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Seca e zika vírus se somam à crise venezuelana

A seca provocada pelo El Niño fez com que os 18 maiores açudes com os quais a Venezuela conta estejam "muito perto da linha vermelha"


	Zika: foram contabilizados 4.500 casos suspeitos de zika, os quais correspondem a pessoas que passaram por consulta
 (Juan Barreto / AFP)

Zika: foram contabilizados 4.500 casos suspeitos de zika, os quais correspondem a pessoas que passaram por consulta (Juan Barreto / AFP)

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Da Redação

Publicado em 2 de fevereiro de 2016 às 09h49.

Caracas  - A entrada do fenômeno meteorológico "El Niño", que no Caribe venezuelano se traduz em poucas chuvas e altas temperaturas, trouxe consigo a diminuição da geração de energia hidrelétrica e do fornecimento de água potável para os 30 milhões de habitantes do país.

A última vez que houve um episódio intenso de "El Niño" foi em 1997-1998 e se estima que provocou mais de 20 mil mortes ao redor do mundo e perdas avaliadas em US$ 34 bilhões.

Agora, a seca provocada pelo fenômeno fez com que os 18 maiores açudes com os quais a Venezuela conta estejam "muito perto da linha vermelha" ou cheguem a "níveis críticos", segundo anunciou o ministro de Ecossocialismo e Águas do país, Ernesto Paiva.

Por isso, desde o dia 4 de janeiro se implementou um plano de "fornecimento equitativo" que implica, segundo Paiva, na "correção dos vazamentos de água" nos aquedutos do país e no racionamento do serviço entre seis e cinco dias por semana nos quais as válvulas são abertas apenas pela amanhã.

Os cidadãos buscam se abastecer de água recorrendo a tanques e recipientes para depositá-la.

Cada vasilha constitui um potencial criadouro dos mosquitos que depositam seus ovos em águas limpas, por isso que a situação ameaça agravar o surto de doenças transmitidas por vetores: dengue, chicungunha e a recém chegada zika.

O país enfrenta agora a epidemia do vírus propagado pelas fêmeas dos mosquitos do gênero Aedes aegypti, que já afeta 24 países do continente americano e do Caribe e que causa erupções na pele, febre, artrite e artralgia, conjuntivite, dores musculares e de cabeça, entre outros sintomas.

A ministra da Saúde, Luisana Melo, disse que foram contabilizados 4.500 casos suspeitos de zika, os quais correspondem a pessoas que passaram por consulta.

Ela lembrou que de cada quatro afetados três não vão a avaliações médicas, pois em seu início a doença pode ser assintomática ou apresentar sintomas leves e que, após os primeiros cinco dias com o vírus, não pode ser detectado no organismo através de exames de laboratório, por isso que os números não são exatos.

Luisana também explicou que há mais de 250 casos da relacionada síndrome de Guillain-Barre, que ataca o sistema nervoso e que em algumas ocasiões pode causar paralisia e fraqueza muscular.

Ela descartou que na Venezuela tenha sido registrado microcefalia em recém-nascidos, um problema que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) pode acontecer se mulheres grávidas contraírem o zika vírus.

A representante da pasta de Saúde afirmou, além disso, que foram registradas duas mortes de pacientes supostamente afetados pela zika.

Os familiares dessas duas vítimas disseram não ter encontrado imunoglobulina para tratar a doença.

Luisana argumentou que existe uma alternativa a esse tratamento: a plasmaférese, um procedimento pelo qual se extrai o sangue do paciente e se introduz novamente sem o plasma.

A ministra afirmou que o governo garante o acesso a um dos dois tratamentos, que são admitidos por seus protocolos.

Como parte do plano de prevenção, os organismos de salubridade usarão 70 mil litros de inseticida para fumegar "todos os cantos do território nacional", reforçarão as medidas de controle nos aeroportos e realizarão campanhas para pedir à comunidade para eliminar os criadouros do mosquito, disse Luisana.

O parlamento venezuelano declarou recentemente uma crise humanitária de saúde, "tendo em vista a grave escassez de remédios e insumos (materiais) médicos e a deterioração da infraestrutura humanitária".

Através do texto aprovado, o órgão legislativo de maioria opositora concordou em "exigir do governo nacional garantir de maneira imediata o acesso à lista de remédios essenciais que são básicos, indispensáveis e imprescindíveis e devem ser acessíveis o tempo todo".

Não é a primeira vez que a seca motiva o racionamento de água no país, já que em 2010 foram tomadas medidas similares, no entanto, agora há um cenário no qual se somam o racionamento, o surto epidemiológico e a escassez de remédios.

A estes problemas se acrescentam as filas que os venezuelanos devem fazer para comprar os também poucos itens da cesta básica, o alto custo da vida em uma nação com uma inflação que está entre as mais altas do mundo e os altos índices de violência que atemorizam o cidadão.

O Banco Central da Venezuela (BCV) anunciou recentemente que a inflação anualizada até setembro de 2015 foi de 141,5%, embora não tenha dado o número exato para o ano que acaba de terminar, enquanto a escassez de produtos básicos supera os 40%.

Além disso, a Venezuela ostenta uma taxa de homicídios de entre 62 e 82 pessoas por cada 100 mil habitantes, segundo cálculos do governo e da ONG Observatório Venezuelano de Violência, respectivamente.

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