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Regime do Vietnã aumenta repressão a dissidentes

Um relatório revela que nos nove primeiros meses de 2016 foram condenados pelo menos 18 ativistas

Vietnã: dissidentes que seguem em liberdade lamentam a forte vigilância à qual são submetidos (Bjeayes/Thinkstock)

Vietnã: dissidentes que seguem em liberdade lamentam a forte vigilância à qual são submetidos (Bjeayes/Thinkstock)

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EFE

Publicado em 8 de dezembro de 2016 às 10h59.

Ho Chi Minh - O regime comunista do Vietnã respondeu ao aumento da contestação social dos últimos meses com prisões e vigilância contínua sobre os dissidentes, segundo organizações defensoras dos direitos humanos.

Um relatório da "Human Rights Watch" (HRW) revela que nos nove primeiros meses de 2016 foram condenados pelo menos 18 ativistas, entre eles Nguyen Huu Vinh, que deverá cumprir cinco anos de prisão por criticar o governo em seu blog.

A estatística da HRW não leva em conta a onda de detenções das últimas semanas, com dez ativistas detidos pela polícia desde o mês de outubro.

A de maior repercussão foi a de Nguyen Ngoc Nhu Quynh, chamada de "mãe cogumelo" (Me Nam, em vietnamita), uma mulher de 37 anos detida no dia 3 de outubro em casa diante de sua filha de 8 anos.

Segundo a imprensa local, Quynh é acusada de fazer propaganda contra o Estado por suas críticas ao governo nas redes sociais, crime previsto no Código Penal vietnamita.

Em novembro houve pelo menos outras cinco priões, entre elas a do popular Ho Van Hai, enquanto outros dissidentes que seguem em liberdade lamentam a forte vigilância à qual são submetidos.

"Não posso dar um passo sem que a polícia me siga", comenta à Agência Efe por Skype Pham Chi Dung, diretor do site crítico ao regime vietnamita "Thoi Bao" e presidente da Associação de Jornalistas Independentes.

Para Dung e outros analistas o aumento da repressão é um sinal de nervosismo do regime comunista perante o clima de contestação social que o país viveu nos últimos meses.

O estopim foi o vazamento tóxico que em abril matou 115 toneladas de peixes no litoral central do país e deixou sem sustento 200 mil pessoas, entre elas 40 mil pescadores.

Após quase três meses de silêncio, o governo reconheceu em 30 de junho que o responsável pelo vazamento de fenol, cianureto e hidróxido de ferro era o grupo Formosa, um conglomerado siderúrgico taiuanês que tem na região uma fábrica de aço, uma central energética e um porto exclusivo para suas operações.

O desastre provocou dezenas de manifestações em todo o país sem que a indenização de US$ 500 milhões estipulada entre a empresa e o regime de Hanói acalmasse os ânimos.

Durante o último grande protesto, em outubro, milhares de pessoas se reuniram em frente à sede do Formosa para exigir seu fechamento perante a impotência das autoridades.

Durante as semanas seguintes, a polícia deteve Nhu Quynh, Ho Van Hai e outros manifestantes que tinham divulgado nas redes sociais duras críticas ao Formosa e contra a gestão da crise ambiental por parte do governo.

A Anistia Internacional (AI) também denunciou o "assédio" sofrido pelo sacerdote Dang Huu Nam e outros dois ativistas envolvidos na organização das manifestações.

Segundo a AI, o clérigo, que orientou 506 pessoas a apresentar denúncias judiciais contra o Formosa pelos danos causados à população, recebe ameaças e está sob vigilância constante.

"Os três homens sofrem um risco iminente de serem detidos por propaganda contra o Estado", indica a organização em comunicado.

A AI estima que o Vietnã mantém pelo menos 82 prisioneiros de consciência, presos após julgamentos injustos.

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