Strauss-Kahn era negociador chave de resgate à UE
Escândalo envolvendo o diretor-gerente do FMI deixa a entidade sem o principal articulador das ajudas à Portugal, Grécia e Irlanda
Da Redação
Publicado em 17 de maio de 2011 às 18h06.
Washington, 17 mai (EFE).- O escândalo que atinge o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, desperta debates nesta semana em Washington, onde se discute o impacto de sua previsível saída de um organismo completamente envolvido na solução da crise financeira da Europa.
"Tudo indica que Strauss-Kahn queria concorrer à Presidência francesa e claramente estava interessado em evitar qualquer desastre na Europa durante seu mandato", disse à Agência Efe Mark Weisbrot, codiretor do centro de estudos Center for Economic and Policy Research.
Uma eventual renúncia antecipada de Strauss-Kahn, diz Weisbrot, poderia fazer com que as coisas piorassem no que se refere aos empréstimos do Fundo aos países europeus que passam por crises financeiras.
Preso no sábado em Nova York, acusado de crimes sexuais contra uma camareira do hotel Sofitel, o ex-ministro de Economia da França deveria ter se reunido no domingo com a chanceler alemã, Angela Merkel, na Europa, para falar sobre a deterioração da situação econômica na Grécia.
A economia grega sofreu contração de 4% neste ano em consequência das fortes medidas de austeridade estipuladas pela comunidade internacional para reduzir a dívida do país e controlar os gastos públicos.
Strauss-Kahn se opõe à manutenção das medidas de austeridade, lembrando que elas devem agravar ainda mais a situação no país. Sua saída do FMI deixaria o Governo do primeiro-ministro grego, Giorgos Papandreou, sem um aliado-chave e dificultaria a negociação de um novo pacote de ajuda, ao qual se opõem os eleitores da Alemanha e de outros países nórdicos da Europa.
Além de Atenas, Strauss-Kahn exerceu também um papel crucial na negociação dos pacotes de ajuda para Irlanda e Portugal, por isso, seu abrupto desaparecimento de cena pode ser considerado particularmente infeliz para as negociações.
Strauss-Kahn conseguiu aumentar os recursos do FMI após a recente crise financeira, melhorou a governabilidade e a relevância da instituição, ao mostrar uma atitude mais pragmática que dogmática.
"Em minha opinião, foi um dos melhores responsáveis do FMI", disse à Efe Jo Marie Griesgraber, diretora-executiva do centro New Rules for Global Finance.
"Envolve-se pessoalmente nos temas, é inteligente, busca soluções criativas e pontos de vista alternativos", acrescentou Griesgraber, que insistiu que o FMI é "incrivelmente dependente" da liderança de seu diretor-gerente.
"Graças a seu olfato político, sua liderança e seus contatos colocaram o FMI em posição de se transformar em um ator global", destacou o especialista.
Eleito diretor-gerente do FMI em setembro de 2007, sucedendo no cargo o espanhol Rodrigo de Rato, o ex-ministro francês assumiu a chefia do Fundo quando a entidade estava imersa em uma profunda crise de identidade.
"O que pode estar em perigo atualmente é a própria existência do FMI como principal instituição encarregada de ajudar a garantir a estabilidade financeira", afirmara Strauss-Kahn em 2007, diante do conselho executivo do Fundo, pouco antes de ser eleito para a chefia da entidade.
"Os dois principais temas são a relevância e a legitimidade", acrescentara Strauss-Kahn. Na opinião generalizada dos analistas, esses dois temas melhoraram durante sua gestão.
A liderança do francês no Fundo se caracterizou por sua capacidade de incorporar as críticas e fazer o "mea culpa" quando a situação o exigisse.
Strauss-Kahn deu provas dessa capacidade durante a recente assembleia da instituição, quando reconheceu que o FMI não foi capaz de prever as revoltas populares no Norte da África e no Oriente Médio.
"Certamente o que ocorreu no Norte da África é uma boa lição para nós, porque nos mostra que não é suficiente levar em conta só os grandes números macroeconômicos e temos muito a ver além disso", disse Strauss-Kahn no encontro, em abril.
Sua trajetória à frente do organismo se viu interrompida dramaticamente no sábado, quando, acusado de tentar estuprar uma camareira de hotel, foi preso pela Polícia nova-iorquina dentro do avião da companhia Air France que o levaria a Paris. Muitas dúvidas ainda rondam o episódio, mas ele já ameaça acabar com sua bem-sucedida carreira política.
