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Rússia impõe condições para 'paz negociada' com Ucrânia

Presidente russo, Vladimir Putin, e autoridades se pronunciaram após novos planos de apoio ocidental apresentados durante o G7

Vladimir Putin, presidente da Rússia

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Agência o Globo
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Publicado em 14 de junho de 2024 às 14h03.

Última atualização em 14 de junho de 2024 às 14h47.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta sexta-feira que está pronto para negociar o fim da guerra na Ucrânia e um acordo de paz, se Kiev retirar suas tropas das quatro regiões do país que foram anexadas por Moscou e renunciar a qualquer possibilidade de se integrar à Otan — termos aos quais as autoridades ucranianas imediatamente classificaram como "farsa".

"Assim que Kiev começar a retirada efetiva das [suas] tropas [das regiões de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporíjia], e assim que notificar que abandona seus planos de ingressar na Otan, daremos imediatamente, neste mesmo minuto, a ordem de cessar-fogo e iniciaremos as negociações", disse Putin, diante de funcionários do Ministério das Relações Exteriores do país.

Os termos indicados por Putin são similares aos mencionados em outros momentos do conflito, em que houve tentativa de mediação do conflito e de solução pela via diplomática. As autoridades ucranianas, anteriormente, negaram-se a aceitar baixar as armas ou de abrir mão de parte de seu território. A reação inicial de Kiev não foi diferente desta vez.

"Não há novas 'propostas de paz' da Rússia. A entidade Putin expressou apenas o 'conjunto padrão do agressor', que já foi ouvido muitas vezes. O seu conteúdo é bastante específico, altamente ofensivo ao direito internacional e fala de forma absolutamente eloquente sobre a incapacidade da atual liderança russa para avaliar adequadamente as realidades", escreveu Mykhailo Podolyak, conselheiro do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, nas redes sociais. "É tudo uma farsa completa. Portanto — mais uma vez — livrem-se das ilusões e parem de levar a sério as 'propostas da Rússia' que são ofensivas ao senso comum"

O chefe da Otan, Jens Stoltenberg, também criticou as condições estabelecidas por Putin, chamando-as de proposta para "mais agressão, mais ocupação".

"Essa não é uma proposta feita de boa-fé", disse Stoltenberg aos repórteres após uma reunião de ministros da Defesa em Bruxelas. "Essa é uma proposta que, na verdade, significa que a Rússia deve alcançar seus objetivos de guerra, esperando que os ucranianos desistam de muito mais terras do que a Rússia conseguiu ocupar até agora."

Os comentários de Putin sobre um possível acordo de paz ocorrem no mesmo momento em que Kiev recebe uma nova onda de medidas destinadas por seus aliados ocidentais, incluindo um plano apoio continuado, com prazo de dez anos, com os Estados Unidos, e um pacote de ajuda de U$ 50 bilhões (R$ 270 bilhões), financiado com juros provenientes de bens russos congelados no exterior.

Putin também se manifestou sobre o plano de financiamento anunciado durante a cúpula do G7, na conversa com os diplomatas, classificando como "roubo" a destinação dos ativos russos. Quando o plano começou a ser discutido pelos ocidentais — algo que ganhou espaço na agenda paralela ao encontro de ministros de Finanças do G20, em São Paulo — o ministro russo das Finanças, Anton Siluanov, chegou a afirmar que Moscou responderia com "medidas simétricas".

"Apesar de todas as trapaças, roubo continua sendo roubo e não ficará impune", disse Putin aos funcionários da chancelaria.

O acordo bilateral entre EUA e Ucrânia, anunciado à margem do G7, também entrou na mira russa. A diplomacia de Moscou, em um pronunciamento oficial, minimizou a parceria de dez anos assinada pelos presidentes Joe Biden e Volodymyr Zelensky. Com condições similares à parceria celebrada com Israel, os EUA comprometem-se com o treinamento do Exército ucraniano, fornecimento de armas e outros equipamentos de defesa, organização de exercícios e cooperação na indústria de defesa.

"O fato é que [estes acordos] são apenas pedaços de papel (...). Estes acordos não são nada, não têm valor jurídico", declarou a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, citada pelas agências de notícias russas.

Embora autoridades americanas e ucranianas tenham celebrado a assinatura do acordo — em um comunicado, o governo americano chamou de "um poderoso sinal de nosso forte apoio à Ucrânia, agora e no futuro", enquanto Zelensky afirmou se tratar de uma "ponte" para o futuro na Otan —, há desconfiança sobre a manutenção do acordo, a depender do resultado das eleições americanas deste ano.

O pacto foi firmado em nível executivo, sem garantias de que outros presidentes seguirão seus termos, ao contrário do firmado com Israel, que foi discutido e aprovado pelo Congresso. Caso Donald Trump seja eleito em novembro, ele poderia rasgar o texto — como o fez com o acordo internacional sobre o programa nuclear do Irã, em 2018.

As tentativas para chegar à paz na Ucrânia, por via militar ou diplomática, falharam até o momento. O governo ucraniano convocou uma cúpula, chamada de Conferência para a Paz, que será realizada na Suíça a partir de amanhã, mas sem uma expectativa de avanço real, por não incluir uma delegação russa.

Em viagem à Europa, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou a realização da conferência sem a presença da Rússia e acusou os dois líderes do Leste Europeu de estarem "gostando da guerra".

"Se o Zelensky diz que não tem conversa com o Putin, e o Putin diz que não quer conversa com o Zelensky... ou seja, é porque eles estão gostando da guerra. Porque, senão, já tinham sentado para conversar e tentar encontrar uma solução pacífica", disse Lula.

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