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Recicle seus entes queridos com os funerais ecológicos

Superlotação no além impulsiona projetos que visam minimizar a quantidade de terra escriturada para os mortos

Mãos seguram adubo: em suma, objetivo é transformar os seres humanos em adubo (Justin Sullivan/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 30 de outubro de 2015 às 18h18.

Talvez você tenha ouvido falar recentemente de duas unidades disponíveis em Manhattan que custam cerca de US$ 188.300 por metro quadrado – um valor que bate o recorde imobiliário no bairro.

Sabe quais são? Aquelas onde as regras de moradia são tão estritas que você precisa estar morto para entrar.

Elas ficam no New York Marble Cemetery, no East Village, que está vendendo os dois últimos lotes para enterro disponíveis em Manhattan; cada um custa US$ 350.000. Talvez pareça absurdo, mas esse preço reflete as forças do mercado. Já praticamente não há espaço nos cemitérios de Nova York .

Essa superlotação no além também impulsionou uma ambiciosa startup do litoral oeste dos EUA: a Urban Death Project, em Seattle, que visa minimizar a quantidade de terra escriturada para os mortos.

Em suma, o objetivo é transformar os seres humanos em adubo. Imagine um centro de reciclagem humana de três andares, aonde as famílias poderiam colocar o cadáver de seus entes queridos para um sepultamento, e depois o corpo ficaria ali para se decompor em adubo, em uma mistura de aparas de madeira e palha.

Depois de algumas semanas, provavelmente meses, os restos iriam para os enlutados, que os utilizariam em um jardim ou terra. Os mortos poderiam fertilizar o solo, em vez de ocupá-los.

O antiquado lote familiar, ou abóbada, já não está agradando devido à falta de espaço. O aumento dos custos e as mudanças dos costumes contribuíram para que a cremação conquistasse adeptos nos últimos anos.

Embora a Associação Nacional de Diretores de Funerais estime que a cremação representará 71 por cento de todos os enterros por volta de 2030, em comparação com apenas 3,5 por cento em 1960, uma série de empresas está oferecendo alternativas ao sepultamento tradicional que minimizam o nosso impacto tanto sobre o mercado imobiliário quanto sobre o meio ambiente.

Biodegradação

Susanne Wiigh-Mäsak mora na Suécia, onde o número de cremações é maior que o de enterros, mas há tempos ela decidiu conceber um desenlace final melhor. Wiigh-Mäsak, que anteriormente se dedicava à biologia marinha, patenteou em 1998 o sistema Promessa, que acelera a biodegradação.

Ela passou os 17 anos seguintes lutando contra obstáculos regulatórios em seu país natal, mas começará a construir a primeira instalação do sistema Promessa (apelidada de Promatorium) em outro lugar no norte europeu no próximo mês.

“O método original de enterro neste planeta era de quando sucumbíamos na floresta. Os carnívoros sentiam o cheiro de algo e eram puro dente. Eles dividiam um cadáver em pequenas partes, que acabavam se transformando em solo”, disse ela, em entrevista por telefone, da pequena ilha Lyr, perto de Gotemburgo. “Como fazer então para dividir um corpo em pequenos pedaços sem se sentir ofendido?”.

Promessa, seu sistema automatizado, consiste em submeter o corpo a um processo de congelamento rápido com nitrogênio líquido (Wiigh-Mäsak continua tendo um impacto ambiental neutro ao usar gás produzido como bioproduto do setor de tanques de oxigênio) e depois agitá-lo suavemente. “Isso faz com que o corpo se quebre espontaneamente”, disse ela.

“A beleza do processo é que você pode ver como ele ocorre sem se assustar. Ele cria uma nuvem temporária de pequenos pedaços congelados ao redor”.

Os pedaços resultantes são secados e enterrados com aparas de madeira em um caixão; sob as condições normais de umidade, os restos se tornam solo dentro de um ano. O lote da sepultura pode ser reutilizado com segurança depois de um período respeitoso de inatividade.

Outra alternativa ecológica que já está disponível em diversos estados dos Estados Unidos é a Resomation. Inventada pelo bioquímico escocês Sandy Sullivan e apelidada de “cremação ecológica”, esse processo submerge o cadáver em uma mistura de hidróxido de potássio e água quente para acelerar a decomposição natural.

Poucas horas depois, o tecido mole se transforma em um líquido não tóxico parecido com cerveja amarga ou chá preto; após reduzir a alcalinidade, ele pode ser deposto no sistema geral de água residual.

