Parentes das vítimas do desastre aéreo: espera no necrotério de Karachi (Ashraf KHAN/AFP Photo)
Ivan Padilla
Publicado em 23 de maio de 2020 às 13h12.
Última atualização em 26 de maio de 2020 às 16h02.
Mohammad Zubair foi um dos dois sobreviventes do acidente de um Airbus A320 na sexta-feira 22 de maio numa área residencial em Karachi, a grande cidade do sul do Paquistão, no qual 97 pessoas morreram.
Depois que o avião tocou o chão, "recuperei a consciência e vi fogo por toda parte. Não via ninguém", lembra o jovem de 24 anos, cujo relato de 53 segundos de seu leito no hospital se tornou viral nas redes sociais.
"Havia gritos de crianças, adultos e idosos, em todos os lugares. Todos estavam tentando sobreviver."
"Soltei o cinto de segurança, vi luz e tentei ir nessa direção. Funcionou. A partir daí, pulei [para fora da aeronave]", continua em voz clara, rosto visivelmente incólume após o desastre.
Segundo um funcionário do Ministério da Saúde de Sindh, província cuja capital é Karachi, Mohammad Zubair sofreu queimaduras, mas sua condição é estável.
O outro sobrevivente é o presidente do Bank of Punjab, um dos maiores bancos do país, Zafar Masud, segundo o presidente da companhia aérea Pakistan International Airlines (PIA), Arshad Malik.
O A320 da PIA proveniente de Lahore caiu numa área residencial quando se aproximava do Aeroporto de Karachi no início da tarde de sexta-feira após uma falha técnica, matando 97 das 99 a bordo, incluindo oito tripulantes, de acordo com várias fontes.
Ainda não há informações de vidas em terra.
As operações de resgate terminaram no amanhecer deste sábado, segundo as autoridades. Durante toda a sexta-feira, equipes de resgate e moradores revistaram os escombros em busca de corpos.
Um jornalista da AFP viu vários corpos carbonizados sendo carregados para uma ambulância.
O voo PK8303 "perdeu contato com o controle de tráfego aéreo às 14h37" (6h37 de Brasília), segundo o porta-voz da PIA, Abdullah Hafeez.
Uma gravação autenticada por um porta-voz da PIA revela um pedido de socorro do piloto à torre de controle, na qual declara: "Perdemos os motores".
O CEO Arshad Malik prometeu uma investigação "transparente".
O piloto era experiente, segundo o ministro, e a aeronave, colocada em serviço em 2004, voava para a PIA desde 2014, como informa um comunicado de imprensa da Airbus.
"Vi um passageiro saindo do avião (...) ele estava vivo. Ele estava falando. Ele me pediu para salvá-lo, mas suas pernas estavam presas na saída de emergência", contou Raja Amjad, uma testemunha que pouco antes viu um corpo "cair em seu carro".
Sarfraz Ahmed, um bombeiro, disse à AFP que muitas das vítimas ainda usavam cinto de segurança.
Até o momento, 21 pessoas foram identificadas, algumas das quais já foram enterradas.
Um major, que morreu com sua esposa e dois filhos, recebeu um funeral militar, seu caixão coberto com a bandeira nacional. Pelo menos dois outros oficiais foram enterrados em Karachi.
Testes de DNA são realizados na Universidade de Karachi para determinar quem são as outras vítimas.
Segundo o ministro das Relações Exteriores Shah Mahmood Qureshi, o avião tinha muitas pessoas voltando para casa para o Eid el-Fitr, a celebração do fim do Ramadã, feriado mais importante para os muçulmanos.
O acidente ocorre poucos dias após o país autorizar a retomada dos voos comerciais domésticos, suspensos por mais de um mês para combater a propagação do novo coronavírus.
Acidentes envolvendo aeronaves e helicópteros civis e militares ocorrem com frequência no Paquistão.
O último grande acidente aéreo no país foi em dezembro de 2016. Um avião da PIA que realizava um voo doméstico caiu no norte montanhoso, matando 47 pessoas.