o Paquistão e intensificar as operações militares no Afeganistão poderá ajudar os diplomatas dos EUA a construir uma solução política.

"Estamos deixando claro para o Talibã que eles não vão ganhar no campo de batalha. O Talibã tem um caminho para paz e para a legitimidade política, através de um acordo político negociado para acabar com a guerra ".

"Estamos prontos para apoiar negociações de paz entre o governo afegão e a Talibã sem condições prévias", declarou Tillerson.

"Acenamos para a comunidade internacional, particularmente para os vizinhos do Afeganistão, para que se juntem no apoio a um processo de paz afegão".

O senador republicano, John McCain, qualificou a estratégia de Trump como "um grande passo na direção correta".

Já Nancy Pelosi, líder dos democratas na Câmara de Representantes, considerou o anúncio "um compromisso sem limites com as vidas de cidadãos americanos, e sem consultar o povo americano".

 "Nada de novo"

Em sua primeira reação, o porta-voz dos talibãs Zabiullah Mujahid declarou à AFP que a estratégia apresentada por Trump é inócua e que "não há nada de novo" no discurso do presidente, que "foi confuso".

Um alto comandante dos talibãs disse à AFP que Trump se limita a perpetuar a "conduta arrogante" dos presidentes americanos anteriores, como George W. Bush. "Simplesmente estão desperdiçando soldados americanos. Sabemos como defender o nosso país" e a nova estratégia "não vai mudar nada".

"Se os Estados Unidos não retirarem suas tropas, o Afeganistão se tornará em breve um cemitério para esta superpotência do século XXI", afirmou Zabiullah Mujahid.

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