Sebastian Coe: "Não fiz nenhum tipo de lobby, com quem quer que seja", se defendeu o bicampeão olímpico dos 1.500 m de 1980 e 1984 no site da IAAF (Michael Regan/ Getty Images)
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2015 às 16h37.
Depois das acusações de doping e corrupção, a Federação Internacional de Atletismo (IAAF) está novamente no olho do furacão, com a BBC denunciando um suposto conflito de interesses do novo presidente da entidade, Sebastian Coe, com a marca de material esportivo Nike.
De acordo com a emissora, o britânico, que é um dos embaixadores da Nike, teria usado sua influência para a escolha de Eugene, berço da empresa americana, no Oregon, para sediar o Mundial de Atletismo de 2021.
A BBC alega ter conseguido acesso a um e-mail enviado em janeiro por um alto funcionário da Nike, deixando entender que Coe teria pressionado seu predecessor na presidência da IAAF, Lamine Diack, que deixou o cargo em agosto, para que Eugene fosse escolhida para receber o evento.
"Não fiz nenhum tipo de lobby, com quem quer que seja", se defendeu o bicampeão olímpico dos 1.500 m de 1980 e 1984 no site da IAAF.
Essas acusações chegam em péssima hora, às vésperas da reunião do Conselho da IAAF, nesta sexta-feira, em Mônaco, e apenas três semanas depois do mega-escândalo de "doping organizado" de atletas russos denunciado pela Agência Mundial Antidoping (WADA).
Coe, pelo prestígio como ex-atleta e pela forma com que conduziu a candidatura e a organização dos Jogos de Londres-2012, era visto como a esperança de uma nova era para o atletismo mundial, depois de 15 anos da gestão controversa de Diack.
Ainda sob contrato com a Nike, o inglês vê sua credibilidade abalada pelas denúncias da BBC.
Paralelo com a Fifa
As acusações jogam mais uma sombra sobre as instâncias e dirigentes do esporte mundial, que já está sendo sacudido pelo escândalo da Fifa.
"Existe certo paralelo entre a Fifa e a IAAF, Sepp Blatter e Lamine Diack, ou até mesmo Michel Platini e Sebastian Coe", explica à AFP Michael Tapiro, fundador da Sports Management School, que oferece cursos de gestão esportiva em Paris e Lausana.
"Platini e Coe fazem parte da nova geração, esboçaram uma pequena revolução, mas ambos estão sofrendo o efeito boomerang do próprio sistema do qual são oriundos", analisa.
"Isso é um drama para o esporte, porque significa que o sistema é mais forte que os homens", completa.
Coe, que não é remunerado pelo trabalho à frente da IAAF, sempre foi transparente a respeito de suas relações com a Nike, da qual recebe 100.000 euros (142.000 euros por ano).
O problema é que as circunstâncias com as quais a sede histórica da marca obteve a sede do Mundial-2021 sugerem que essas relações podem ter ultrapassado os limites do simples contrato de patrocínio.
Eugene, que foi derrotada pelo Catar na disputa para receber o evento em 2019, foi escolhida para sediar a edição seguinte antes mesmo das demais candidaturas terem sido avaliadas.
Este procedimento excepcional já havia sido utilizado no passado, quando Osaka obteve a organização do Mundial-2007.
O e-mail citado pela BBC é datado do dia 30 de janeiro e foi enviado por Craig Masback, diretor de assuntos comerciais do departamento de marketing da Nike, a responsáveis pela candidatura de Eugene.
"Ele (Coe) me disse claramente que apoia Eugene para 2021, mas, também afirmou, com a mesma clareza, que abordou o assunto com Diack, que respondeu: 'não vou fazer nada na reunião de abril em relação à sede de 2021", escreveu o executivo.
Apesar dessas alegações, foi justamente naquela reunião, realizada em Pequim, que o Conselho da IAAF decretou que o Mundial-2021 acontecerá em Eugene, enquanto a cidade de Gotenburgo, na Suécia, também era candidata, e a votação final era prevista apenas para novembro de 2016.