Trump obtém 2 vitórias em 2 meses ao mediar conflitos, mas Gaza acende alerta
Cessar-fogo obtido em janeiro foi desrespeitado por Israel, enquanto Putin aceitou conter ataques ao setor de energia da Ucrânia

Publicado em 19 de março de 2025 às 06h00.
Donald Trump conquistou a presidência dos Estados Unidos prometendo encerrar dois grandes conflitos globais, em Gaza e na Ucrânia. A poucos dias de completar dois meses no cargo, ele conseguiu tréguas parciais nos dois casos, que se tornaram símbolo de vitória para sua gestão. No entanto, um cessar-fogo pode durar pouco, como a retomada dos ataques deIsraelaGazamostrou nesta terça-feira.
No caso da Ucrânia, Trump mudou a forma de negociação dos EUA: buscou cortejar o presidente Vladimir Putin, com promessas como a de voltar a fazer negócios com empresas da Rússia, enquanto colocou a Ucrânia na parede.
Ele enquadrou o presidente Volodymyr Zelensky em público e chegou a anunciar a suspensão da ajuda militar americana. Depois disso, Zelensky aceitou um cessar-fogo de 30 dias, para o qual falta o aval de Putin.
Em vez disso, o líder russo aceitou, na terça, um cessar-fogo parcial, que envolve apenas parar de atacar as instalações de energia. É a primeira vez que a Rússia faz uma parada do tipo em suas operações militares na Ucrânia, país que invadiu em 2022.
As negociações seguem em busca de um cessar-fogo completo, com foco em conter os embates no Mar Negro.
Putin listou suas demandas: quer uma suspensão completa da ajuda militar estrangeira e do envio de informações de inteligência para Kiev, que a Ucrânia pare de recrutar novos soldados e que haja garantias de um acerto seja "estável e de longo prazo".
Nesta terça-feira, Trump voltou a acenar com ofertas de acordos econômicos para a Rússia, hoje alvo de sanções americanas que impedem empresas dos EUA de atuarem lá.
"Os dois líderes concordaram que um futuro com uma relação bilateral aprimorada entre os Estados Unidos e a Rússia tem um enorme potencial. Isso inclui enormes acordos econômicos e estabilidade geopolítica quando a paz for alcançada", disse a Casa Branca, em comunicado.
"No campo de batalha, a guerra continua. No meu entender, [o anúncio] foi uma forma de tentar ajudar Trump a ter uma narrativa de vitória", afirma Gunther Rudzit, especialista em segurança internacional e professor da ESPM.
"Enquanto Putin não conquistar aquilo que ele considera o mínimo para salvar sua narrativa e justificar todas essas mortes, ele não vai aceitar um cessar-fogo, e muito menos um acordo de paz", prossegue.
Cenas do conflito em Gaza

2 /8Um manifestante segura cartazes e uma vela durante um comício pró-palestino realizado para marcar o primeiro aniversário do conflito Israel-Hamas, em Quezon City, Metro Manila, em 7 de outubro de 2024(Um manifestante segura cartazes e uma vela durante um comício pró-palestino realizado para marcar o primeiro aniversário do conflito Israel-Hamas, em Quezon City, Metro Manila, em 7 de outubro de 2024)

3 /8Um homem lê um jornal em um banco enquanto policiais vigiam do lado de fora do Sydney Townhall antes de uma vigília à luz de velas por apoiadores pró-Palestina no primeiro aniversário do conflito Israel-Hamas, em Sydney, em 7 de outubro de 2024(Um homem lê um jornal em um banco enquanto policiais vigiam do lado de fora do Sydney Townhall antes de uma vigília à luz de velas por apoiadores pró-Palestina no primeiro aniversário do conflito Israel-Hamas, em Sydney, em 7 de outubro de 2024)

4 /8Manifestantes exibem uma bandeira palestina gigante durante uma marcha exigindo paz nos territórios palestinos e no Líbano, no âmbito do primeiro aniversário do conflito Israel-Hamas na Cidade da Guatemala em 6 de outubro de 2024(Manifestantes exibem uma bandeira palestina gigante durante uma marcha exigindo paz nos territórios palestinos e no Líbano, no âmbito do primeiro aniversário do conflito Israel-Hamas na Cidade da Guatemala em 6 de outubro de 2024)
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Gaza traz alerta
No Oriente Médio, o premiê israelense Benjamim Netanyahu disse que a retomada das ações no território palestino é " apenas o começo ".
Ele acusou o Hamas de não aceitar nenhuma das propostas feitas por Israel e pelos Estados Unidos para estender o cessar-fogo em Gaza.
O grupo pede há semanas às autoridades israelenses que se sentem e negociem os termos da segunda fase, que deveria ter começado em 1º de março.
Ao anunciar a retomada dos ataques, o governo israelense quis deixar claro que Trump havia concordado com a medida. Desde fevereiro, o líder americano vinha ameaçando o Hamas em postagens e dando ultimatos.
"Libere todos os reféns agora, não depois, e devolva imediatamente todos os corpos das pessoas que vocês mataram, ou ACABOU para vocês", postou o presidente, na semana passada, rompendo uma tradição americana de presidentes não tratarem diretamente com quem consideram como terroristas.
O republicano defendeu também transformar Gaza em uma área turística, uma " riviera do Oriente Médio " e expulsar seus moradores atuais, uma ideia rejeitada pela maioria dos países.
Em meio ao fim do cessar-fogo, Trump buscou projetar a imagem de que está no controle da situação, embora neste caso uma saída para a paz pareça ainda mais difícil, pois há um impasse forte.
"Desde o início do cessar-fogo, estava claro que haveria um choque entre a visão israelense e a do Hamas, porque Israel não aceita de jeito nenhum o Hamas continuar no controle de Gaza, e o Hamas não quer abrir mão", diz Rudzit.