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Senador americano John McCain morre aos 81 anos

John McCain era um celebrado herói de guerra e conhecido por sua capacidade de negociação. Ele perdeu uma batalha contra o câncer no cérebro

Senador americano, John McCain (Alex Wong/Getty Images)

Senador americano, John McCain (Alex Wong/Getty Images)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 26 de agosto de 2018 às 08h57.

Última atualização em 26 de agosto de 2018 às 09h01.

Washington (AFP) - O senador americano John McCain, um celebrado herói de guerra, conhecido por sua capacidade de negociação em um país cada vez mais dividido, faleceu aos 81 anos neste sábado (25) depois de perder uma batalha contra o câncer, informou seu gabinete.

"O senador John Sidney McCain III morreu às 16h28 de 25 de agosto de 2018. O senador estava acompanhado da esposa, Cindy, e de sua família quando faleceu", informou seu gabinete em um comunicado, que destacou que o senador "serviu lealmente aos Estados Unidos durante 60 anos".

Era uma tradição de família. McCain alegava ser descendente direto de um capitão do exército de George Washington, o primeiro presidente constitucional dos EUA, durante a Guerra da Independência.

E assim como seu pai e o pai dele antes deste, todos almirantes de quatro estrelas chamados John McCain, ele viveu para servir ao seu país: primeiro como um piloto de caça da Marinha americana, depois como legislador até sua morte neste sábado de um câncer no cérebro, diagnosticado em 2017.

Ele também poderia ter se tornado um almirante, se um míssil terra-ar de fabricação soviética não tivesse encurtado sua trajetória militar ascendente em 26 de outubro de 1967.

No dia de sua 23ª missão no Vietnã, seu caça A-4 Skyhawk foi atingido ao sobrevoar os céus de Hanói.

McCain ejetou e caiu de para-quedas em um pequeno lago no centro da cidade, onde quase foi linchado pela multidão furiosa. Seus dois braços e joelho direito sofreram sérias fraturas.

Com seu pai como comandante das forças conjuntas no Pacífico, McCain se tornaria prisioneiro de guerra por mais de cinco anos.

Foi libertado em 1973 após os Acordos de Paz de Paris, mas as consequências físicas de suas mal tratadas fraturas e as torturas que sofreu na prisão lhe custaram a carreira de piloto.

"Por alguma razão, aquela não era minha hora e eu acredito que por causa disso eu estava destinado para algo", declarou McCain em uma entrevista em 1989.

- Derrotado por Obama -

McCain no leito de hospital em 1967, em Hanói, dias após ter sido capturado como prisioneiro de guerra
Aquele algo, ficou claro, seria a política. Depois de alguns anos como relações públicas da Marinha no Senado, McCain se mudou para o Arizona, o estado natal de sua segunda esposa, e conquistou um assento na Câmara de Representantes em 1982.

Sua ambição cresceu e ele rapidamente ascendeu ao Senado, que se tornaria sua segunda casa por 30 anos.

McCain cultivou por muito tempo a imagem de um republicano rebelde, desafiando seu partido em questões como reforma no financiamento de campanha e imigração.

Ele não viu muita utilidade na disciplina partidária, uma atitude reforçada por seus episódios de rebeldia no passado - como um estudante indomável na Academia da Marinha ou um prisioneiro de cabeça quente que provocava seus captores vietnamitas.

"Sobreviver ao meu aprisionamento fortaleceu minha autoconfiança, e minha recusa à liberdade precoce me ensinou a confiar em meu julgamento", escreveu McCain em suas memórias, "Faith of My Fathers", de 1999.

Foi este McCain heterodoxo e desenfreado, desdenhoso de autoridade e ocasionalmente arrogante, que se lançou à corrida presidencial no ano 2000.

Ele ofereceu aos eleitores sua visão de direita moderada, enquanto manteve ao alcance da mão os conservadores cristãos que seu oponente entre os republicanos, George W. Bush, tinha seduzido com sucesso.

McCain não conseguiu o feito de obter a indicação de seu partido à Casa Branca, mas solidificou sua estatura e eventualmente herdou o bastão republicano das mãos do presidente impopular Bush.

Em 2008, ele fez as pazes com o establishment do partido e finalmente ganhou a indicação à Presidência.

Com a Casa Branca ao alcance, ele fez uma escolha instintiva e profundamente controversa. Muitos de seus associados nunca o perdoaram por escolher como companheira de chapa uma quase desconhecida, a governadora do Alasca Sarah Palin.

A decisão ajudou a assentar as raízes do grupo conservador Tea Party e a ascensão do populismo que depois seria incorporado por Donald Trump.

O democrata Barack Obama venceu com facilidade e McCain agora somava duas derrotas.

- Decepcionado com Trump -

McCain serviu no Congresso americano desde 1983, primeiro como representante antes de iniciar sua longa atuação como senador, em 1987
Habilidoso com as multidões, também podia ter um temperamento explosivo, sobretudo com temas caros a ele: as Forças Armadas, o excecionalismo dos Estados Unidos e, nos últimos anos, a ameaça representada pelo presidente russo, Vladimir Putin, a quem ele denominou de "um assassino e um bandido".

McCain acreditava que os valores dos Estados Unidos deviam ser partilhados e defendidos em todo o mundo.

A eleição de Trump pareceu ter pisado nas lutas e ideais do velho republicano, que rapidamente sentiu-se desapontado pelo nacionalismo e pelo protecionismo do bilionário, sua proximidade com Putin e seu aparente desprezo pela dignidade do cargo presidencial.

Mas nada disto fez McCain querer se aposentar. Talvez pensando em seu avô, que morreu apenas alguns dias depois de voltar para casa após a rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial, o trabalho incessante do senador parecia desafiar a morte.

Mesmo após sua reeleição em 2016, ele se recusou a descartar outra candidatura ao Senado em 2022. A doença acabou por se colocar no caminho de suas aspirações.

McCain deixa a esposa, Cindy, e os quatro filhos do casal, além de uma outra filha de seu primeiro casamento.

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