Suécia não adota confinamentos ou medidas coercitivas na 2ª onda de covid-19 (Anadolu Agency / Colaborador/Getty Images)
AFP
Publicado em 23 de outubro de 2020 às 09h03.
Enquanto grande parte da Europa endurece as medidas para conter a pandemia de covid-19, a Suécia mantém sua estratégia, com ajustes ao aumento de casos, mas sem confinamentos ou medidas coercitivas.
Nos últimos dias, o país nórdico anunciou recomendações mais rígidas, mas também flexibilizou várias medidas, dando sequência a sua surpreendente tática solitária.
O número de casos aumenta regularmente desde meados de setembro. Na quinta-feira, as autoridades de saúde registraram 1.614 novos infectados pela covid-19, o maior número desde junho.
Uma tendência de alta similar à maioria dos países europeus, que para conter o vírus decidiram adotar confinamentos parciais ou toques de recolher.
Menos estrita, a Suécia, que tem o balanço de 5.930 mortes por covid-19 desde o início da pandemia e registrou durante a primeira onda uma das taxas de mortalidade mais elevadas Europa, tenta ajustar sua abordagem.
No início da semana, o governo decretou novas medidas na cidade universitária de Uppsala, a 70 quilômetros da capital Estocolmo, que vive um aumento de casos desde o retorno das aulas no início do outono (hemisfério norte, primavera no Brasil).
Agora, os moradores receberam a recomendação para que evitem os transportes públicos e os contatos físicos com as pessoas que não moram na mesma residência até 3 de novembro.
"As pessoas só conseguem aguentar medidas tão estritas por um período limitado e o momento é importante. Não se pode começar muito cedo nem esperar muito tempo (...) esperamos que seja o momento correto", justifica o epidemiologista Anders Tegnell, coordenador da estratégia sueca.
Ao contrário de boa parte do mundo, a Suécia é um dos poucos países que não recomenda o uso da máscara: as autoridades de saúde não a consideram muito eficaz.
Em Estocolmo, ao menos aparentemente, a vida diária não mudou muito desde o início da pandemia. A maioria dos moradores caminha com o rosto descoberto. Restaurantes e lojas nunca fecharam as portas.
Embora as imagens de ônibus e restaurantes lotados tenham dado a volta ao mundo, vários estudos mostram que 80% dos suecos mudaram de hábitos, em um país conhecido pela disciplina social.
As autoridades recomendaram à população que adote o teletrabalho, limite seus contatos e lave as mãos com frequência.
No bairro de Södermalm, em Estocolmo, onde centenas de ciclistas e pedestres se apressam no horário de maior movimento do dia, Roger Palmqvist afirma à AFP que confia na estratégia adotada pelas autoridades.
O idoso, no entanto, reconhece que a abordagem sueca não funcionaria em todos os países. "Ninguém obriga, mas os suecos são assim, seguem as regras.
Na quinta-feira, o governo surpreendeu ao retirar as recomendações específicas para as pessoas de risco, sobretudo aquelas com mais de 70 anos, que receberam a recomendação de permanecer em casa desde o início da epidemia.
Para justificar a decisão, as autoridades afirmaram que temem problemas de saúde como a depressão ou a solidão vinculadas ao isolamento.
No início de outubro, o governo também acabou com a proibição de visitas a casas de repouso, uma das poucas limitações decretadas durante a epidemia.
Embora as reuniões com mais de 50 pessoas continuem proibidas desde o fim de março, o governo aumentou o limite a 300 pessoas para as atividades culturais e esportivas.
As pesquisas mostram que a maioria dos suecos apoia a abordagem do governo. Mas a estratégia tem críticos, tanto no país como no exterior.
No início da epidemia, algumas pessoas acusaram a Suécia de jogar roleta russa com a população, com um número de morte muito superior ao dos países vizinhos que adotaram medidas mais rígidas.
O governo defende seu modelo e cita medidas pertinentes de longo prazo, para uma "maratona" e não para um "sprint".
Para Johan Carlson, diretor da Agência Sueca de Saúde Pública, trata-se de "criar uma situação em que se possa viver uma vida o mais próximo do normal possível dentro das restrições" e onde a estratégia é amplamente aceita e seguida.
O restante da Europa mostra, segundo ele, que os confinamentos e desconfinamentos "não são um caminho a seguir".