Pedestres passam por um bueiro ligado ao sistema de esgoto de Nova York, nos Estados Unidos (Chris Hondros/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 8 de setembro de 2014 às 17h54.
Nova York - Os antigos gregos usavam argila e pedra; os romanos, esponjas e água salgada. Os americanos optavam por trapos, jornais ou catálogos de produtos até 1890, quando os irmãos Scott popularizaram o rolo de papel higiênico.
Na última década os adultos se apoderaram das toalhinhas umedecidas que podem ser descartadas por meio da descarga, similares àquelas usadas para limpar bumbum de bebê, um produto que se tornou um ativo valorizado em um mercado estagnado.
A aceleração das vendas pode ser comprovada dentro das redes de esgotos do mundo, onde toneladas do produto entopem os equipamentos. Em Nova York e em Londres a moda da higiene custa aos governos milhões de dólares por ano.
Enquanto o aumento no lucro colide com o interesse público sobre uma infraestrutura de esgoto funcional, as autoridades estão discutindo a regulação e como avaliar o custo de desentupir o sistema.
Está em jogo nada menos que “a viabilidade a longo prazo dessa categoria de produto”, disse David Rousse, presidente da Association of the Nonwoven Fabrics Industry, uma associação com sede em Cary, Carolina do Norte, EUA, que representa os fabricantes do produto.
As autoridades do setor de águas residuais de Nova York e de outras cidades afirmam que, ao contrário do que dizem os anúncios, esses produtos não podem ser jogados no vaso sanitário e os adultos usam produtos como lenços umedecidos que são muito resistentes para dissolver.
A cidade de Nova York, que administra o maior sistema de esgoto dos EUA, investiu mais de US$ 18 milhões durante os últimos cinco anos substituindo e consertando bombas, engrenagens, válvulas e telas das estações de tratamento entupidas por um material parecido com tecido, que não se desintegra.
“Um número cada vez maior de adultos pensa que se é bom para os bebês, é bom para eles”, disse Vincent Sapienza, comissário adjunto do Departamento de Proteção Ambiental da cidade.
“Muitas marcas podem até dizer que seus produtos podem ser jogados nas privadas, mas eles acabam em nossas estações de esgoto totalmente intactos”.
Entupimento do sistema
As toalhinhas respondem por cerca de um terço dos detritos que entopem telas e bombas das estações de tratamento dos EUA e cerca de 30 por cento foram vendidas como descartáveis via descarga, disse Cynthia Finley, diretora de assuntos regulatórios da Associação Nacional de Agências de Água Limpa dos EUA, em Washington.
As vendas de toalhinhas umedecidas descartáveis via descarga são uma fonte de crescimento de vendas no setor doméstico de produtos de papel.
Elas subiram 23 por cento, para US$ 367 milhões, entre 2008 e 2013, segundo a Mintel Group, uma empresa internacional de pesquisa de mercado.
Com as autoridades que administram os esgotos subindo o tom, fabricantes como Kimberly-Clark e Procter Gamble Co. têm jogado na defesa.
“Nós investimos tempo e recursos significativos para entender os difíceis problemas enfrentados pelas agências que processam o esgoto e para desenvolver tecnologias para garantir que as toalhas descartáveis via descarga vendidas pela K-C são compatíveis com a descarga”, disse Eric Bruner, porta-voz da Kimberly-Clark.
A revista Consumer Reports e a Autoridade Regional do Sistema de Esgotos da Área de Plainfield, em Nova Jersey, realizaram experimentos com as toalhas. Ambas apontaram que as toalhinhas Cottonelle Fresh Care e Scott Naturals, da Kimberly-Clark, se dissolviam.
Já os produtos Charmin Freshmates, da Procter Gamble, e Equate Flushable Wipes, da Wal-Mart Stores, não se dissolveram.
“Nós as colocamos em um misturador cheio de água e os giramos em uma baixa velocidade para ver quanto tempo elas levavam para se desintegrar”, disse Cecilia Lehrman, editora-adjunta da Consumer Reports da editoria de casa e eletrodomésticos.
Após permanecerem na água por 24 horas, as toalhinhas da Procter Gamble e da Wal-Mart permaneceram intactas, disse ela.
“Temos certeza de que os produtos para descarte via descarga que vendemos são compatíveis com as bombas municipais”, disse Laura Dressman, porta-voz da Procter Gamble.
Os sites das empresas aconselham os consumidores a descartarem a maior parte das toalhas no lixo e dizem que os produtos anunciados como descartáveis via descarga cumprem as diretrizes estabelecidas para o setor.
As embalagens das toalhinhas não descartáveis via descarga possuem um logotipo na caixa com um vaso sanitário cortado por uma linha, disse Rousse.
As instruções para não jogar no vaso sanitário normalmente estão impressas em letra pequena em um lugar difícil de encontrar na caixa, disse Finley, da Associação de Agências de Água Limpa.