Mundo

Sombra de Trump paira sobre corrida presidencial francesa

O primeiro-ministro francês considerou "possível" que Marine Le Pen vença a eleição de 2017, alertando para "o perigo da extrema-direita"

França: Marine Le Pen continua a saudar o advento de um candidato "antissistema" para dirigir a primeira potência mundial e espera um efeito dominó (./Getty Images)

França: Marine Le Pen continua a saudar o advento de um candidato "antissistema" para dirigir a primeira potência mundial e espera um efeito dominó (./Getty Images)

A

AFP

Publicado em 17 de novembro de 2016 às 13h24.

Última atualização em 17 de novembro de 2016 às 15h22.

A eleição de Donald Trump à Casa Branca com um programa populista paira sobre a corrida presidencial na França e alimenta as tensões entre os candidatos das primárias da direita, face a uma extrema direita cada vez mais forte.

Nesta quinta-feira, o primeiro-ministro francês Manuel Valls considerou "possível" que Marine Le Pen, a candidata da Frente Nacional, vença a eleição presidencial de maio de 2017, alertando para "o perigo da extrema-direita".

O assunto "Trump" será inevitavelmente discutido nesta quinta durante o último debate televisivo entre os sete candidatos nas primárias da direita, antes da primeira rodada de votação prevista para domingo.

O desafio destas primárias é grande: nas pesquisas de opinião, o campeão designado pela direita ganharia a eleição presidencial no segundo turno contra a presidente da Frente Nacional, Marine Le Pen.

Os dois favoritos, o ex-primeiro-ministro Alain Juppé e o ex-presidente Nicolas Sarkozy, são apresentados como o melhor remédio para a extrema-direita, mas com estratégias radicalmente diferentes.

Pronto para capitalizar a rejeição às elites e à globalização, Nicolas Sarkozy, de 61 anos, tem se auto-proclamado "defensor dos desmunidos", muito diferente de sua imagem de "presidente dos ricos" herdada de sua passagem pelo Eliseu entre 2007 e 2012.

Ele adotou uma linha muito de direita para responder às preocupações dos franceses referentes a imigração, o Islã ou a segurança em um país traumatizado por uma série de atentados terroristas e preocupado pela crise migratória que a Europa enfrenta.

"Quanto de Brexit, de eleições americanas, de referendos europeus perdidos vai demorar para finalmente ouvirmos a raiva do povo?", lançou na terça-feira o ex-chefe de Estado.

Seu objetivo: seduzir os militantes radicais do seu partido Republicanos, mas também vozes da extrema-direita.

'Mini-Trump'

Inversamente, Alain Juppé, de 71 anos, aposta nos votos dos eleitores da direita moderada e do centro para vencer as primárias e, em seguida, em sua capacidade de reunir todos aqueles que rejeitam a extrema-direita para ganhar a eleição presidencial.

Ele que se recusa a "correr atrás da FN", não quer "jogar o povo contra as elites", como ele disse em seu último comício na segunda-feira.

"Nós não queremos um presidente que flerta todas as manhãs com as teses da extrema-direita... A França não precisa de um mini-Trump no Eliseu", ressaltouum dos seus apoiantes, o centrista Jean-Christophe Lagarde.

Marine Le Pen pensa exatamente o contrário e continua a saudar o advento de um candidato "antissistema" para dirigir a primeira potência mundial e espera um efeito dominó.

Nos Estados Unidos ou na Grã-Bretanha com o Brexit, "as grandes ideias que eu defendo ganharam", comemorou na quarta-feira. "Registramos vitórias ideológicas diárias. Agora, temos de transformá-las em vitória política".

"Eu sou muito prudente quanto a uma possível influência da eleição de Trump sobre o comportamento elitoral" dos franceses, afirma Frederic Dabi, do instituto de pesquisas IFOP. No entanto, tal vitória "enfatiza estratégias já trabalhadas" pelos candidatos, analisa.

Depois de deixar o governo socialista neste verão, denunciando um "sistema político bloqueado", o ex-ministro da Economia Emmanuel Macron, de 38 anos, formalizou a sua candidatura posando como uma nova alternativa.

Ele pediu para "acabar com o status quo" político e "com as receitas do século passado" para enfrentar os desafios de um "mundo em rápida mudança".

Sua entrada na corrida à presidência fragmenta um pouco mais a esquerda, ainda à espera de saber se François Hollande, presidente socialista cuja impopularidade é abismal, vai ou não concorrer a um segundo mandato.

Seu posicionamento "não é nem de esquerda nem de direita", o que também poderia perturbar o jogo da direita, capturando os votos do centro cortejado por Alain Juppé.

Em seu próprio campo, Alain Juppé também tem que lidar com um terceiro homem: o ex-primeiro-ministro François Fillon (2007-2012), candidato muito apreciado no mundo corporativo que tem registrado uma forte recuperação e pode ser capaz de ameaçar o duelo entre Juppé e Sarkozy.

"No eleitorado do centro, que é o de Juppé, existe uma real transferência para Fillon," disse Frederic Dabi, do IFOP.

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpEstados Unidos (EUA)França

Mais de Mundo

Legisladores democratas aumentam pressão para que Biden desista da reeleição

Entenda como seria o processo para substituir Joe Biden como candidato democrata

Chefe de campanha admite que Biden perdeu apoio, mas que continuará na disputa eleitoral

Biden anuncia que retomará seus eventos de campanha na próxima semana

Mais na Exame