Mariano Rajoy e Angela Merkel: ''Acho que todos temos que entender que nenhum país quer impor algo difícil a outro simplesmente porque sim'', disse Merkel (Pierre-Philippe Marcou/AFP)
Da Redação
Publicado em 6 de setembro de 2012 às 21h17.
Madri - A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, ratificou nesta quinta-feira seu apoio ao programa de ajustes e reformas do governo espanhol de Mariano Rajoy, que voltou a deixar no ar a possibilidade de pedir ajuda financeira à UE e reivindicou a autonomia de seu Executivo e dos passos que está dando.
Rajoy recebeu pela primeira vez Merkel em Madri, e ambos concederam em entrevista coletiva enquanto o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, detalhava em Frankfurt o plano deste órgão para comprar títulos da dívida soberana e aliviar a pressão dos mercados sobre alguns países do euro, como a Espanha.
Rajoy não pôde ouvir suas palavras ao vivo, e fontes do Executivo insistiram depois que o governo agirá com calma e ''prudência'' antes de decidir se solicitará ajuda, e que estudará o plano do BCE e suas possíveis consequências para a Espanha e o euro antes de dar algum passo. Ainda segundo as fontes, a Espanha está cumprindo as exigências em função de seu déficit, e por isso não vê necessidade de ''novas condições''.
Merkel disse que não tinha viajado para Madri para dizer a Rajoy ''quais reformas a Espanha tem que fazer'', e expressou seu ''profundo respeito'' e confiança nas medidas de ajuste e nas reformas estruturais realizadas. Ela se declarou ''profundamente convencida'' de que ''o caminho empreendido é o correta'', embora os frutos demorem a chegar.
''Acho que todos temos que entender que nenhum país quer impor algo difícil a outro simplesmente porque sim. Não se trata de complicar a vida dos demais'', acrescentou Merkel antes de explicar que o objetivo da UE é que, dentro de 20 anos, a Europa seja um continente levada a sério pelo resto do mundo.
Na mesma linha, Rajoy manifestou que, além de atender as recomendações da UE, seu governo adota as iniciativas que acredita que são necessárias para a recuperação econômica e a criação de empregos.
Durante o almoço de trabalho que teve com Merkel, Rajoy detalhou seu programa e ressaltou que a ''Espanha demonstrou determinação e responsabilidade'' com a UE ao aplicar uma ''profunda'' estratégia de consolidação fiscal e uma agenda de reformas ''audaz e sem comparação''.
Nenhum dos dois comentou sobre os planos do BCE, alegando que o desconheciam, e Rajoy recusou se pronunciar sobre a possibilidade de solicitar ajuda financeira à Europa até que haja ''alguma novidade''. Por sua vez, Merkel disse que na reunião não houve conversas sobre ''possíveis condições'' para a Espanha receber essa ajuda.
No entanto, ela declarou que enquanto o BCE se responsabilizar pela estabilidade do euro, os governos devem fazer ''os deveres políticos'' e aplicar suas reformas ''de forma crível''.
Merkel reiterou também seu compromisso com o euro e apostou em avançar rumo à união bancária e tributária para tomar decisões concretas no Conselho Europeu de dezembro, em linha com o governo de Rajoy.
Segundo este, os dois concordam que a pressão sofrida pela dívida espanhola não responde aos fundamentos de sua economia nem aos esforços feitos pelo país, e ambos estão decididos a fazer ''tudo o que for necessário'' para resolver de forma definitiva a crise do euro e dissipar as dúvidas dos mercados sobre a continuidade da moeda única.