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Separatistas da Catalunha entre a emoção e a decepção

A pressão sobre o líder catalão foi forte depois que no dia 1 de outubro os separatistas ganharam com 90% dos votos um referendo de autodeterminação

Catalunha: "No fundo estamos contentes, mas esperávamos mais" (Jeff J Mitchell/Getty Images)

Catalunha: "No fundo estamos contentes, mas esperávamos mais" (Jeff J Mitchell/Getty Images)

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AFP

Publicado em 10 de outubro de 2017 às 21h00.

Quando Carles Puigdemont evocou a "independência da Catalunha", houve lágrimas e abraços. Mas a multidão separatista que escutava o presidente catalão em Barcelona, outros não ocultaram sua decepção pela falta de uma declaração de secessão "taxativa".

Em outras zonas da capital catalã, o discurso solene de Puigdemont diante do Parlamento regional não gerou mais do que desdém, o que demonstra a profunda divisão dos catalães sobre o tema de independência.

Como milhares de pessoas reunidas no passeio Lluís Companys, perto do Parlamento, Mercé Hernández escutou cada detalhe do discurso de Puigdemont, transmitido em um telão.

Quando Puigdemont falou de "independência", Hernández chorou de emoção. Ao seu redor, entre um mar de bandeiras separatistas, houve aplausos e abraços.

"Estou muito emocionada, este é um dia histórico", disse à AFP Hernández, de 35 anos.

"Todos esses anos (de luta separatista) valeram a pena", indicou Albert Llorens, aposentado de 69 anos. "O discurso me pareceu perfeito, era o que eu esperava".

Perto dali, Pere e Antonia Valldeneu se abraçaram emocionados. Mas ao fim do discurso, no qual Puigdemont pediu para suspender "os efeitos da declaração de independência" para empreender um diálogo com Madri, o casal sexagenário ficou um pouco confuso.

"No fundo estamos contentes, mas esperávamos mais", disse Pere, lamentando que provavelmente o governo central "não vai deixar" que as intenções das autoridades separatistas da Catalunha sigam adiante.

"Eu teria sido muito mais taxativo", disse Gemma Faura, uma enfermeira de 32 anos, sentada sobre a grama do passeio, onde antes do discurso de Puigdemont uma multidão gritou em coro o lema "Independência".

Sheila Ulldemolins, de 28 anos, resumiu o sentimento geral da noite: "Foi um discurso ambíguo".

Assim que Puigdemont acabou de falar, o passeio começou a esvaziar. Os que ficaram aplaudiram as palavras de Anna Gabriel, deputada do partido de extrema-esquerda radical CUP, que disse "perdemos a chance" de proclamar uma república catalã.

Mãos na cabeça

No centro de Barcelona, perto da Praça da Catalunha, Tomás Piñero e sua mulher Laura Teruel, de 59 e 58 anos respectivamente, tomavam uma cerveja com certa tranquilidade após a mensagem de Puigdemont.

Tomás, um vigia que vota no partido anti-separatista Cidadãos, se mostrou "muito tranquilo". "Isso voltará a ser o que era antes dessa bagunça".

Ela não se convenceu. "Tenho esperança, mas acompanhada de medo", disse.

A pressão sobre Puigdemont foi forte depois que no dia 1 de outubro os separatistas ganharam com 90% dos votos um referendo de autodeterminação, que havia sido proibido pela justiça: por um lado os que pediam uma ruptura imediata com Madri, por outro lado os catalães que querem continuar sendo espanhóis e Madri, que considera todo o processo ilegal.

Em Nou Barris, um distrito barcelonês operário e modesto e menos separatista, o discurso de Puigdemont suscitou a indiferença em vários bares. Em outros, a rejeição.

"Quando disse república, botei as mãos na cabeça", disse Sergio Palacios, que atendia em um bar da região.

"Até agora nunca havíamos tido problema, agora as diferenças já começam a aparecer", lamenta Palacios, enquanto dois clientes, um separatista e um unionista, discutiam acaloradamente.

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