Donald Trump: em sua visão, a avalanche de acusações contra Sessions "é uma forma para que os democratas salvem a pele" (Jim Lo Scalzo/Pool/Reuters)
AFP
Publicado em 3 de março de 2017 às 13h50.
O presidente Donald Trump denunciou nesta quinta-feira uma "caça às bruxas" contra seu secretário de Justiça, Jeff Sessions, e outros colaboradores do governo por seus supostos contatos com funcionários russos durante a campanha eleitoral de 2016.
Sessions, muito próximo do presidente republicano, reconheceu ter encontrado o embaixador russo nos Estados Unidos em duas ocasiões no ano passado, contrariando com suas declarações recentes no Congresso.
"Jeff Sessions é um homem honesto", escreveu Trump em um comunicado na quinta-feira à noite, após um dia agitado por este caso no Capitólio e na imprensa. Mais cedo, ele já havia expressado a sua total confiança no secretário.
Trump admitiu que Sessions poderia ter dado respostas "mais precisas" quando garantiu publicamente não ter mantido contato com funcionários russos durante a campanha presidencial, apesar de se reunir com o embaixador de Moscou em Washington em duas ocasiões no ano passado.
Posteriormente, Sessions admitiu os contatos, mas na qualidade de senador e não de representante de campanha do bilionário. "Mas não foi intencional", defendeu o presidente. "Ele não disse nenhuma mentira", ressaltou.
Na visão de Trump, a avalanche de acusações contra Sessions "é uma forma para que os democratas salvem a pele após perder uma eleição que todos consideravam ganha", assegurando que a oposição "perdeu o senso de realidade".
"A verdadeira história, são todos os vazamentos ilegais de informações classificadas e outras informações. É uma verdadeira caça às bruxas!", concluiu.
Donald Trump tem tido dificuldades para acabar com esse assunto, que o obrigou a afastar seu conselheiro de segurança nacional, Michael Flynn, em 13 de fevereiro.
Um número crescente de parlamentares da oposição democrática, mas também da maioria republicana, pede que o secretário de Justiça se retire por conta própria da investigação conduzida pelo FBI sobre os ataques cibernéticos e de desinformação durante a campanha atribuídos a Moscou.
A existência desta investigação, relatada por vários jornais americanos, não foi confirmada oficialmente.
Numa coletiva de imprensa, Jeff Sessions, finalmente, anunciou na quinta-feira que não participaria de qualquer investigação sobre a campanha. Também explicou que era seu papel como senador se reunir com diplomatas e que havia falado de "coisas normais" com o embaixador russo, dizendo que não lembrava ter discutido a questão da eleição.
Este caso alimenta as suspeitas sobre a aproximação anunciada pelo novo inquilino da Casa Branca com Vladimir Putin.
Sob a administração Obama, Washington acusou Moscou de ter liderado em 2016 uma campanha de influência para desacreditar Hillary Clinton e ajudar seu oponente republicano.
Donald Trump sempre negou qualquer conluio, embora a investigação tem revelado contatos entre os membros de sua equipe e pessoas próximas ao Kremlin, de acordo com vários meios de comunicação.
De fato, o embaixador Sergei Kislyak parece ter fortes ligações com o círculo republicano, mesmo antes da eleição.
Tal fato foi evidenciado pelos encontros com Jeff Sessions em julho e setembro, telefonemas com Michael Flynn em dezembro, e uma visita no mesmo mês à Torre Trump em Nova York, durante a qual também se reuniu com o filho do presidente, Jared Kushner.
Por outro lado, nem o embaixador nem qualquer outra autoridade russa se encontrou com algum membro da equipe de campanha de Hillary Clinton, como confirmou à AFP o porta-voz da democrata.
A retratação de Jeff Sessions não será suficiente para os democratas, que continuaram a pedir a sua demissão, acusando-o de mentir. Eles também pedem a nomeação de um promotor independente para esclarecer a interferência russa e possíveis conluios políticos americanos.
Politicamente, este novo episódio coloca Donald Trump na defensiva, num momento em que tenta dar início a um pacote de reformas.