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Reprimida durante 42 anos, cultura berbere explode no oeste líbio

Regime de Muammar Kadafi proibia qualquer manifestação da cultura; moradores da região querem ensinar língua para as crianças

Duas meninas em um curso de berbere para crianças: prática era proibida por Kadafi (Marco Longari/AFP)

Duas meninas em um curso de berbere para crianças: prática era proibida por Kadafi (Marco Longari/AFP)

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Da Redação

Publicado em 20 de julho de 2011 às 18h46.

Yefren, Líbia - "Azoul (bom dia). Vou ensinar a vocês a língua de seus avós". Com estas palavras, Sara Aboud ministra sua primeira aula de um curso de berbere para crianças de Yefren. A língua falada, que poderia enviar uma pessoa à prisão, no tempo no qual Muammar Kadafi reinava nas montanhas do oeste líbio, hoje é sinônimo de liberdade.

Desde que as aldeias berberes de Djebel Nefoussa se libertaram do jugo de Kadafi, sua cultura explodiu: no rádio, em jornais, associações, museus, canções, e nos cursos de língua 'amazigh'.

Nas paredes, começaram a aparecer verdadeiros desenhos geométricos coloridos, simbolizando os 'amazighs', como se chamam os berberes na região: dois semicírculos ligados por um traço para ilustrar a conexão da alma com o céu e a terra.

"Antes, éramos considerados cidadãos de segunda classe. Somos a origem deste país, e temos, a partir de agora, o direito de andar de cabeça alta", se inflama Taghrid Aboud, jovem do lar, de 22 anos.

Falar ou escrever em público, ler ou imprimir em língua 'amazigh': tudo isso, simplesmente, foi proibido pelo líder líbio que sempre reprimiu este povo presente no país antes da conquista árabe do século VII e conhecido por sua resistência militar à ocupação italiana do início do século XX.

No decorrer dos anos, sua língua passou a ser falada às escondidas para evitar a prisão; o alfabeto deixou de ser aprendido, assim como sua própria história, explica Sara Aboud, de 27 anos.

Agora, nessas aldeias, não podemos mais perder um minuto para fazer renascer essa identidade.

Em Jado ou em Yefren, as crianças frequentam aulas de amazigh várias vezes por semana. "Hoje, o mais importante é que eles aprendem a língua" para perpetuá-la, prossegue Sara Aboud que coordena os cursos.

Salah Kafu, 14 anos, é o mais assíduo. "Para mim isso significa construir o futuro".

Até os adultos retomam os cadernos de escola. Num antigo prédio do serviço secreto, transformado em museu, um pintor de Yefren registra inscrições 'amazighs' em afrescos nos quais Muammar Kadafi é representado como rato ou vampiro.

"Não posso parar de escrever! Tenho a impressão de renascer", desabafa o artista de 47 anos, que prefere não ter o nome divulgado.


Mazigh Buzukhar, que pagou o preço de seu ativismo berbere passando três meses na prisão, até ser libertado pela rebelião, dedica-se a transcrever contos transmitidos oralmente, ouvindo dos mais velhos e guardiães da tradição histórias de príncipes e princesas cheios de sabedoria.

"Durante 1.400 anos, nossa literatura foi, apenas, oral. Temos necessidade de preservá-la para as gerações futuras", comenta o jovem, de 29 anos.

Em Yefren, todos os documentos passaram a ser escritos em árabe e em berbere e todos querem que o 'amazigh' seja reconhecido como língua oficial numa futura Líbia sem Kadafi.

"Os sangues árabe e 'amazigh' se misturaram nos campos de batalha contra este tirano. Combatemos o mesmo inimigo, somos irmãos. E assim serão as coisas nos próximos 50 anos", comenta Salim Ahmed, apresentador da rádio de Jado que divulga programas nas duas línguas.

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