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Reaproximação com a Líbia: aposta perdida da Europa

Diversas lideranças do continente tentaram criar laçõs diplomáticos com o regime de Kadafi

Kadafi (esquerda) e Berlusconi: líderes europeus tentaram uma reaproximação com Kadafi (Giorgio Cosulich/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 9 de março de 2011 às 19h48.

Bruxelas - Da recepção com pompa na França de Kadafi, em 2007, ao acordo histórico de 2008 entre Roma e Trípoli, os europeus apostaram durante muito tempo na reaproximação com a Líbia, na esperança de que aquele país os ajudasse a lutar contra o islamismo radical e a imigração, principalmente.

A Líbia esteve longo tempo banida da comunidade internacional, acusada de apoiar o terrorismo e ser responsável por atentados contra um avião americano em Lockerbie (270 mortos em 1988) e uma aeronave francesa sobre o Níger (170 mortos em 1989). Em outubro de 2004, a União Europeia levantou as sanções comerciais contra o país.

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- Itália: Só ele, o presidente do Conselho italiano, Silvio Berlusconi, encontrou-se onze vezes Muamar Kadafi. Em 2008, assinou um tratado de amizade e de cooperação, destinado a pôr um ponto final nas diferenças entre a Líbia e sua antiga potência colonial. Para solucionar as contas da colonização italiana (1911-1942), Silvio Berlusconi comprometeu-se a repassar 5 bilhões de dólares de indenizações em 25 anos sob a forma de investimentos.

Da UniCredit à Finmeccanica, passando pela ENI ou pelo clube de futebol Juventus de Turim, o regime do coronel Kadafi recebeu investimentos das empresas da península que pôde contar, em contrapartida, com o petróleo líbio e contratos suculentos.

Kadafi foi recebido com fausto em Roma, em agosto de 2010. A visita foi marcada pelos caprichos do guia da Revolução líbia que exigiu, principalmente, conceder uma entrevista a uma centena de jovens mulheres escolhidas por seu físico.

- França: Em novembro de 2004, o então presidente francês Jacques Chirac foi o primeiro a visitar Trípoli desde a independência do país, em 1951.

Seu sucessor Nicolas Sarkozy foi o primeiro a desenrolar o tapete vermelho para Kadafi recebendo-o suntuosamente em Paris, em dezembro de 2007, cinco meses após a libertação de cinco enfermeiras búlgaras, detidas durante seis anos em prisões líbias.

Paris e Trípoli assinaram, então, contratos avaliados em dezenas de bilhões de euros, com a promessa de venda de um ou vários reatores nucleares e de 21 Airbus.

- Grã-Bretanha: Em agosto de 2009, o líbio Abdelbaset al-Megrahi, condenado à prisão perpétua pelo atentado de Lockerbie, foi libertado oficialmente por motivos humanitários pela Escócia, motivando uma grande polêmica. Parlamentares americanos ainda acusam Edimburgo de ter cedido a pressões do grupo petrolífero BP, preocupado em ver melhorar as relações com Trípoli para poder assinar contratos.

- Áustria: a relação entre a Áustria e a Líbia tomou uma nova dimensão com Jörg Haider, chefe histórico da extrema-direita austríaca, falecido em 2008. Ele chegou a fazer amizade com um dos filhos de Kadafi, Seïf al-Islam, então estudante numa universidade privada de Viena. Haider foi hóspede de Kadafi várias vezes em sua tenda de beduíno.

- UE: A União Europeia iniciou, no final de 2008, negociações com Trípoli, que passou a deter o estatuto de observador, como parte de uma parceria euro-mediterrânea. A UE comprometeu-se a repassar 60 milhões de euros à Líbia, entre 2011 e 2013, para "modernizar" sua economia, mas esta verba só ficou na promessa.

Em outubro passado, foi concluído um "programa de cooperação" com Trípoli para lutar contra a imigração clandestina. A última reunião de cúpula UE-África, em novembro de 2010, foi realizada na capital líbia.

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