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Saída do Acordo de Paris pode ser um tiro no pé dos EUA

A saída dos EUA, o segundo maior emissor de gases do mundo, atrás apenas da China, parece prejudicar o futuro do acordo - e também do planeta

Protesto contra saída dos EUA do Acordo de Paris, em 02/06/2017 (Fabrizio Bensch/Reuters)

Protesto contra saída dos EUA do Acordo de Paris, em 02/06/2017 (Fabrizio Bensch/Reuters)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 3 de junho de 2017 às 08h00.

Última atualização em 3 de junho de 2017 às 08h00.

São Paulo - A necessidade de tomar medidas para frear o aquecimento global era quase um consenso no mundo, até esta quinta-feira, quando o presidente americano Donald Trump anunciou que os Estados Unidos deixariam o Acordo de Paris.

Alegando proteger os interesses e empregos americanos de um acordo “injusto”, Trump deu as costas para o promissor tratado que visa reduzir as emissões de gases do efeito estufa e fomentar a busca por alternativas energéticas aos combustíveis fósseis, grandes poluidores dos centros urbanos.

No entanto, as consequências mais imediatas serão para o próprio país. “Foi um tiro no pé monumental que abala a credibilidade internacional dos Estados Unidos. É a medida que mais desprestigia o país na história desde a Segunda Guerra Mundial”, diz Eduardo Viola, professor titular de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB).

A meta dos 147 países que ratificaram a medida em 2016 é limitar em apenas 2º C o aquecimento da Terra acima dos níveis pré-industriais no próximo século. A saída dos Estados Unidos, o segundo maior emissor de gases do mundo, atrás apenas da China, parece prejudicar o futuro do acordo - e também do planeta.

Para o professor, o anúncio mostra que o governo de Donald Trump não está comprometido com o tema e rompe com a mentalidade dominante entre seus aliados. Até sua eleição, os Estados Unidos eram vistos como líderes do mundo desenvolvido.

Como foi colocado pela chanceler alemã, Angela Merkel, a Europa e o mundo não poderão contar com essa liderança. Na análise do professor, China e União Europeia vão liderar o reforço do acordo. "O 'Estados Unidos primeiro' de Trump significa 'Estados Unidos isolados'", disse Viola.

O perigo fica para os países que oscilam em seu apoio ao tema, mas que são grandes poluentes, como Índia, Brasil, Indonésia, Turquia, África do Sul e Coreia do Sul. Estes podem usar a saída americana como desculpa para não se esforçarem para cumprir as metas.

Sobre as consequência para o clima, Viola acredita que as emissões serão mais altas do que no caso de um governo democrata, porém não serão drásticas, já que existe um esforço e investimento em curso na indústria para procurar soluções em energia de baixo carbono. “Há cinco anos, a saída do acordo seria desastrosa. Hoje a nova economia digital busca alternativas às fontes de combustíveis fósseis”.

Mesmo assim, segundo a Organização Mundial de Meteorologia, a saída dos EUA pode significar um acréscimo de 0,3º C no aquecimento da atmosfera do planeta até o final do século.

“O mundo consegue sobreviver a 4 anos de governo republicano, mas não a 8”, resume Viola.

Saída na contramão

A decisão de Trump é impopular no mundo e também dentro do próprio país. Segundo estudo da Universidade de Yale, 69% dos eleitores de todos os estados acreditam que os Estados Unidos deveriam permanecer no Acordo de Paris.

O mundo ruma num caminho e Donald Trump em outro. O presidente americano disse que esperava negociar um acordo melhor, mas líderes da Alemanha, França, Itália e Canadá já se mostraram contra a ideia de uma nova negociação.

“Qualquer ganho a curto prazo pretendido pelos EUA durará pouco. Há relações com outras nações que precisam ser preservadas e há possibilidade de criação de empregos a partir de uma nova matriz energética”, afirma Daniella Rached, doutora em direito internacional pela Universidade de Edimburgo.

Não há muito o que negociar para atender as demandas americanas, já que o Acordo de Paris não é uma obrigação que os sujeita a sanções, mas um comprometimento em conjunto entre os países. Como foi feito, o acordo já é flexível, pois os próprios países que escolhem como e quando vão limitar e reduzir suas emissões.

"Como tratado internacional, ele deve ser observado pelos países. Há, no entanto, elementos não vinculantes e são estes que Trump faz menção em abandonar", explica Rached. 

A saída definitiva do acordo demora anos e só seria concluída na administração seguinte. A preocupação que permanece, segundo a pesquisadora, é como as outras nações conseguirão cumprir a meta sem o país responsável por 15% de emissão de gases no mundo. 

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