Tensões geopolíticas marcam estreia do Irã na Copa
Nesta sexta-feira, às 12h, a seleção asiática entra em campo para enfrentar o Marrocos, país com quem não tem relações diplomáticas
Da Redação
Publicado em 15 de junho de 2018 às 05h45.
Última atualização em 15 de junho de 2018 às 07h20.
Quando se trata do Irã , as relações internacionais e o cenário geopolítico estão sempre em campo. Com a Copa, não será diferente. Nesta sexta-feira, às 12h, a seleção asiática entra em campo para enfrentar o Marrocos, país com quem não tem relações diplomáticas. Em maio, os marroquinos romperam com os iranianos sob acusações de que o Hezbollah, grupo militar financiado por Teerã, estaria armando rebeldes no Marrocos.
É mais um capítulo numa rivalidade entre os sunitas marroquinos e os xiitas iranianos. Em campo, os dois países têm a ousada pretensão de roubar uma vaga de Portugal ou Espanha na segunda fase. O Irã vai a sua segunda Copa seguida depois de quase arrancar um empate com a Argentina no Brasil. O Marrocos tem a seleção mais “internacional” do mundial, com 17 jogadores nascidos fora do país.
Para os iranianos, até mesmo o fornecimento de material esportivo virou uma questão geopolítica. No início desta semana, a Nike anunciou que não forneceria chuteiras à seleção iraniana, por conta de sanções econômicas contra o país.
As sanções vieram na esteira de uma decisão recente do presidente americano Donald Trump, que resolveu retirar os Estados Unidos do acordo nuclear firmado com o Irã em 2015. O acordo retirou as sanções econômicas antes impostas ao país, que, em troca, concordou em diminuir seu programa de enriquecimento e não fabricar armas nucleares.
No momento em que Trump saiu do acordo, a Casa Branca anunciou que as sanções americanas contra o Irã seriam re-impostas. Nesse cenário, a Nike afirmou, em nota, que, como uma companhia americana, não pode fornecer as chuteiras para os jogadores da seleção iraniana. De acordo com o Tesouro americano, qualquer empresa americana que violar as regras pode ser penalizada com multas pesadas.
O técnico do time, o português Carlos Queiroz, disse que pediria ajuda à Fifa —aparentemente sem sucesso, já que a organização não se pronunciou sobre o caso. “Os jogadores se acostumam com seus equipamentos e não é certo mudá-los a uma semana de jogos tão importantes”.
Em casa, os iranianos começaram uma campanha nas redes sociais pelo boicote de produtos da empresa, usando o slogan “Não à Nike”. Em vídeos publicados nas plataformas sociais, iranianos aparecem jogando fora produtos da companhia. “Quando o Irã se recusa a jogar contra Israel é uma interferência política nos esportes, mas quando a Nike se recusa a fornecer as chuteiras para os jogadores por causa de sanções, a Fifa não diz uma palavra”, afirmou um usuário no Twitter —inimigos históricos, o governo do Irã não reconhece Israel e não permite que seus esportistas joguem contra os israelenses em nenhum evento.
Em meio a tudo isso, os jogadores iranianos entram em campo às 12h com chuteiras compradas por eles mesmos ou emprestadas dos não-iranianos que jogam pelo país —isso sem ter sofrido nenhuma derrota nas eliminatórias asiáticas.