Após seca na Rússia, la Niña ameaça América do Sul
Da última vez que o fenômeno atingiu a Argentina, entre 2007 e 2008, um terço da colheita de soja foi prejudicado
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h37.
Nova York - Depois da devastadora seca na Rússia, as colheitas enfrentam uma nova ameaça: o fenômeno climático "la Niña", que evolui no Oceano Pacífico e poderá provocar uma seca na América do Sul.
O fenômeno caracteriza-se por temperaturas anormalmente baixas das águas superficiais no setor central e oriental do Pacífico. Os meteorologistas estimam que se fortalecerá e durará ao menos até o início de 2011.
"Há uma correlação histórica entre la Niña e as condições climáticas secas no início e na metade da temporada (agrícola) na Argentina e no sul do Brasil", explica Bill Nelson, da empresa Doane Advisory Services.
O último episódio deste fenômeno, em 2007-2008, custou à Argentina um terço de sua colheita de soja. A região é decisiva para os mercados mundiais: Argentina e Brasil estão, junto dos Estados Unidos, no trio dos mais importantes exportadores mundiais de milho e soja.
Como estão situados no Hemisfério Sul, aportam importantes quantidades de produção ao mercado durante os primeiros meses do ano, em pleno inverno nos principais países consumidores do norte.
La Niña "pode reduzir seriamente a produção de Brasil e Argentina, e exercer uma pressão de alta sobre os preços", adverte Chad Hart, professor de economia agrícola da Universidade de Iowa (centro dos EUA).
"A aparição do la Niña não quer dizer que necessariamente teremos seca. A correlação é fraca, mas é um fenômeno que observamos no passado", completa. "O mercado é muito sensível (ao fenômeno) devido à seca sofrida pela Rússia este ano".
O intenso calor que afetou Rússia, Ucrânia e Cazaquistão, todos importantes exportadores de trigo, levou Moscou a suspender as exportações até o fim do ano.
Resultado: o preço do trigo, ao qual se seguiram os do milho e da soja, subiu cerca de 80% no mercado futuro de Chicago, referência mundial, entre o fim de junho e início de agosto. Caiu posteriormente com a chegada de um clima melhor.
Diferentemente do ocorrido há dois anos, o risco de desabastecimento é fraco, dada a abundância de reservas no mundo. Mas se os países da Europa do Leste não exportam, os países consumidores se voltarão para seus competidores, onde os preços evoluem para cima. A União Europeia apenas dispõe de uma colheita medíocre, restam Estados Unidos, Austrália e América do Sul.
"O mercado é muito sensível à possibilidade de uma ameaça sobre a produção, dadas as experiências recentes", admite Nelson. Segundo este analista, a presença do la Niña "manterá certo nível de inquietação no mercado".
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