Teste na arena de basquete: estádio pode ser desmontado para ser reerguido em outra cidade. (Divulgaçã/ London 2012)
Vanessa Barbosa
Publicado em 1 de setembro de 2011 às 17h06.
São Paulo - O sonho britânico de realizar as Olimpíadas mais verdes de que se tem notícia está se tornando realidade. Há pouco mais de um ano para a cerimônia de abertura, os estádios e arenas - erguidos dentro dos padrões da construção sustentável - já estão em fase de testes.
O segredo? “Dedicação à excelência para atingir objetivos”, afirma Michael A. Szomjassy, presidente da área ambiental da CH2M HILL.
A construtora americana integrou, junto com a Mace e Laing O'Rourkeo, o consórcio responsável pelo planejamento, design e construção da infraestrutura dos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Em entrevista à EXAME.com, Szomjassy avalia o desempenho da cidade sede em atingir metas e fala de suas expectativas para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro – que também pleiteia o título de Olimpíadas verdes.
EXAME.com - Como Londres está se saindo até agora?
Michael A. Szomjassy - O último centro esportivo em construção foi entregue há duas semanas, um ano antes das Olimpíadas. Isso diz muita coisa. Sob liderança da autoridade Olímpica, todas as equipes envolvidas no projeto, de empreitreiras a parceiros, trabalharam seguindo à risca um conjunto consistente de diretrizes e metas. Isso permitiu que todos ficassem alinhados com os obejtivos globais de sustentabilidade, de custos, segurança e cronograma.
EXAME.com - O que contribui para esse desempenho e qual o papel da pontualidade aí?
Michael A. Szomjassy - A construção sustentável não leva mais tempo do que a construção tradicional, mas a sustentabilidade tem que estar inserida em todo o processo do planejamento à operação. Agora, as chaves do sucesso estão no senso de liderança da cidade alinhado a uma visão clara, planejamento minucioso e excelente execução na fase de entrega, o que também permite reduzir custos.
EXAME.com - Quanto custa ser verde?
Michael A. Szomjassy - Ser verde não necessariamente custa mais. E o retorno a longo prazo sobre o investimento em edifícios e infra-estrutura sustentáveis é muitas vezes melhor do que o da construção por métodos tradicionais. Londres vai realizar as Olimpíadas mais sustentáveis, ainda assim o governo britânico informou recentemente que o custo final deverá ficar aproximadamente 3 bilhões de dólares abaixo do orçamento inicial, uma conquista inigualável, tendo em conta as condições econômicas do país.
EXAME.com - Quais ações e projetos britânicos podem inspirar o Brasil? Temos alguma vantagem sobre Londres?
Michael A. Szomjassy - O Rio tem um conjunto diferente de questões, que vai exigir soluções específicas. Em Londres, as obras de infra-estrutura se concentraram numa área principal [uma antiga região industrial com grave problema de terrenos contaminados], enquanto os Jogos no Rio se distribuirão por vários locais, que exigirão construção de estradas adicionais e outros elementos.
Além disso, todo projeto inglês foi gerenciado por uma entidade única de governo, enquanto o projeto brasileiro vai incorporar não só o Rio, mas governos estaduais e federal. Então, não podemos comparar as duas cidades, a não ser quando as obras estiverem concluídas.
EXAME.com - Que oportunidades verdes você enxerga no Rio?
Michael A. Szomjassy - Se a cidade quiser realizar os Jogos mais sustentáveis do mundo, como vem propondo, vai precisar superar o desempenho inigualável de Londres em 2012. No entanto, existem oportunidades maravilhosas para o Rio alcançar seus objetivos. A cidade tem uma abundância de recursos naturais e paisagens inspiradoras, que definem bem o palco. Tem também a vantagem de aprender com Londres, Sydney e outras sedes olímpicas anteriores. De toda forma, vai ser preciso ter visão, planejamento, educação, colaboração e uma dedicação à excelência para atingir os objetivos de sustentabilidade.
EXAME.com - Na sua opinião, que legado as Olimpíadas 2016 deixarão para o Rio?
Michael A. Szomjassy - Aqui, as oportunidades são semelhantes às de Londres: os estádios e centros desportivos deverão se tornar locais icônicos, para utilização a longo prazo pela população. E por estarem localizados em regiões economicamente deprimidas, há excelentes oportunidades para criar empregos e fornecer treinamento para mudar o ciclo da pobreza. Perspectiva clara e plano de ação serão determinantes para atingir estes objetivos.