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Solitária e gelada, Buenos Aires volta ao confinamento rigoroso

Em meio à pandemia do novo coronavírus, muitos se preocupam que a economia argentina, em recessão desde 2018, seja dizimada

Argentina: país está readotando as medidas de isolamento por causa da nova alta de casos de coronavírus (AFP/AFP)

Argentina: país está readotando as medidas de isolamento por causa da nova alta de casos de coronavírus (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 1 de julho de 2020 às 19h31.

Última atualização em 1 de julho de 2020 às 22h12.

Solitária, em um dia gelado de inverno, Buenos Aires voltou nesta quarta-feira (1) à fase mais restritiva do confinamento iniciado em 20 de março, com a intenção de conter os contágios pela covid-19.

Mas muitos se preocupam que a economia argentina, em recessão desde 2018, seja dizimada.

"Não nos contagiamos com o coronavírus, mas com mais de cem dias de pandemia, vamos ficar loucos", afirmou Mirta Blakoviz, estilista de 56 anos, que ficou "quase em trabalho".

Ônibus que circulavam com apenas meia dúzia de passageiros e um forte colapso nos acessos viários da cidade por causa de blitzes marcaram o dia. As autoridades esperam reduzir à metade o trânsito de pessoas nesta etapa que se estenderá até pelo menos 17 de julho.

O uso de máscaras é obrigatório e as autoridades prometeram aumentar a testagem e o isolamento de pessoas infectadas.

Até agora foram renovadas pouco mais de dois milhões de permissões de circulação para trabalhadores de atividades essenciais na região metropolitana de Buenos Aires, onde vivem 14 milhões de pessoas e onde se concentram mais de 90% dos novos casos de COVID-19 na Argentina.

- "Liberar endorfina" -

O prefeito da capital, Horacio Rodríguez Larreta (oposição), continuará permitindo os passeios de crianças aos fins de semana na cidade, mas proibiu as atividades físicas ao ar livre.

Adrián Planes, contador de 40 anos, lamenta. "O que me interessa no esporte é liberar endorfina e poder sentir esse cansaço físico que motiva a gente depois para fazer outras coisas, muda o humor", comentou.

Desde os primeiros dias de março, a Argentina registrou 64.517 contágios e 1.310 pessoas faleceram, cifras que mostram uma evolução contida da epidemia. Mas as autoridades temem uma aceleração da curva durante o inverno.

A ocupação de leitos de terapia intensiva está em 50,5% no país e em 55,5% na região metropolitana de Buenos Aires, mas na semana passada o aumento na capital e sua periferia foi de 30%, segundo o Ministério da Saúde.

- Poucos clientes -

Claudia Torres se sente afortunada porque seu pequeno negócio que vende embutidos, pão, azeite, farinha, massa e vinho permanece aberto. Mas nesta quarta-feira, os clientes eram poucos.

"Já tive que mudar. Antes me dedicava sobretudo a vender almoços prontos aos garotos dos colégios vizinhos. Com as aulas suspensas, eu os perdi e hoje que as pessoas quase não saem às ruas, volto a sentir o golpe", disse à AFP.

Mais de 350.000 estabelecimentos comerciais que tinham reaberto na região metropolitana da capital, entre eles lojas de roupas, calçados, móveis e brinquedos, tiveram que voltar a fechar, com o restabelecimento das restrições sanitárias, que só permitem o funcionamento de lojas de alimentos e farmácias.

Segundo um estudo da Federação de Comércio e Indústria da Cidade de Buenos Aires (Fecoba), pelo menos 18% dos 110.000 negócios da capital fechou definitivamente as portas desde o início da pandemia.

A reativação de hotéis, academias, lava-jatos e salões de cabeleireiro não foi autorizada até agora e os restaurantes só podem funcionar com entregas a domicílio.

Com outras atividades bloqueadas, como a da construção, o Produto Interno Bruto do país encolheu 26,4% em abril, o momento mais estrito da quarentena. O FMI prevê queda de 9,9% este ano para o país, o que o situa na lista dos mais afetados pela debacle mundial.

- "Sair logo" -

Diante dos números negativos, o presidente do país, Alberto Fernández, insiste em que o primordial é cuidar da saúde. "A economia se deteriora, mas se recupera, o que não vamos recuperar são esses mil argentinos que nos deixaram", disse nesta sexta, ao anunciar o retorno das restrições.

Na Villa 31, um dos bairros marginais de Buenos Aires, Mercedes reza para que a pandemia acabe. Empregada doméstica e mãe de um adolescente, ela não trabalha há mais de três meses.

"Aqui no bairro houve muitos casos, mas agora não mais. Agora, todos usam máscara porque agora acreditam na doença. Se continuarmos assim, vamos poder sair logo", disse.

Nos bairros vulneráveis de Buenos Aires, foram registrados 9.501 casos de COVID-19, com 5.346 recuperados e 89 falecidos.

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