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Silêncio ou bala: a perigosa vida dos jornalistas no México

"Quando você chega no lugar da notícia, tem que entender o contexto e tomar cuidado também, porque é uma situação de risco", diz jornalista Miguel Turriza

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EFE

Publicado em 11 de março de 2018 às 11h35.

Ser jornalista no meio de tiroteios, brigas de cartéis e corrupção em Reynosa, no México, é um trabalho perigoso que exige saber muito bem os limites entre liberdade de expressão, amor à profissão e amor à própria vida.

Miguel Turriza ficou conhecido há quase dez anos quando fazia uma transmissão no meio de um intenso fogo cruzado. No alto de um viaduto, ele seguiu ao vivo, apesar das explosões e rajadas de tiros de um confronto entre policiais federais e integrantes de um grupo do crime organizado.

Terminou a passagem deitado no chão, agarrado ao microfone, num cenário típico de zona de guerra. O vídeo viralizou e as imagens representaram sua consagração, mas também marcaram um antes e um depois na carreira.

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"Naquela época, eles (traficantes) me perguntaram se eu gostava da minha vida e eu respondi que sim, mas ressaltei que estava fazendo o meu trabalho e que continuaria com aquilo. Não foi exatamente uma ameaça, foi algo como 'você está se expondo, está atravessando nosso caminho'. Um ano depois, foi diferente, já foi uma ameaça aberta, "se virmos você em uma rua próxima, perto de um enfrentamento ou um bloqueio, vamos te quebrar'", contou ele, que hoje é apresentador do grupo "Radiorama" e produtor para jornais estrangeiros, em entrevista à Agência Efe.

Aos 55 anos, é considerado um veterano na cobertura na fronteira de Reynosa com os Estados Unidos, uma das áreas mais perigosas do México. Para ele, transmitir uma informação se tornou um verdadeiro campo minado.

"Quando você chega no lugar da notícia, tem que entender o contexto e tomar cuidado também, porque é uma situação de risco. O jornalista está vulnerável. É um risco à integridade", enfatizou.

De acordo com a ONG internacional "Artigo 19", de 2000 a 2015 foram 13 assassinatos de jornalistas neste estado da fronteira com o Texas. Neste ano, Carlos Domínguez foi o primeiro a entrar para as estatísticas. Ele foi esfaqueado em janeiro, na cidade de Nuevo Laredo.

Já segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, 12 comunicadores foram mortos em 2017, o que faz do México "o país em paz mais perigoso do mundo para os profissionais da imprensa".

Apesar da difícil situação, jornalistas em Reynosa dizem que começaram a notar certa abertura. Nas capas de jornais como o "El Mañana de Reynosa" já é possível noticiar prisões e mortes de traficantes, como o caso do membro de um cartel do país que foi morto em um confronto com militares.

"Os cartéis estão cada vez mais fortes, querem controlar muitos pontos da cidade e ter o controle dos jornalistas também, apesar de agora a realidade ser um pouco diferente por causa do ataque frontal do governo", ponderou Hildebrando Deándar, diretor do "El Mañana de Reynosa", à Efe.

Segundo ele, os ataques à imprensa não são novidade e o seu próprio jornal tem um grande histórico no assunto. Atualmente, a equipe vive tempos de calmaria, mas em 2010, o jornalista policial Guillermo Martínez foi sequestrado e morto por criminosos.

Hoje, o prédio do jornal é blindado, medida tomada após os ataques efetuados contra o "El Mañana de Matamoros" e o "El Mañana de Nuevo Laredo".

Ao fator perigo é preciso somar o fator precariedade. Na região, o salário de um jornalista varia de 6 mil pesos mexicanos (R$ 1.000) a 15 mil (R$ 2.500).

Reynosa poderia estar realmente mais calma, se não fosse uma espécie de lei do silêncio.

"Ninguém quer se autocensurar e fazer o que eles mandam, mas antes deles está a vida, a família, a instituição para qual trabalhamos e, em algumas ocasiões, a própria comunidade", explicou Magdiel Hernández, editor da seção de temas mais locais do diário.

Hernández sobreviveu a três sequestros nos quais os criminosos fizeram pressão para que ele parasse de escrever, alegando que estava "violando um pacto". Ficaram marcas, mas mais que isso pesaram o "fator vida" e família.

Apesar de agora ser menos frequente, vez ou outra ele ainda recebe mensagens de algum grupo querendo que publique certas informações ou que ameace um colega. Por motivos de segurança, abandonou o jornalismo investigativo, e diante de algum fato evita fazer muitas perguntas.

"Esperamos um comunicado oficial, em vez de sair por aí perguntando. É praticamente uma roleta russa. Você nunca sabe se a testemunha também está envolvida", disse o editor.

No final de 2017, o Congresso do estado de Tamaulipas aprovou a Lei para a Proteção de Jornalistas e Defensores dos Direitos Humanos e criou uma coordenação estadual para o tema.

Apesar de considerar a ideia positiva, Deándar disse que ainda é cedo para avaliar os resultados. Para Turriza, por sua vez, a lei já nasceu fadada ao fracasso.

"Falta organização do nosso grupo", lamentou.

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