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Trump aceita U$ 50 bi dos sauditas

Andrew Ross Sorkin © 2017 New York Times News Service À medida que os flashs piscavam, o presidente-eleito Donald Trump caminhava pelo lobby da Trump Tower ao lado do agitado empresário japonês Masayoshi Son, em dezembro do ano passado. “Esse é o Masa, do SoftBank do Japão”, afirmou Trump antes de dizer que o SoftBank – […]

SON E TRUMP: metade do dinheiro do japonês vem de investidores sauditas, o que levanta uma questão política importante nos EUA / Hilary Swift/The New York Times

SON E TRUMP: metade do dinheiro do japonês vem de investidores sauditas, o que levanta uma questão política importante nos EUA / Hilary Swift/The New York Times

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Da Redação

Publicado em 16 de março de 2017 às 15h52.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h16.

Andrew Ross Sorkin
© 2017 New York Times News Service

À medida que os flashs piscavam, o presidente-eleito Donald Trump caminhava pelo lobby da Trump Tower ao lado do agitado empresário japonês Masayoshi Son, em dezembro do ano passado. “Esse é o Masa, do SoftBank do Japão”, afirmou Trump antes de dizer que o SoftBank – que está prestes a alcançar o incrível montante de 100 bilhões em fundos – havia prometido investir 50 bilhões nos Estados Unidos, criando 50.000 empregos no país.

“Esse é um dos caras mais incríveis do setor, então eu quero dar meu muito obrigado”, afirmou a Son, que foi um dos investidores iniciais no Yahoo e no Alibaba. Em fevereiro deste ano, ele comprou em Wall Street o Fortress Investment Group por 3 bilhões de dólares.

A sessão de fotos deveria fazer parte da campanha “EUA Primeiro”, encabeçada por Trump. O que não foi mencionado naquele dia – nem discutido desde então – é que o SoftBank Vision Fund de Son, avaliado em 100 bilhõe de dólaress, poderia ser facilmente descrito como uma fachada para a Arábia Saudita, além de outros países do Oriente Médio.

A Arábia Saudita tem a maior parte das ações do fundo, com cerca de 45 bilhões de dólares investidos. Uma estatal com sede em Abu Dhabi, a Mubadala Development, está em fase de negociação para investir outros 15 bilhões de dólares na empresa. O Qatar também está estudando investir no fundo. Isso não é segredo para ninguém que preste o mínimo de atenção nas notícias públicas a respeito do fundo.

Embora Son tenha se comprometido em controlar 25 por cento do fundo, quase nenhum centavo veio de investidores norte-americanos – com exceção de alguns investimentos nominais de 1 bilhão de dólares cada, incluindo a Apple, a Qualcomm e Larry Ellison, da Oracle.

O apoio de Trump a Son, e portanto à Arábia Saudita, na compra de algumas das empresas mais promissoras do Vale do Silício, assim como suas propriedades intelectuais, não parece estar em consonância com o discurso nacionalista do presidente. “Você aceitaria dinheiro dos sauditas?”, questionou Sean Hannity, da Fox News, no ano passado. “Não,” respondeu Trump, sem pestanejar.

Ao longo da campanha, Trump criticou os laços de Hillary Clinton com Riad, a capital da Arábia Saudita. “A safada da Hillary diz que temos que exigir que a Arábia Saudita e outros países parem de investir no ódio”, escreveu Trump em um post no Facebook. “Então é melhor que ela devolva logo os mais de 25 milhões de dólares que recebeu deles através da Fundação Clinton.”

Essas referências foram feitas no contexto político, mas também devem se aplicar aos negócios? Não estamos nos posicionando em relação à política, ou à moralidade de aceitar dinheiro da Arábia Saudita. A ideia é conversar sobre isso.

À medida que os Estados Unidos tentam alcançar a independência energética em relação ao Oriente Médio por razões políticas e econômicas, talvez estejamos assumindo a direção contrária quando o assunto são startups inovadoras.

Embora Trump queira estimular o investimento estrangeiro nos EUA, também fecha a cara na hora de falar sobre o Oriente Médio e o terrorismo. Quinze dos 19 sequestradores envolvidos nos ataques de 11 de setembro de 2001 eram cidadãos da Arábia Saudita.

No estilo típico de Trump, ele fez afirmações contraditórias em relação ao país: “A Arábia Saudita – e eu me dou muito bem com esses caras. Eles compram meus apartamentos”, afirmou Trump durante um comício. “Eles gastam 40, 50 milhões de dólares. Vocês acham que eu não vou gostar deles? Eu adoro esse povo!”

As leis da Arábia Saudita são consideradas antiéticas por muitos norte-americanos, e até mesmo em relação aos posicionamentos mais conservadores de Trump: as mulheres não podem dirigir, a homossexualidade é punível com apedrejamento até a morte e não existe liberdade religiosa.

Isso tudo torna ainda mais surpreendente o fato de que os grandes executivos de tecnologia e de bancos de investimento do Vale do Silício tenham feito fila para conhecer o Príncipe Mohammed bin Salman, o vice-príncipe herdeiro da Arábia Saudita, durante sua visita à Califórnia no ano passado. O tour incluiu reuniões com Tim Cook, da Apple, Mark Zuckerberg, do Facebook, Satya Nadella, da Microsoft, e capitalistas de risco como Marc Andreessen, Reid Hoffman e Peter Thiel.

Ou, talvez isso não seja nada surpreendente se levarmos em conta que o influxo de dinheiro saudita pode aumentar o valor de todas as empresas do Vale do Silício. Afinal, dinheiro é dinheiro.

Contudo, no ano passado quando a Arábia Saudita investiu 3,5 bilhões de dólares no Uber, isso levou a algum desconforto: a revista Fortune afirmou que o acordo “representa um tipo de dilema moral para o Vale do Silício; forçando empresas a pensar duas vezes sobre o histórico dos investidores e a capacidade de se proteger de seus princípios”.

A Arábia Saudita tem sido transparente em relação a seus planos de diversificação econômica, distanciando-se da dependência em relação ao petróleo. Parte do plano é comprar ativos em outros países, como de empresas de tecnologia dos EUA. Salman também é favorável a liberalizar algumas das regras que incomodam mulheres e outros grupos. Além disso, alguns especialistas em política internacional sugerem que laços mais próximos como esses investimentos podem ajudar a acelerar as reformas no país.

Sendo justos com Trump, se ele quiser trazer investimentos pesados para os EUA, vai ser difícil fazer isso sem envolver alguns países com os quais tem relacionamentos complicados. Existe muito dinheiro ligado a fundos nacionais.

Nem todo o investimento de 50 bilhões de dólares prometido por Son para os Estados Unidos virá do Vision Fund do SoftBank, que é financiado pela Arábia Saudita. Parte desse dinheiro deve vir diretamente do SoftBank, que é dono da Sprint e espera se fundir com a T-Mobile.

Com tudo isso em vista, dá para imaginar o que aconteceria se Trump se reunisse no lobby da Trump Tower com Salman e falasse sobre 50 bilhões de dólares em investimento nos Estados Unidos vindos diretamente da Arábia Saudita? É difícil imaginar – mas, como sempre, coisas mais estranhas que isso já aconteceram.

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