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Raúl Castro deixa Presidência com reformas pendentes e incertezas

Raúl se prepara para deixar a Presidência nesta semana e entregar o poder a uma geração mais jovem de líderes comunistas

Raúl Castro: Raúl adotou algumas novas liberdades sociais ao assumir o cargo de seu irmão mais velho e então doente Fidel Castro em 2008 (Sven Creutzmann/Pool/Reuters)

Raúl Castro: Raúl adotou algumas novas liberdades sociais ao assumir o cargo de seu irmão mais velho e então doente Fidel Castro em 2008 (Sven Creutzmann/Pool/Reuters)

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Reuters

Publicado em 17 de abril de 2018 às 10h15.

Havana - A maior parte da família de Camilo Condis, de 32 anos, emigrou da Cuba comunista para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor, mas ele decidiu ficar depois que Raúl Castro se tornou presidente uma década atrás e prometeu mudanças.

Em busca de tornar o socialismo sustentável, Raúl introduziu algumas reformas de mercado na economia estatizada e obteve uma reaproximação histórica com os EUA. Ele facilitou as viagens dos cubanos, permitiu que tenham propriedades, celulares e computadores e ampliou o acesso à internet.

Condis, que se formou na universidade em 2011, o ano em que Raúl anunciou a maioria das reformas, hoje está bem estabelecido na capital Havana, onde trabalha em um restaurante do incipiente setor privado cubano e aluga um apartamento. Ele navega na internet diariamente e já viajou para fora da ilha caribenha.

Mas mesmo Condis, que se beneficiou das mudanças mais do que a maioria dos cubanos, está preocupado com o futuro agora que Raúl se prepara para deixar a Presidência nesta semana e entregar o poder a uma geração mais jovem de líderes comunistas.

"Decidi que podia apostar em um bom futuro aqui", disse Condis em uma rua cheia de cafeterias e lojas particulares, um fruto das mudanças. "Mas há muita incerteza".

Como a maioria dos cubanos, sua maior preocupação é a economia debilitada, que continua um terço menor do que era em 1985, quando recebia subsídios da aliada União Soviética, de acordo com Pavel Vidal, ex-economista do Banco Central de Cuba.

Raúl adotou algumas novas liberdades sociais ao assumir o cargo de seu irmão mais velho e então doente Fidel Castro em 2008, mas mantendo o sistema de partido único, que tem o monopólio da mídia e pouca tolerância com a dissidência pública.

Na economia, seu governo só implantou uma fração das reformas de mercado planejadas, cuja meta é aprofundar uma abertura que Fidel iniciou após o colapso soviético em 1991, e até voltou atrás em algumas.

Aqueles que comemoraram as novidades propostas culparam a resistência do partido a mudanças e a burocracia entranhada à medida que a desigualdade social crescia e o controle estatal diminuía.

"Ele criou as linhas principais, as instituições, mas o que não conseguiu fazer foi acabar com a mentalidade antiga", opinou Carlos Alzugaray, diplomata cubano aposentado.

Mais de dois terços de seus compatriotas trabalham no ineficaz setor estatal, ganhando em média 30 dólares por mês, mas a educação e o sistema de saúde gratuitos e alguns alimentos e moradias subsidiados compensam os salários baixos até certo ponto.

Em entrevistas feitas em todo o país, cubanos disseram à Reuters que estão lutando para sobreviver. As viagens e o acesso à internet a 1 dólar por hora são luxos que a maioria não pode se dar.

Os benefícios da abertura econômica se concentraram no setor de serviços particulares nas cidades, especialmente Havana, onde a melhoria das relações com Washington estimulou o turismo.

Mas mesmo neste setor as oportunidades se reduziram no ano passado, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, reverteu parcialmente a reaproximação, e os sinais são de que estas serão alvo de regulamentações mais rígidas.

A economia cresceu em média 2,4 por cento ao ano na última década, de acordo com as estatísticas oficiais. Em 2014 o governo disse ser necessário um crescimento anual de ao menos 7 por cento para desenvolver o país. E as exportações estagnaram.

Nova Cuba?

Alguns analistas dizem que Raúl pode ter perdido uma oportunidade histórica para realizar mudanças, dada sua autoridade como líder da revolução de 1959, e outros dizem que seu legado está em jogo.

Muito dependerá do caminho seguido por seu sucessor --que deve ser Miguel Díaz-Canel, de 57 anos-- e de quanto Raúl continuará exercendo influência na formulação de políticas na condição de líder do Partido Comunista até 2021.

Embora críticos tenham visto só mais um Castro quando Raúl assumiu o lugar de seu irmão mais carismático, que morreu em recolhimento em 2016, sua ascensão foi vista por alguns como um raio de esperança em reformas.

Antes considerado um stalinista implacável, Raúl se tornou mais pragmático aos olhos de muitos depois do colapso soviético, que levou Cuba à beira do caos econômico.

Ele era ministro da Defesa à época, e os militares foram a primeira instituição cubana desde a revolução a adotar práticas de negócio capitalistas, passando a gerenciar grandes parcelas da economia.

Como presidente, Raúl reduziu a folha de pagamento estatal inchada, arrendou terras improdutivas e expandiu o setor privado.

O número de cubanos trabalhando por conta própria mais do que triplicou, chegando a cerca de 580 mil de uma população total de mais de 11 milhões de habitantes.

Raúl também supervisionou a criação de um parque industrial de estilo chinês e impulsionou uma nova lei que ofereceu cortes de impostos a investidores estrangeiros.

Para promover a reintegração da ilha nos mercados globais, ele renegociou sua dívida externa, conseguindo que o Clube de Paris perdoasse 76 por cento de suas obrigações oficiais de 11,1 bilhões de dólares.

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