Exame Logo

Queda da família Espírito Santo atinge paraíso português

Aldeia portuguesa pode sofrer graves consequências pela queda do império da família Espírito Santo, que poderá vender terras que comprou nos anos 1950

Praia de Comporta: alguns dos quase 1.200 moradores estão começando a achar que o pior ainda está por vir (Bunks/Wikimedia Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2014 às 18h13.

Comporta -Luís Rocha chegou à aldeia portuguesa de Comporta com dois anos de idade e começou a trabalhar nos arrozais da região antes de completar dez.

Cerca de duas décadas depois, ele foi contratado pela família Espírito Santo , que comprou a terra cultivável no final da década de 1950.

Entre idas e vindas enquanto carregava sacas de arroz de cem quilos, Rocha observava como a região ao redor, com praias arenosas e cabanas de pescadores, se transformava na área de lazer de uma das dinastias mais ricas de Portugal e das subsequentes multidões de turistas ricos.

Agora, o último capítulo nessa história entrelaçada está se desenrolando. Enquanto os credores passam o pente fino nas ruínas do maior colapso corporativo do país em uma geração, há algumas semanas Rocha percebeu que o nome do banco da família, Banco Espírito Santo SA, estava sendo retirado.

“Alguns homens vieram e mudaram o nome para Novo Banco”, disse Rocha, um pensionista de 86 anos que gosta de deixar o tempo passar conversando com os amigos nos degraus da agência sob o sol do começo do inverno boreal.

“Estão dizendo que a família terá que vender a terra. As pessoas vão perder o emprego”.

Portugal está lutando para sair de um dos períodos mais sombrios da sua história financeira.

O país completou um programa internacional de resgate de três anos em maio, mas acabou tendo que resgatar o Banco Espírito Santo por 4,9 bilhões de euros (US$ 6,1 bilhões) três meses depois.

Alguns dos quase 1.200 moradores de Comporta estão começando a achar que, para eles, o pior ainda está por vir.

Rede de empresas

O Grupo Espírito Santo da família utilizou o banco para financiar uma rede de companhias controladoras com negócios como uma fazenda de soja no Paraguai, uma mina de diamantes em Angola e imóveis no Brasil. E também a Herdade da Comporta, empresa dona de terras cultiváveis, arrozais e casas e complexos hoteleiros ainda sem terminar.

“Muitos de nós não entendemos o que aconteceu, mas todos nós estamos tristes”, disse Isidora Valentim, dona da única loja de conveniência em Comporta, do lado de jornais que ainda têm o nome Espírito Santo na primeira página. “É como se compartilhássemos a dor deles”, disse ela.

A Rioforte Investments SA, parte do Grupo Espírito Santo, agora está procurando vender a Herdade da Comporta. A família está buscando uma “solução rápida”, disse Caetano Espírito Santo Beirão da Veiga, quem dirige algumas das empresas desde que o banco colapsou, em entrevista no dia 21 de novembro.

A família Espírito Santo, cujo papel nas finanças portuguesas data de 1869, quando José Maria do Espírito Santo e Silva começou a comercializar títulos de crédito e bilhetes de loteria em uma pequena rua de Lisboa, tem ido ao cafundó rural desde que adquiriu a plantação de arroz.

Os moradores da zona acabaram dependendo da generosidade da última dinastia bancária de Portugal, uma das maiores proprietárias de terras do país, para conseguir empregos diretamente na terra ou indiretamente, com a abertura de hotéis e lojas para atender o fluxo de visitantes ricos.

Pagar aos credores

Muitos componentes do império comercial pediram proteção dos credores e agora estão sendo preparados para serem vendidos a fim de pagar dívidas. Entre eles está a própria Rioforte, que em 10 de outubro decidiu vender uma participação de 51 por cento na operadora portuguesa de hospitais Espírito Santo Saúde à Fosun Group, com sede em Xangai.

A Rioforte estimou em sua declaração de lucros de 2013 que os imóveis em Comporta e seus ativos valem 174 milhões de euros.

“No final, a meta é tentar vender tudo e quitar os credores”, disse Beirão da Veiga na entrevista. Há interesse na Herdade da Comporta e “quem comprá-la vai recomeçar as obras de construção”, disse ele.

“Sinto pena daqueles que trabalharam duro para construir todas essas empresas e acabaram vendo elas desmoronarem em questão de meses”, disse Rocha, derramando uma lágrima. “Mas é só a opinião de um velho agricultor que não sabe ler nem escrever”.

