Reino Unido decide romper acordos com Hong Kong
A iniciativa britânica acontece em um momento de crescentes preocupações com uma nova lei de segurança nacional imposta pela China
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de julho de 2020 às 07h58.
Última atualização em 21 de julho de 2020 às 13h08.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson , anunciou nesta segunda-feira, 20, que o governo britânico vai alterar o tratado de extradição entre Reino Unido e Hong Kong por tempo indefinido. A iniciativa acontece em um momento de crescentes preocupações com uma nova lei de segurança nacional imposta por Pequim à ex-colônia britânica.
"Obviamente, temos preocupações sobre o que está acontecendo em Hong Kong", disse Johnson em entrevista à ITV News. O ministro das Relações Exteriores, Dominic Raab, justificou a decisão alegando que a lei de segurança imposta em Hong Kong "mudou consideravelmente" a maneira como seu sistema judicial funciona. "É uma violação clara e séria do tratado que organizou o retorno de Hong Kong a Pequim em 1997", disse Raab.
Segundo o chefe da diplomacia britânica, com a nova legislação, a China pode reivindicar "jurisdição sobre certos assuntos", que seriam então "apresentados aos tribunais chineses", o que contraria o acordo entre os dois países.
Raab também anunciou que o Reino Unido decidiu estender a Hong Kong o embargo de armas aplicado à China desde 1989. "A extensão deste embargo significa que não haverá mais exportação de armas potencialmente letais, seus componentes ou munições", explicou o ministro.
A decisão é tomada em meio a desacordos entre Londres e Pequim sobre variados temas, incluindo a decisão da Grã-Bretanha de barrar a gigante tecnológica chinesa Huawei de suas redes sem fio 5G e a crescente insatisfação pública na Grã-Bretanha pelo tratamento da minoria uigur em Xinjiang, uma região autônoma no território da China.
No domingo, 19, o embaixador chinês na Grã-Bretanha, Liu Xiaoming, foi entrevistado na BBC e foi confrontado com imagens que mostrariam uigures com os olhos vendados sendo forçados a entrar em trens. "Não existem campos de concentração em Xinjiang", disse. "Há muitas acusações falsas contra a China."
A iniciativa de Johnson teve apoio até da oposição. Keir Starmer líder do partido trabalhista britânico, disse ontem que suspender o tratado de extradição foi um "passo na direção certa", mas acrescentou que o governo deve impor barreiras a autoridades chinesas envolvidas em violações de direitos humanos. "Algumas das ações do governo (chinês) são profundamente preocupantes e não podemos fechar os olhos", disse Starmer, em um vídeo postado em sua conta no Twitter.
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, irá à Grã-Bretanha nesta semana para uma visita de dois dias, com a China e Hong Kong sendo um dos temas críticos do encontro com o governo local.
Britânicos mantinham um tratado de extradição com Hong Kong há décadas. Sob essa regra, as autoridades de Hong Kong poderiam pedir à Grã-Bretanha que extraditasse qualquer pessoa acusada de um crime e vice-versa. No entanto, a nova lei de segurança nacional que Pequim impôs a Hong Kong neste mês despertou preocupações crescentes de que a regra permita que extraditados pela Grã-Bretanha enfrentem punições excessivas. O Canadá e a Austrália já suspenderam tratados semelhantes.
Os residentes de Hong Kong desfrutavam de relativa liberdade de expressão sob a estrutura de "um país, dois sistemas" de Pequim. Agora, porém, a população de 7,5 milhões está sujeita às mesmas restrições que os chineses - qualquer um que seja considerado culpado de subversão pode enfrentar prisão perpétua.
O governo de Johnson já disse que ofereceria direitos de residência e um oportunidade para a cidadania britânica para até três milhões de cidadãos de Hong Kong. A China condenou a medida com o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, dizendo à Grã-Bretanha para "parar de interferir nos assuntos de Hong Kong e nos assuntos internos da China".
Há alguns anos, Londres e Pequim mantinham laços cada vez mais próximos, com muitos britânicos olhando para o comércio com a China como parte essencial do aspecto econômico pós-Brexit. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)