O responsável do FMI passou na segunda-feira sua primeira noite na prisão de Rikers Island, em Nova York, e terá uma audiência na Justiça americana na próxima sexta-feira.
Washington, 17 mai (EFE).- O escândalo que atinge o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, desperta debates nesta semana em Washington, onde se discute o impacto de sua previsível saída de um organismo completamente envolvido na solução da crise financeira da Europa.
"Tudo indica que Strauss-Kahn queria concorrer à Presidência francesa e claramente estava interessado em evitar qualquer desastre na Europa durante seu mandato", disse à Agência Efe Mark Weisbrot, codiretor do centro de estudos Center for Economic and Policy Research.
Uma eventual renúncia antecipada de Strauss-Kahn, diz Weisbrot, poderia fazer com que as coisas piorassem no que se refere aos empréstimos do Fundo aos países europeus que passam por crises financeiras.
Preso no sábado em Nova York, acusado de crimes sexuais contra uma camareira do hotel Sofitel, o ex-ministro de Economia da França deveria ter se reunido no domingo com a chanceler alemã, Angela Merkel, na Europa, para falar sobre a deterioração da situação econômica na Grécia.
A economia grega sofreu contração de 4% neste ano em consequência das fortes medidas de austeridade estipuladas pela comunidade internacional para reduzir a dívida do país e controlar os gastos públicos.
Strauss-Kahn se opõe à manutenção das medidas de austeridade, lembrando que elas devem agravar ainda mais a situação no país. Sua saída do FMI deixaria o Governo do primeiro-ministro grego, Giorgos Papandreou, sem um aliado-chave e dificultaria a negociação de um novo pacote de ajuda, ao qual se opõem os eleitores da Alemanha e de outros países nórdicos da Europa.
Além de Atenas, Strauss-Kahn exerceu também um papel crucial na negociação dos pacotes de ajuda para Irlanda e Portugal, por isso, seu abrupto desaparecimento de cena pode ser considerado particularmente infeliz para as negociações.
Strauss-Kahn conseguiu aumentar os recursos do FMI após a recente crise financeira, melhorou a governabilidade e a relevância da instituição, ao mostrar uma atitude mais pragmática que dogmática.
"Em minha opinião, foi um dos melhores responsáveis do FMI", disse à Efe Jo Marie Griesgraber, diretora-executiva do centro New Rules for Global Finance.
"Envolve-se pessoalmente nos temas, é inteligente, busca soluções criativas e pontos de vista alternativos", acrescentou Griesgraber, que insistiu que o FMI é "incrivelmente dependente" da liderança de seu diretor-gerente.
"Graças a seu olfato político, sua liderança e seus contatos colocaram o FMI em posição de se transformar em um ator global", destacou o especialista.
Eleito diretor-gerente do FMI em setembro de 2007, sucedendo no cargo o espanhol Rodrigo de Rato, o ex-ministro francês assumiu a chefia do Fundo quando a entidade estava imersa em uma profunda crise de identidade.
"O que pode estar em perigo atualmente é a própria existência do FMI como principal instituição encarregada de ajudar a garantir a estabilidade financeira", afirmara Strauss-Kahn em 2007, diante do conselho executivo do Fundo, pouco antes de ser eleito para a chefia da entidade.
"Os dois principais temas são a relevância e a legitimidade", acrescentara Strauss-Kahn. Na opinião generalizada dos analistas, esses dois temas melhoraram durante sua gestão.
A liderança do francês no Fundo se caracterizou por sua capacidade de incorporar as críticas e fazer o "mea culpa" quando a situação o exigisse.
Strauss-Kahn deu provas dessa capacidade durante a recente assembleia da instituição, quando reconheceu que o FMI não foi capaz de prever as revoltas populares no Norte da África e no Oriente Médio.
"Certamente o que ocorreu no Norte da África é uma boa lição para nós, porque nos mostra que não é suficiente levar em conta só os grandes números macroeconômicos e temos muito a ver além disso", disse Strauss-Kahn no encontro, em abril.
Sua trajetória à frente do organismo se viu interrompida dramaticamente no sábado, quando, acusado de tentar estuprar uma camareira de hotel, foi preso pela Polícia nova-iorquina dentro do avião da companhia Air France que o levaria a Paris. Muitas dúvidas ainda rondam o episódio, mas ele já ameaça acabar com sua bem-sucedida carreira política.
O responsável do FMI passou na segunda-feira sua primeira noite na prisão de Rikers Island, em Nova York, e terá uma audiência na Justiça americana na próxima sexta-feira.