Os restos do esqueleto são então pulverizados, como ocorre no fim da cremação com fogo, e devolvidos à família como as “cinzas” comuns.

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Talvez você tenha ouvido falar recentemente de duas unidades disponíveis em Manhattan que custam cerca de US$ 188.300 por metro quadrado – um valor que bate o recorde imobiliário no bairro.

Sabe quais são? Aquelas onde as regras de moradia são tão estritas que você precisa estar morto para entrar.

Elas ficam no New York Marble Cemetery, no East Village, que está vendendo os dois últimos lotes para enterro disponíveis em Manhattan; cada um custa US$ 350.000. Talvez pareça absurdo, mas esse preço reflete as forças do mercado. Já praticamente não há espaço nos cemitérios de Nova York .

Essa superlotação no além também impulsionou uma ambiciosa startup do litoral oeste dos EUA: a Urban Death Project, em Seattle, que visa minimizar a quantidade de terra escriturada para os mortos.

Em suma, o objetivo é transformar os seres humanos em adubo. Imagine um centro de reciclagem humana de três andares, aonde as famílias poderiam colocar o cadáver de seus entes queridos para um sepultamento, e depois o corpo ficaria ali para se decompor em adubo, em uma mistura de aparas de madeira e palha.

Depois de algumas semanas, provavelmente meses, os restos iriam para os enlutados, que os utilizariam em um jardim ou terra. Os mortos poderiam fertilizar o solo, em vez de ocupá-los.

O antiquado lote familiar, ou abóbada, já não está agradando devido à falta de espaço. O aumento dos custos e as mudanças dos costumes contribuíram para que a cremação conquistasse adeptos nos últimos anos.

Embora a Associação Nacional de Diretores de Funerais estime que a cremação representará 71 por cento de todos os enterros por volta de 2030, em comparação com apenas 3,5 por cento em 1960, uma série de empresas está oferecendo alternativas ao sepultamento tradicional que minimizam o nosso impacto tanto sobre o mercado imobiliário quanto sobre o meio ambiente.

Biodegradação

Susanne Wiigh-Mäsak mora na Suécia, onde o número de cremações é maior que o de enterros, mas há tempos ela decidiu conceber um desenlace final melhor. Wiigh-Mäsak, que anteriormente se dedicava à biologia marinha, patenteou em 1998 o sistema Promessa, que acelera a biodegradação.

Ela passou os 17 anos seguintes lutando contra obstáculos regulatórios em seu país natal, mas começará a construir a primeira instalação do sistema Promessa (apelidada de Promatorium) em outro lugar no norte europeu no próximo mês.

“O método original de enterro neste planeta era de quando sucumbíamos na floresta. Os carnívoros sentiam o cheiro de algo e eram puro dente. Eles dividiam um cadáver em pequenas partes, que acabavam se transformando em solo”, disse ela, em entrevista por telefone, da pequena ilha Lyr, perto de Gotemburgo. “Como fazer então para dividir um corpo em pequenos pedaços sem se sentir ofendido?”.

Promessa, seu sistema automatizado, consiste em submeter o corpo a um processo de congelamento rápido com nitrogênio líquido (Wiigh-Mäsak continua tendo um impacto ambiental neutro ao usar gás produzido como bioproduto do setor de tanques de oxigênio) e depois agitá-lo suavemente. “Isso faz com que o corpo se quebre espontaneamente”, disse ela.

“A beleza do processo é que você pode ver como ele ocorre sem se assustar. Ele cria uma nuvem temporária de pequenos pedaços congelados ao redor”.

Os pedaços resultantes são secados e enterrados com aparas de madeira em um caixão; sob as condições normais de umidade, os restos se tornam solo dentro de um ano. O lote da sepultura pode ser reutilizado com segurança depois de um período respeitoso de inatividade.

Outra alternativa ecológica que já está disponível em diversos estados dos Estados Unidos é a Resomation. Inventada pelo bioquímico escocês Sandy Sullivan e apelidada de “cremação ecológica”, esse processo submerge o cadáver em uma mistura de hidróxido de potássio e água quente para acelerar a decomposição natural.

Poucas horas depois, o tecido mole se transforma em um líquido não tóxico parecido com cerveja amarga ou chá preto; após reduzir a alcalinidade, ele pode ser deposto no sistema geral de água residual.

Os restos do esqueleto são então pulverizados, como ocorre no fim da cremação com fogo, e devolvidos à família como as “cinzas” comuns.

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