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Sangue, raiva e confusão entre feridos após ataque no Cairo

Segundo manifestantes, militares teriam atacado com armas de fogo após uma tentativa de acampar diante do quartel da Guarda Republicana

Apoiadores do presidente deposto do Egito Mohamed Mursi carregam o corpo de um manifestante morto em atos de violência em frente ao quartel da Guarda Republicana, no Cairo (Khaled Abdullah/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de julho de 2013 às 17h14.

Cairo - O hospital do Cairo está lotado. Dois, três, quatro homens amontoados em um quarto, com as roupas encharcadas de sangue. A história deles começa do mesmo jeito. Era madrugada e estavam rezando. Então, alguém gritou e eles se viram sob o fogo de militares, de todas as direções.

"Eles atiraram gás lacrimogêneo, balas de borracha, tudo. Depois, usaram balas de verdade" disse Abdelaziz Abdel Shakua, homem de barba, de 30 anos, ferido na perna direita.

Ele veio de fora da capital, Cairo, como muitas pessoas que protestam contra o que consideram ser um golpe militar contra o presidente Mohamed Mursi, eleito democraticamente.

Ele diz ter ido acampar pacificamente com outros milhares de manifestantes diante do quartel da Guarda Republicana, onde Mursi está preso. Segundo ele, o ataque do Exército pegou os manifestantes de surpresa.

O relato de Shakua contrasta com o de outra narrativa que também descreveu o episódio de violência que deixou mais de 50 mortos, no mais letal incidente desde a queda de Mursi na quarta-feira, num sinal do aprofundamento das divisões no mais populoso país do mundo árabe.

Os militares contestam a versão dos manifestantes. Eles dizem que um "grupo terrorista" tentou invadir o complexo de edifícios da Guarda Republicana, o que resultou na morte de um oficial do Exército e em 40 feridos.

Os soldados responderam ao fogo, quando foram atacados por homens armados, declarou uma fonte militar.

Um outro manifestante, Saber El-Sabaee, diz que as preces matutinas foram abruptamente interrompidas.


"Primeiro, eles começaram a atirar gás lacrimogêneo e depois dispararam sobre nossas cabeças. As pessoas começaram a cair e os soldados passaram a usar balas de verdade", diz ele, acrescentando que os veículos blindados saíram dos quartéis, escoltando as tropas pelas ruas.

El-Sabaee sentiu algo bater em sua cabeça. Depois, percebeu o sangue. Ele colocou sobre a cabeça o tapete usado nas orações, para tentar estancar o fluxo. Era muito sangue. Sua camisa está encharcada.

O Exército também nega ter dado um golpe de Estado, e diz que apenas cumpriu a vontade do povo, depois que milhões de pessoas saíram às ruas em 30 de junho para exigir a renúncia de Mursi.

Caos no Hospital

Médicos e enfermeiros andam freneticamente pelos corredores do hospital da Autoridade Geral para o Seguro de Saúde, em Nasr City, que fica a menos de um quilômetro das principais manifestações pró-Mursi, no nordeste do Cairo.

Alguns gritam para abrir caminho. Macas são conduzidas enquanto homens estão abandonados nos corredores, alguns com as mãos na cabeça. Listas com os nomes dos feridos escritos à mão são afixadas nos corredores do hospital. Ninguém sabe ainda quantos feridos ou mortos chegaram.

Mustafa Shalaby, um jovem médico no hospital, diz ter contado pelo menos 45 mortos e mais de 400 feridos. Cerca de um décimo os feridos estava em uma "condição instável". A maioria foi atingida por munição real, diz ele.

Em outro hospital, quando se pergunta aos funcionários quantas vítimas foram acolhidas, eles gritam, frustrados. "Ninguém sabe", responde aos gritos um médico. "Você não vai encontrar uma única sala vazia."

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Cairo - O hospital do Cairo está lotado. Dois, três, quatro homens amontoados em um quarto, com as roupas encharcadas de sangue. A história deles começa do mesmo jeito. Era madrugada e estavam rezando. Então, alguém gritou e eles se viram sob o fogo de militares, de todas as direções.

"Eles atiraram gás lacrimogêneo, balas de borracha, tudo. Depois, usaram balas de verdade" disse Abdelaziz Abdel Shakua, homem de barba, de 30 anos, ferido na perna direita.

Ele veio de fora da capital, Cairo, como muitas pessoas que protestam contra o que consideram ser um golpe militar contra o presidente Mohamed Mursi, eleito democraticamente.

Ele diz ter ido acampar pacificamente com outros milhares de manifestantes diante do quartel da Guarda Republicana, onde Mursi está preso. Segundo ele, o ataque do Exército pegou os manifestantes de surpresa.

O relato de Shakua contrasta com o de outra narrativa que também descreveu o episódio de violência que deixou mais de 50 mortos, no mais letal incidente desde a queda de Mursi na quarta-feira, num sinal do aprofundamento das divisões no mais populoso país do mundo árabe.

Os militares contestam a versão dos manifestantes. Eles dizem que um "grupo terrorista" tentou invadir o complexo de edifícios da Guarda Republicana, o que resultou na morte de um oficial do Exército e em 40 feridos.

Os soldados responderam ao fogo, quando foram atacados por homens armados, declarou uma fonte militar.

Um outro manifestante, Saber El-Sabaee, diz que as preces matutinas foram abruptamente interrompidas.


"Primeiro, eles começaram a atirar gás lacrimogêneo e depois dispararam sobre nossas cabeças. As pessoas começaram a cair e os soldados passaram a usar balas de verdade", diz ele, acrescentando que os veículos blindados saíram dos quartéis, escoltando as tropas pelas ruas.

El-Sabaee sentiu algo bater em sua cabeça. Depois, percebeu o sangue. Ele colocou sobre a cabeça o tapete usado nas orações, para tentar estancar o fluxo. Era muito sangue. Sua camisa está encharcada.

O Exército também nega ter dado um golpe de Estado, e diz que apenas cumpriu a vontade do povo, depois que milhões de pessoas saíram às ruas em 30 de junho para exigir a renúncia de Mursi.

Caos no Hospital

Médicos e enfermeiros andam freneticamente pelos corredores do hospital da Autoridade Geral para o Seguro de Saúde, em Nasr City, que fica a menos de um quilômetro das principais manifestações pró-Mursi, no nordeste do Cairo.

Alguns gritam para abrir caminho. Macas são conduzidas enquanto homens estão abandonados nos corredores, alguns com as mãos na cabeça. Listas com os nomes dos feridos escritos à mão são afixadas nos corredores do hospital. Ninguém sabe ainda quantos feridos ou mortos chegaram.

Mustafa Shalaby, um jovem médico no hospital, diz ter contado pelo menos 45 mortos e mais de 400 feridos. Cerca de um décimo os feridos estava em uma "condição instável". A maioria foi atingida por munição real, diz ele.

Em outro hospital, quando se pergunta aos funcionários quantas vítimas foram acolhidas, eles gritam, frustrados. "Ninguém sabe", responde aos gritos um médico. "Você não vai encontrar uma única sala vazia."

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