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Trump leva a Helsinque política contraditória em relação à Rússia

Grande pergunta que analistas fazem é que tipo de proposta Trump colocará sobre a mesa quando se reunir com Putin em Helsinque, na próxima segunda, 16

Donald Trump: desde sua campanha, presidente americano elogiou Putin várias vezes e minimizou possibilidade de a Rússia ter interferido nas eleições de 2016 (Carlo Allegri/Reuters)

Donald Trump: desde sua campanha, presidente americano elogiou Putin várias vezes e minimizou possibilidade de a Rússia ter interferido nas eleições de 2016 (Carlo Allegri/Reuters)

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EFE

Publicado em 13 de julho de 2018 às 20h36.

Washington - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, irá a Helsinque para o encontro com Vladimir Putin levando na bagagem um contraste entre o discurso conciliador em relação à Rússia e as sanções de seu governo a Moscou, além do peso extra da investigação sobre a suposta ingerência russa nas eleições americanas de 2016.

Depois de mais de um ano de sinais contraditórios, a grande pergunta que muitos analistas políticos fazem é que tipo de proposta para a Rússia Trump colocará sobre a mesa quando se reunir com Putin em Helsinque, e se ela refletirá sua retórica amistosa em relação ao presidente russo ou a linha dura de seus assessores.

"Se você está em Moscou tentando desvendar a política dos EUA sobre a Rússia, não é uma tarefa fácil", disse à Agência Efe o ex-diplomata americano Steven Pifer, um especialista em Rússia que trabalha no centro de estudos Brookings.

A "grande maioria" dos responsáveis pela política externa dos EUA promove "a linha do aparelho do Partido Republicano" para a Rússia, ou seja, a postura dura quanto a Ucrânia, Síria e a suposta interferência eleitoral de Moscou, disse Pifer.

"Esta foi a política dos últimos 18 meses, mas não está claro se Trump concorda com tudo isso", afirmou.

"A reticência do presidente em criticar Putin, quando muitas ações russas do último ano e meio merecem ser criticadas, é algo muito desconcertante e muito difícil de entender", acrescentou.

Desde a campanha eleitoral, Trump elogiou Putin várias vezes e minimizou a possibilidade de a Rússia ter interferido nas eleições de 2016 para ajudá-lo a vencer, até o ponto de desafiar as conclusões das agências de inteligência americanas.

Trump prometeu abordar esse tema em Helsinque, mas não parece ter planos de estender demais a conversa se Putin negar qualquer ingerência, como fez nas duas reuniões prévias entre ambos, em julho de 2017, na Alemanha, e em novembro do mesmo ano, no Vietnã.

"Pode ser que (Putin) negue. Tudo o que posso dizer é 'você fez isso?' e 'não faça outra vez', mas pode ser que negue", disse Trump em entrevista coletiva na quinta-feira, em Bruxelas.

As agências de inteligência americanas temem uma possível interferência russa nas eleições legislativas de novembro nos EUA, mas Trump não esclareceu se também tem essa inquietação.

"O presidente fala sobre este assunto à sua maneira", defendeu na semana passada o embaixador americano em Moscou, Jon Huntsman.

O incômodo de Trump nesse âmbito parece se dever à sua frustração com a investigação do procurador especial Robert Mueller sobre a ingerência eleitoral russa, que continua aberta e que o presidente considera "uma caça às bruxas" contra ele.

Mas isso não explica todos os outros comentários de Trump, como sua insistência no retorno da Rússia ao G7, um fórum do qual foi expulsa em 2014 após a anexação do território ucraniano da Crimeia.

Alguns observadores temem inclusive que Trump mude a posição oficial dos EUA em relação à Crimeia, já que, durante a cúpula do G7, no mês passado, o presidente americano teria dito que a península deveria continuar nas mãos de Moscou, porque lá todos falam russo.

"O que acontecerá a partir de agora com a Crimeia? Não posso dizer", afirmou nesta quinta-feira Trump, que reiterou que a culpa de a Rússia ter invadido o território foi do seu antecessor, Barack Obama.

Por trás das declarações de Trump, seu governo manteve linha dura em relação à Rússia, iniciada durante os últimos anos do mandato de Obama, e inclusive "foi além", como na sua "decisão de proporcionar ajuda militar letal à Ucrânia", algo que o ex-presidente não fez por "cautela", lembrou Pifer.

Em abril, a Casa Branca tomou sua ação mais dura até agora ao sancionar sete oligarcas e 17 funcionários russos, entre eles o genro de Putin; mas Trump suspendeu nesse mesmo mês outra rodada de sanções relacionadas com a Síria que a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, tinha anunciado um dia antes.

Embora a Casa Branca tenha reagido ao suposto ataque contra o ex-espião russo Sergei Skripal com a expulsão dos EUA de 60 funcionários do governo russo, Trump ficou furioso quando foi informado que a resposta de seu governo tinha sido muito mais dura que a dos países europeus.

"Estes incidentes traçam um perfil preocupante de um presidente fora de sintonia com o próprio governo, às vésperas de uma cúpula com Putin cujos objetivos não estão claros", escreveu o analista Brian O'Toole, do Atlantic Council.

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