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Saleh assina acordo para abandonar o poder no Iêmen

Presidente, que se recusou a assinar o pacto em várias ocasiões, garantiu hoje que sua intenção "não era monopolizar o poder"

O presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh: "Nós somos contra golpes de Estado" (Getty Images)

O presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh: "Nós somos contra golpes de Estado" (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 23 de novembro de 2011 às 18h53.

Riad/Sana - O presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, assinou nesta quarta-feira em Riad um acordo para concretizar sua retirada do poder e a realização de eleições presidenciais, um passo essencial para o país sair da crise que o assola há dez meses.

Durante a cerimônia, que aconteceu na capital saudita, a coalizão opositora iemenita Encontro Partilhado rubricou o mecanismo de aplicação deste acordo, auspiciado pelos países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) e que estipula a transferência de poder em 30 dias.

Saleh, que se recusou a assinar o pacto em várias ocasiões, garantiu hoje que sua intenção "não era monopolizar o poder" e afirmou que sempre quis realizar a transição de forma pacífica.

Em discurso após a assinatura do acordo, que foi transmitida pela televisão estatal saudita, Saleh culpou seus detratores de terem atrasado este momento e prolongado a crise, ao assegurar que os partidos políticos recusaram esta via e se uniram à oposição.

O líder iemenita manifestou que o que acontece atualmente no Iêmen é "uma violação à Constituição", mas anunciou que colaborará com a oposição nesta nova etapa.

A iniciativa do CCG assinada hoje estabelece que Saleh delegue o poder ao atual vice-presidente, Abdo Rabu Mansur Hadi, no prazo de 30 dias.

Em entrevista coletiva em Sana, o enviado especial da ONU para o Iêmen, Jamal Benomar, explicou que Hadi terá "todas as competências necessárias para aplicar a iniciativa do CCG e organizar eleições presidenciais antecipadas no prazo de 90 dias após a assinatura do documento"


Após estes três meses começa, segundo Benomar, "uma etapa de transição de dois anos na qual será formado um Governo de união nacional" e será organizado "um congresso de diálogo nacional integral para traçar o futuro do Iêmen".

Benomar pediu aos signatários que respeitem seus compromissos, entre os quais figuram a cessação de todos os atos de violência, e manifestou que "a comunidade internacional apoiará o processo político transitório e o Conselho de Segurança da ONU dará os passos necessários contra qualquer um que atrapalhe o convênio".

O Mapa do Caminho para a transferência de poder de Saleh foi desenhado no final do último mês de abril pelo CCG - integrado por Arábia Saudita, Omã, Catar, Kuwait, Emirados Árabes Unidos e Bahrein - para resolver a crise no Iêmen, palco de mobilizações contra Saleh desde o dia 27 de janeiro.

O acordo dá também garantias de imunidade ao presidente e a seus colaboradores, uma cláusula que levou dezenas de milhares de iemenitas a se manifestarem nas ruas de Sana e Taiz, as duas principais cidades do país, para pedir que Saleh seja julgado por seus crimes.

Os opositores ao regime cantaram palavras de ordem e, em alguns pontos da capital iemenita, foram registrados confrontos que deixaram pelo menos um policial morto e outro ferido, segundo fontes de segurança.

Os enfrentamentos ocorreram entre as forças do Ministério do Interior e grupos armados tribais partidários do xeque Sadeq al Ahmar, que desde maio trava combates esporádicos com as tropas leais ao presidente.

Os choques entre opositores e partidários de Saleh começaram no calor das revoluções árabes, que já derrubaram os regimes de Tunísia, Egito e Líbia.


Para o presidente iemenita, "os ventos que sopram dos países do norte da África fazem parte de uma agenda estrangeira".

Depois da assinatura do documento, está previsto que Saleh viaje para Nova York para receber tratamento médico por conta das dores que sofre depois do ataque terrorista do qual foi vítima no último mês de junho, anunciou hoje o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Iêmen, o país mais pobre da península Arábica, vive uma situação de crise e de revolta popular contra o regime de Saleh, que ocupa o poder desde a unificação entre o norte e o sul em 1990, embora desde 1978 já fosse o governante do Iêmen do Norte.

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