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Soberania grega deve ser limitada, diz Juncker

Presidente do Eurogroup diz que país deve fazer esforço de privatizações semelhante ao da Alemanha Oriental na década de 90

Protesto na Grécia: população é contra as privatizações defendidas pela UE (Aris Messinis/AFP)

Protesto na Grécia: população é contra as privatizações defendidas pela UE (Aris Messinis/AFP)

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Da Redação

Publicado em 4 de julho de 2011 às 09h34.

Berlim - A Grécia pode sofrer grandes restrições na sua soberania e deve privatizar ativos do Estado em uma escala similar à feita pela Alemanha Oriental nos anos 90, depois da queda do comunismo, disse o presidente do Eurogroup, Jean-Claude Juncker.

Em uma entrevista publicada depois que os ministros das Finanças da zona do euro no Eurogroup aprovaram um empréstimo de 12 milhões de euros ao país, Juncker disse estar otimista de que medidas negociadas com Atenas vão ajudar a resolver os problemas do país.

"A soberania da Grécia será grandemente limitada," afirmou Juncker à revista Germany's Focus, em entrevista publicada neste domingo. Ele também disse que equipes de especialistas da zona do euro irão para a Grécia.

"Para a onda de privatizações que virá, eles vão precisar, por exemplo, de uma solução baseada em um modelo da 'agência Treuhand', da Alemanha," afirmou Juncker, referindo-se à agência de privatizações que vendeu 14 mil empresas da Alemanha Oriental entre 1990 e 1994.

O Parlamento grego votou na quinta-feira a montagem de uma agência de privatizações devido a projetos de austeridade acertados com a União Europeia e o FMI (Fundo Monetário Internacional), o que provocou violentos protestos das ruas de Atenas.

Os gregos estão sensíveis às violações de sua soberania ou indicações de que "comissários" estrangeiros se envolverão na governança do país.

"Não podemos deixar que alguém insulte os gregos. Mas alguém tem que ajudá-los. Eles disseram estar prontos para receber expertise da zona do euro," afirmou Juncker.

Atenas deve vender cinco bilhões de euros em ativos do Estado só neste ano ou então correr o risco de não atingir as metas do programa da UE e do FMI, o que poderia cortar o fluxo de financiamentos cruciais para manter o governo funcionando e evitar a moratória da dívida.


Uma repetição da experiência da Treuhand pode ser amarga para os gregos, que já sofrem com crescente desemprego e uma recessão que já está em seu terceiro ano.

Naquela época a maior holding do mundo, a Treuhand tinha que vender propriedades do Estado com lucro, mas fechou seus balanços com um déficit gigantesco e um legado de crueldade para o grande número de trabalhadores cujos empregos foram destruídos.

Quatro milhões de alemães estavam empregados em empresas controladas pela Treuhand em 1990, mas apenas 1,5 milhão de postos de trabalho sobraram em 1994, quando a agência fechou.

Em vez de colher os lucros e distribuir para toda a população da Alemanha Oriental, como foi projetada para fazer, a holding ficou com um déficit de 172 milhões de dólares com a venda de ativos.

"NÃO TOTALMENTE FUNCIONAL" Juncker, que também é primeiro-ministro de Luxemburgo, levantou inicialmente a ideia de uma agência como a Treuhand para a Grécia em maio. Ele disse acreditar que o país pode levantar consideravelmente mais do que 50 bilhões de euros em vendas de ativos.

"O atual pacote de medidas, ao qual Atenas concordou, trará solução para a questão grega," afirmou Juncker na entrevista à revista. Contudo, ele acrescentou que o sistema de coleta de impostos da nação "não é totalmente funcional." No sábado, ministros das Finanças da zona do euro concordaram que a quinta parcela do pacote de auxilio à Grécia de 110 bilhões de euros, acordado em maio de 2010, será paga até 15 de julho, caso o FMI assine o empréstimo. A entidade deve se reunir em 8 de julho para aprová-lo.

O pagamento permitirá que a Grécia evite uma ameaça imediata de moratória, mas o país ainda precisa de um segundo pacote de auxílio, que deve levantar mais 110 bilhões de euros e que provavelmente será finalizado apenas em setembro.

Juncker disse que a crise grega foi causada principalmente pelo próprio país. "Entre 1999 e 2010, os salários subiram 106,6 por cento, embora a economia não tenha crescido no mesmo ritmo. As políticas salariais estavam completamente fora de controle e não baseadas na produtividade," afirmou.

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