Veja também

Comporta -Luís Rocha chegou à aldeia portuguesa de Comporta com dois anos de idade e começou a trabalhar nos arrozais da região antes de completar dez.

Cerca de duas décadas depois, ele foi contratado pela família Espírito Santo , que comprou a terra cultivável no final da década de 1950.

Entre idas e vindas enquanto carregava sacas de arroz de cem quilos, Rocha observava como a região ao redor, com praias arenosas e cabanas de pescadores, se transformava na área de lazer de uma das dinastias mais ricas de Portugal e das subsequentes multidões de turistas ricos.

Agora, o último capítulo nessa história entrelaçada está se desenrolando. Enquanto os credores passam o pente fino nas ruínas do maior colapso corporativo do país em uma geração, há algumas semanas Rocha percebeu que o nome do banco da família, Banco Espírito Santo SA, estava sendo retirado.

“Alguns homens vieram e mudaram o nome para Novo Banco”, disse Rocha, um pensionista de 86 anos que gosta de deixar o tempo passar conversando com os amigos nos degraus da agência sob o sol do começo do inverno boreal.

“Estão dizendo que a família terá que vender a terra. As pessoas vão perder o emprego”.

Portugal está lutando para sair de um dos períodos mais sombrios da sua história financeira.

O país completou um programa internacional de resgate de três anos em maio, mas acabou tendo que resgatar o Banco Espírito Santo por 4,9 bilhões de euros (US$ 6,1 bilhões) três meses depois.

Alguns dos quase 1.200 moradores de Comporta estão começando a achar que, para eles, o pior ainda está por vir.

Rede de empresas

O Grupo Espírito Santo da família utilizou o banco para financiar uma rede de companhias controladoras com negócios como uma fazenda de soja no Paraguai, uma mina de diamantes em Angola e imóveis no Brasil. E também a Herdade da Comporta, empresa dona de terras cultiváveis, arrozais e casas e complexos hoteleiros ainda sem terminar.

“Muitos de nós não entendemos o que aconteceu, mas todos nós estamos tristes”, disse Isidora Valentim, dona da única loja de conveniência em Comporta, do lado de jornais que ainda têm o nome Espírito Santo na primeira página. “É como se compartilhássemos a dor deles”, disse ela.

A Rioforte Investments SA, parte do Grupo Espírito Santo, agora está procurando vender a Herdade da Comporta. A família está buscando uma “solução rápida”, disse Caetano Espírito Santo Beirão da Veiga, quem dirige algumas das empresas desde que o banco colapsou, em entrevista no dia 21 de novembro.

A família Espírito Santo, cujo papel nas finanças portuguesas data de 1869, quando José Maria do Espírito Santo e Silva começou a comercializar títulos de crédito e bilhetes de loteria em uma pequena rua de Lisboa, tem ido ao cafundó rural desde que adquiriu a plantação de arroz.

Os moradores da zona acabaram dependendo da generosidade da última dinastia bancária de Portugal, uma das maiores proprietárias de terras do país, para conseguir empregos diretamente na terra ou indiretamente, com a abertura de hotéis e lojas para atender o fluxo de visitantes ricos.

Pagar aos credores

Muitos componentes do império comercial pediram proteção dos credores e agora estão sendo preparados para serem vendidos a fim de pagar dívidas. Entre eles está a própria Rioforte, que em 10 de outubro decidiu vender uma participação de 51 por cento na operadora portuguesa de hospitais Espírito Santo Saúde à Fosun Group, com sede em Xangai.

A Rioforte estimou em sua declaração de lucros de 2013 que os imóveis em Comporta e seus ativos valem 174 milhões de euros.

“No final, a meta é tentar vender tudo e quitar os credores”, disse Beirão da Veiga na entrevista. Há interesse na Herdade da Comporta e “quem comprá-la vai recomeçar as obras de construção”, disse ele.

“Sinto pena daqueles que trabalharam duro para construir todas essas empresas e acabaram vendo elas desmoronarem em questão de meses”, disse Rocha, derramando uma lágrima. “Mas é só a opinião de um velho agricultor que não sabe ler nem escrever”.

Acompanhe tudo sobre:BancosBESEmpresasEmpresas portuguesasEuropaPiigsPortugalTerras

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mundo

Mais na Exame